Italianos doam tablets a hospitais para que pacientes terminais com Covid-19 possam se despedir de familiares
| Foto: Reprodução/ Facebook Lorenzo Musotto

A vida, ao contrário do que algumas pessoas dizem, tem valor infinito. É aí que reside o cerne da dor que a pandemia do novo coronavírus traz ao mundo, ao lado de tantos outros flagelos que atentam contra a vida todos os dias. Uma das dimensões particularmente trágicas da pandemia, porém, é a forma como se morre e como se dá adeus: do lado de quem parte, sozinho, sem os familiares e amigos por perto; do lado de quem fica, sem a possibilidade de se despedir, de ser confortado pelos amigos e de realizar um funeral.

Uma entrevista da médica Francesca Cortellaro ao periódico italiano Il Giornale pôs o dedo nessa ferida. “Sabe qual é a sensação mais dramática? Ver os pacientes morrendo sozinhos, escutá-los implorando para que se despeçam de seus filhos e netos”, disse a médica, que trabalha no Hospital San Carlo Borromeo, em Milão. Ela contou que uma idosa havia lhe pedido para ver sua neta uma última vez antes de morrer. Francesca realizou uma chamada de vídeo com a garota pelo seu próprio celular. Logo depois da despedida, a paciente faleceu.

O episódio chamou a atenção de Lorenzo Musotto, que é vereador em Milão – cidade que um mês atrás havia lançado a campanha “Milão não para” e hoje conta mais de 4 mil mortos. “A ideia de não ser capaz de dizer adeus me machuca mais do que a própria morte”, resumiu ele em post no Facebook. Ao lado de correligionários do Partido Democrático, Musotto idealizou a campanha “O direito de dizer adeus”, que arrecada dinheiro para a compra de tablets que são doados aos hospitais, clínicas e hospices que cuidam dos infectados pelo coronavírus.

“Estou profundamente convencido da importância de máscaras, luvas, máquinas – e por isso os tablets são acompanhados de uma doação de mil euros (cerca de R$ 6 mil) –, mas o direito de dizer adeus, para quem vai e para quem fica, não deve ser menos importante”, defendeu o vereador.

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