Os pais devem ensinar aos filhos, desde cedo, que o propósito de qualquer trabalho deve ser beneficiar os outros e também si mesmos.
Os pais devem ensinar aos filhos, desde cedo, que o propósito de qualquer trabalho deve ser beneficiar os outros e também si mesmos.| Foto: Filip Urban/Unsplash

No texto anterior, vimos que é por meio da educação e incentivo dos pais que os filhos vencem o egocentrismo e, aos poucos, se tornam pessoas mais generosas e, consequentemente, mais alegres. Hoje, vamos conhecer uma outra virtude que também deve ser incentivada nos filhos, já que se opõe, principalmente, à preguiça e à ociosidade: a laboriosidade.  

A palavra labor significa trabalho, esforço, serviço. No entanto, enquanto virtude, a laboriosidade não pode ser apenas o ato de realizar um trabalho, no sentido de fazer por fazer. Vai muito além disso. Viver a virtude da laboriosidade é fazer o que deve ser feito com compromisso, responsabilidade, zelo e, principalmente, propósito.  

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Segundo a psicóloga clínica e orientadora familiar, especialista em neuropsicologia, educação e desenvolvimento familiar e pessoal Lelia Cristina de Melo, os pais devem ensinar aos filhos, desde cedo, que o propósito de qualquer trabalho deve ser beneficiar os outros e também si mesmos. "Todo trabalho, todo labor, deve ter esse objetivo de melhorar a vida dos que estão ao redor", afirma. "É por isso que o trabalho desenvolve a sociedade".  

A pessoa laboriosa está sempre pronta para colaborar com sua própria vida e com a vida daqueles que a cercam e, por isso, é um serviço contínuo. "Viemos a esse mundo para trabalhar, não para ir ao shopping", brinca Lelia, salientando que ter momentos de distração e descanso é fundamental para, inclusive, voltar ao trabalho com mais disposição para servir. "A laboriosidade cansa a pessoa e isso é bom. É muito bom ir dormir depois de um cansaço de um dia em que ela serviu".

Preguiça e ociosidade 

Em contrapartida, se tem uma coisa que costuma desgastar a relação entre pais e filhos dentro de casa são as ordens e pedidos constantemente não atendidos de tarefas. "Eu já pedi não sei quantas vezes", "você não faz nada", "será que vou ter que implorar para você fazer" e por aí vai. Pais de adolescentes, principalmente, passam por isso com mais frequência.  

A preguiça e a ociosidade são péssimos vícios em qualquer idade porque nos levam, inevitavelmente, a uma vida medíocre. De acordo com a especialista, ter preguiça não significa somente não fazer nada, significa fazer só o que gosta, como e quando gosta. "A pessoa fica atrás do próprio prazer, realiza atividades somente de acordo com o desejo. É uma procura imatura". E o pior: a preguiça também atrapalha o desenvolvimento humano. 

"Uma pessoa preguiçosa e ociosa está indo contra a própria natureza porque o corpo, a mente e o espírito pedem uma atividade serviçal, produtiva, que melhore o seu entorno", aponta Lelia. Por isso, não ajudar os filhos a desenvolver a virtude da laboriosidade é correr o sério risco de que eles se tornem pessoas mais tristes, mais frágeis e menos realizadas.

Quando começar a ensinar  

Desde cedo, é importante que os pais ajudem os filhos a treinar, de alguma maneira, todas as virtudes. E a laboriosidade é uma delas. Lelia sugere que, a partir dos 2 anos, os pais comecem a inserir pequenas responsabilidades na rotina dos filhos. 

"É claro que, quanto menor a criança, mais brincadeira, mais diversão e menos trabalho", salienta. Mas inserir pequenas tarefas em sua rotina – e ir aumentando-as gradativamente de acordo com a idade – dá aos filhos uma boa autoestima porque eles percebem que são úteis, que conseguiram, que serviram, que ajudaram. "Criança sente muita satisfação quando vê que sabe, que consegue, que foi ela quem fez", afirma.  

Além do mais, "os pais não podem servir, servir, servir os filhos, dar na mão, favorecer, facilitar e achar que esses filhos serão laboriosos depois, pelo contrário, serão egocentrados e vão ter muita preguiça. Porque não treinaram a musculatura da capacidade de servir". 

De acordo com a psicóloga, crianças muito ansiosas, que fazem muitas birras e frequentemente desobedecem os pais, provavelmente não estão tendo seu tempo devidamente preenchido e nem suas habilidades devidamente exigidas. "A criança está ali com o cérebro novo, pronto para fazer e para aprender. E qual a melhor maneira de aprender senão fazendo coisas?"

Atividades para cada faixa etária

Lelia sugere algumas atividades que podem ser inseridas na rotina das crianças aos poucos, observando a faixa etária, e que auxiliam na formação da virtude da laboriosidade na vida das crianças.

Para crianças de 2 a 3 anos:  

  • Guardar brinquedos;
  • Colocar um objeto no lugar;
  • Colocar livros em prateleiras baixas;
  • Levar um recadinho;
  • Jogar a fralda na lixeira; 
  • Ajudar a organizar as peças de roupa na gaveta, 
  • Levar o prato até a pia.

Para crianças de 4 a 5 anos: 

  • Alimentar os animais domésticos;
  • Regar plantas;
  • Organizar e limpar o ambiente após brincar; 
  • Arrumar a sua mochila para a escola; 
  • Levar roupa suja ao cesto,
  • Preparar pratos simples.

Para crianças de 6 a 7 anos:  

  • Dobrar roupas; 
  • Retirar louça da máquina;
  • Regar jardim; 
  • Fazer salada e pratos simples; 
  • Varrer ou aspirar um ambiente, 
  • Retirar o lixo.

Para crianças de 8 a 9 anos: 

  • Carregar sacolas; 
  • Tirar pó;
  • Recolher pratos e limpar a mesa;
  • Guardar as suas roupas e as dos demais; 
  • Lavar a louça;
  • Arrumar a cama, 
  • Ajudar a cuidar dos irmãos menores. 

Para crianças de 10 a 11 anos:  

  • Lavar banheiros;
  • Aspirar a casa;
  • Passear com o cachorro;
  • Limpar e organizar o quarto,
  • Ajudar nas lições dos irmãos.
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