Cerimônia emocionante aconteceu no último dia 5 de abril, no Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo.
Cerimônia emocionante aconteceu no último dia 5 de abril, no Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo.| Foto: Arquivo Pessoal/Gabriela Palheta

Estava quase tudo pronto para a cerimônia de seu casamento que aconteceria em 23 de maio deste ano, mas a piora do estado de saúde de seu pai fez com que a estudante Gabriela Caldeira Palheta, de 22 anos, abrisse mão de todos os outros detalhes só para que esse dia fosse verdadeiramente completo para ela e sua família.

Gabriela e seu pai, o piloto de avião Glauco Palheta, de 56 anos, entraram juntos na cerimônia que foi antecipada para o último dia 5 de abril. O corredor atravessado por pai e filha não era em uma chácara repleta de amigos e familiares, mas sim em um quarto de hospital sutilmente decorado e com uma restrita lista de dez convidados. Na manhã seguinte, Glauco faleceu. Ele lutava, desde abril do ano passado, contra um câncer de próstata raro e agressivo e, há três meses, estava internado no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.

“Ele internou porque estava sentindo muita dor e as coisas começaram a se complicar”, contou a filha ao Sempre Família. “Os médicos acabaram achando mais lesões do câncer no fígado, no pâncreas e intestino”. Antes do internamento, o piloto de avião estava confiante e progredindo bem no tratamento. “Ele estava bem feliz porque tinha terminado a quimioterapia”, lembrou a filha.

De acordo com Gabriela, mesmo no hospital, seu pai era o mais empolgado com os preparativos do casamento. “Quando vimos que ele realmente estava piorando muito, já estávamos cogitando a possibilidade de fazer o casamento dia 23 de maio no hospital com ele, quando a pandemia passasse”, conta a estudante. Só que nas últimas semanas, Glauco e sua família começaram a ser acompanhados pela equipe de cuidados paliativos, fato que levou Gabriela e seu noivo, o designer gráfico Thalles Tonini, de 26 anos, a tomarem a decisão de adiantar a celebração de seu casamento.

“Meu noivo também falou que não abria mão de ter meu pai no casamento, então sentamos e falamos para o médico do paliativo: ‘Olha, o que mais importa para a gente é que ele esteja presente’”, lembra a jovem. Por causa do atual cenário de pandemia, o médico explicou ao casal que os cuidados para a realização da cerimônia dentro do hospital teriam de ser triplicados. “E foi o que a gente fez, o hospital organizou tudo em um dia e também cuidou da segurança de todo mundo que estava lá dentro”, conta Gabriela.

Toda essa preocupação e ajuda do Hospital Alemão Oswaldo Cruz na organização de momentos como esse fazem parte do programa de humanização “Yes, we care” (em português, “sim, nos importamos”), que tem como objetivo ajudar a realizar desejos de pacientes com câncer ou em estado terminal.

O grande dia

Na noite anterior ao grande dia, Gabriela contou com a ajuda de um amigo cabeleireiro nos preparativos. “Ele veio até a minha casa, conseguiu um vestido para mim já era meia-noite e no dia seguinte fez meu cabelo e maquiagem”, recorda a estudante. Além dos médicos que acompanhavam a família, participaram da celebração somente os pais, o pastor e um padrinho que tocou violão durante a cerimônia.

Gabriela Palheta, o noivo Thalles Tonini e o pai Glauco Palheta durante a cerimônia realizada no dia 5 de abril.
Gabriela Palheta, o noivo Thalles Tonini e o pai Glauco Palheta durante a cerimônia realizada no dia 5 de abril.

“Quando contamos para os nossos amigos, eles também queriam estar junto, por isso decidimos fazer uma live, mas a gente não esperava todo esse alcance”, conta Gabriela. “Mas tudo isso foi muito importante para a gente, é muito bom ver meu pai sendo lembrado e a história dele ajudando pessoas. Ele sempre falou que existe um propósito em todas as coisas, então ajudar tantas pessoas foi um presente pois era isso que ele queria”.

Agora, do último de dia de vida de seu pai, Gabriela guarda lembranças felizes e inesquecíveis. “O sorriso dele pra mim é algo que nunca vou esquecer”, conta. “Acho que o momento mais marcante foi quando falei pra ele: ‘Vamos orar?’ Somos evangélicos, aí minha mãe falou: ‘quer que eu ore?’, eu falei: ‘pode deixar que eu oro’. Então, meu pai disse: ‘eu oro’. Todo mundo ficou muito emocionado, ele orou e aquilo foi muito forte, ele me entregou para Deus e para o meu noivo em oração. Foi o melhor casamento que eu poderia ter”.

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