Nos últimos sete anos, mais de mil freiras têm desenvolvido um trabalho ousado para resgatar vítimas do tráfico de pessoas. Elas se infiltram em bordéis fingindo ser prostitutas e tentam ajudar mulheres que sejam mantidas à força nesses locais.
Além disso, as religiosas juntam dinheiro para “comprar” crianças vendidas como escravas, desenvolvem programas de prevenção em escolas e oferecem acompanhamento e proteção dentro das suas casas a mulheres resgatadas do tráfico.
Fundada em 2009 pela União Internacional das Superioras Gerais (UISG), em colaboração com a União dos Superiores Gerais, Talitha Kum é a Rede Internacional da Vida Consagrada Contra o Tráfico de Pessoas. O nome da rede vem do Evangelho de Marcos. É a expressão usada por Jesus para reavivar a filha de Jairo, comumente traduzida do aramaico por: “Menina, eu te digo, levanta-te”.
Em 1998, a UISG formou um grupo de estudo sobre o tráfico de pessoas na Comissão de Justiça, Paz e Integridade da Criação. Entre 2004 e 2008, foi desenvolvido, em colaboração com a Organização Internacional para as Migrações, um projeto de treinamento que levou à criação de várias redes regionais na Itália, Albânia, Nigéria, Romênia, Tailândia, República Dominicana, Brasil, Portugal, Filipinas e África do Sul. No ano seguinte, durante o primeiro encontro mundial dessas redes, foi feita a proposta de se criar a rede internacional, que coordena as redes locais distribuídas hoje por mais de 70 países.
O trabalho acontece de forma descentralizada, cabendo à coordenação internacional, com sede em Roma, a criação de novas redes locais e a promoção do intercâmbio entre elas, bem como o apoio a ações de incidência política a nível internacional. São as redes locais que têm por responsabilidade o acompanhamento e a proteção de pessoas resgatadas do tráfico, a formação e capacitação de agentes multiplicadores e a denúncia do tráfico e das suas causas.
No Brasil, faz parte da Talitha Kum a rede Um Grito pela Vida, da qual fazem parte cerca de 150 religiosas de diversas congregações.
Segundo a fundação Walk Free, o tráfico de pessoas movimenta cerca de 32 bilhões de dólares por ano e atinge mais de 35 milhões de pessoas no mundo todo, sendo um terço crianças. Entre as suas modalidades, contam-se entre outras o tráfico para fins de exploração sexual, o trabalho escravo, a remoção e o comércio ilegal de órgãos e o tráfico de crianças para adoção ilegal. De acordo com a ONU, 70% das vítimas são mulheres ou meninas.
O banqueiro John Studzinski, presidente da rede, lembra de alguns casos atendidos, como o de uma mulher trancada sem comida nem água por uma semana por não ter atingido a sua meta de doze clientes por dia e de outra forçada a fazer sexo com dez homens ao mesmo tempo. “Essas irmãs não confiam em ninguém”, disse Studzinski, em entrevista ao Yahoo! News. “Elas não confiam nos governos, não confiam em corporações e não confiam na polícia local. Em alguns casos, elas não podem confiar nem no clero”.