Eduardo assistia as aulas online durante as visitas que fazia a Marlene e aos poucos ela foi se interessando pelas tarefas do neto.| Foto: Arquivo pessoal/Marlene Hinckel
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Podia ser mais uma história de uma pessoa que aguarda a vacina contra a Covid-19 para poder retomar a vida e rever parentes e amigos. Só que a catarinense Marlene Hinckel está ansiosa pela imunização por um motivo bem específico: retomar as aulas do Ensino de Jovens e Adultos (EJA) na Escola Municipal Batista Pereira, em Florianópolis. Aos 63 anos, ela está aprendendo a ler e escrever.

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A dona de casa foi criada na roça, longe da escola. “Tínhamos que caminhar por horas até chegar na única escola, mas meus pais não achavam importante estudar e preferiam manter os filhos trabalhando”, conta ela. Casou cedo, teve três filhos e a prioridade era cuidar da família. Os estudos foram ficando pra depois. “Ir ao mercado era um grande desafio, não conseguia diferenciar o shampoo do frasco de condicionador”, revela Marlene.

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Por conta disso, recentemente ela decidiu começar frequentar o EJA, mas, de novo, os planos foram adiados. Em razão da pandemia, as aulas pararam. Isolada em casa, ela foi ficando triste, até que a filha decidiu deixar o emprego para ficar mais perto da mãe. Nas visitas, levava o Eduardo, neto da Marlene, que estava sendo alfabetizado e acompanhava as aulas online do Colégio Adventista de Florianópolis – Unidade Estreito.

E foi assim que neto e avó ficaram ainda mais unidos. A cada dia que passava, Marlene se interessava mais pelas tarefas dele e logo passou, também, a acompanhar as atividades da escola. “Ele estava na primeira série, aprendendo a ler e escrever, imagina que me empolguei com a ideia de aprender também, e passei a assistir as aulas e usar os livros da escola dele para tentar ler”, diz.

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Depois de alguns meses foram muitos os avanços. Eduardo aprendeu a ler e escrever e conseguia, inclusive, ajudar a avó quando surgiam dúvidas. “Nas sextas-feiras havia um projeto de super leitor, as crianças liam textos que a professora escolhia e assim fui lendo os textos e lendo cada dia melhor”, conta ela, orgulhosa.

Agora as aulas presenciais do neto foram retomadas, mas ela ainda não tem previsão de voltar para as aulas do EJA. Por enquanto Marlene segue aguardando as duas doses da vacina, mas uma coisa é certa: parar de estudar não está mais nos planos. “Dá insegurança e às vezes parece que esqueço tudo o que aprendi, mas quero muito um dia pegar um livro e ler sem precisar de alguém para me corrigir”, espera. E se depender do neto, que de colega passou a professor, esse sonho está bem perto de virar realidade.

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