Posicao de brucos tem sido usada nos casos do novo coronavírus
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Em filmagens de hospitais brasileiros e estrangeiros, podem ser vistos em tratamento para a Covid-19 muitos pacientes deitados de bruços em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Mas por qual motivo esse tipo de manejo é realizado?

Essa estratégia de tratamento chama-se "Ventilação em Posição Prona" e tem sido usada há mais de 20 anos, como explica Álvaro Réa-Neto, professor do curso de Medicina da UFPR e diretor do Cepeti, Centro de Estudos e Pesquisas em Medicina Intensiva, que atende oito UTIs de hospitais de Curitiba, entre elas a do Hospital VITA Batel.

A explicação para este tipo de manejo, segundo Réa-Neto, passa pelo comportamento do organismo dos mamíferos, cuja respiração é mais fisiológica em posição prona, ou de bruços. "Raramente vemos um mamífero dormindo em posição supina (de barriga para cima). Não vemos vacas, cavalos, gatos, cães, ovelhas e elefantes dormindo de barriga para cima. Humanos também passam a maior parte do sono de barriga para baixo ou de lado", afirma.

A posição pronada também é a mais indicada para melhorar a ventilação dos pulmões, órgão mais atingido pela infecção pelo novo coronavírus e onde a batalha se dá de maneira mais complexa. "Em posição prona o coração não 'cai' sobre os pulmões, mas sim sobre o osso esterno, o que melhora a ventilação dos pulmões", diz.

Momento certo

Segundo Réa-Neto, o reposicionamento do paciente é recomendado a uma situação específica, e não serve a todo mundo. "A ventilação em posição prona está indicada para quando se desenvolvem os casos mais graves de insuficiência respiratória na Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (Sara), relativamente comum nas UTIs em qualquer época. Alguns pacientes com a forma mais grave de Covid-19 desenvolvem essa síndrome e melhoram um pouco a oxigenação quando são submetidos à ventilação em posição prona", diz ele.

Em geral, quando indicada essa posição, o paciente fica cerca de 16 horas por dia com o corpo virado. Algumas vezes, por vários dias em sequência, até melhorarem. Segundo Réa-Neto, uma das características principais da nova doença é ser rápida-devagar. Ou seja, de rápida transmissão, mas com uma lentíssima resolução.

"Isso é bem real. Nos casos mais graves, ao redor de 5% do total, o processo inflamatório pulmonar é difuso e de resolução lenta. É comum demorar duas ou três semanas, na média", diz ele, assinalando que tem sido indicado aos médicos não apressarem a retirada da ventilação mecânica nesses doentes. "Toda calma nessa hora", diz.

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