O aniversário de uma década da vacina é lembrado com preocupação, pois o imunizante chegou a menos de 70% dos bebês nascidos em 2021
O aniversário de uma década da vacina é lembrado com preocupação, pois o imunizante chegou a menos de 70% dos bebês nascidos em 2021| Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Há 10 anos, a vacina inativada contra a poliomielite é oferecida nas unidades de saúde de todo o Brasil com maior eficiência e segurança que as famosas gotinhas utilizadas anteriormente. No entanto, o aniversário de uma década da vacina é lembrado com preocupação por parte de pesquisadores e autoridades de saúde: enquanto a doença reaparece em algumas partes do mundo, a cobertura vacinal contra a pólio no Brasil está cada vez mais longe da meta de 95% das crianças protegidas. As informações são da Agência Brasil.

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Segundo o Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), as doses previstas para a vacina inativada contra a pólio atingiram a meta pela última vez em 2015, quando a cobertura foi de 98,29% das crianças nascidas naquele ano.

Depois, essa cobertura foi caindo para menos de 90%, chegando 84,19% em 2019. Mas o pior cenário ocorreu durante a pandemia de Covid-19, que impactou a cobertura de diversas vacinas e fez com que o imunizante chegasse a menos de 70% dos bebês nascidos em 2021, com 69,9% deles vacinados.

Esse percentual indica que três em cada 10 crianças não foram vacinadas, e a situação pode ser pior em uma leitura regional. Enquanto, no Sul, a proporção é de 79%, no Norte, é de 61%. O estado em pior situação, segundo o painel de dados, é o Amapá, onde apenas 44% dos bebês foram imunizados.

De acordo com o PNI, a vacina inativada contra a poliomielite deve ser administrada aos 2, 4 e 6 meses de idade, conferindo uma imunidade que só é reforçada aos 15 meses e aos 4 anos, com gotinhas da vacina oral.

A pólio foi erradicada, mas pode voltar

O Brasil não detecta casos de poliomielite desde 1989 e, em 1994, recebeu da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) certificação de área livre de circulação do poliovírus selvagem, em conjunto com todo o continente americano.

A vitória global sobre a doença com a vacinação fez com que o número de casos em todo o mundo fosse reduzido de 350 mil, em 1988, para 29, em 2018, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Hoje, o poliovírus selvagem circula de forma endêmica apenas em áreas restritas da Ásia Central, enquanto, em 1988, havia uma crise sanitária internacional com 125 países endêmicos.

Porém, a queda das coberturas vacinais no continente americano fez a Opas listar o Brasil e mais sete países da América Latina como áreas de alto risco para a volta da doença. O alerta ocorre no mesmo ano em que o Malawi, na África, voltou a registrar um caso de poliovírus selvagem, e a cidade de Nova York, nos Estados Unidos, notificou um caso com paralisia em um adulto que não teria viajado ao exterior.

Paralisias irreversíveis e fatais

EM entrevista à Agência Brasil, a infectologista Luiza Helena Falleiros Arlant lembra que a infecção pelo poliovírus é muitas vezes assintomática, mas pode ser grave, já que, além de paralisar os membros, pode afetar os músculos responsáveis pela respiração. E "só existe uma maneira de prevenir pólio, que é através da vacinação", alerta a médica, que é presidente da Câmara Técnica de Pólio do Ministério da Saúde e membro da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Por isso, a infectologista orienta os pais que perderam o momento dessa vacina ou atrasaram alguma das três doses a se dirigirem imediatamente à unidade de saúde mais próxima para continuarem o esquema vacinal de onde ele foi interrompido. "Se uma criança tomou uma vacina e ficou três anos sem receber nenhuma outra dose, ela tem que receber a segunda dose e, dois meses depois, a terceira. Ninguém recomeça o esquema, tem que continuar de onde parou", explica a médica.

E a sugestão da especialista para auxiliar nessa ação é a abertura dos postos de saúde das 7h às 19h, “porque hoje você depende do trabalho como nunca e perder um dia de trabalho é perder um prato de comida na mesa”, ressalta. Além disso, é preciso focar em campanhas de conscientização, porque grande parte da população não conheceu essa doença e não sabe como ela trouxe pavor às famílias ao longo do Século 20. "A população hoje pensa que já está protegida, mas não está", pontua o pesquisador Akira Homma, do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos desde 1970.

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