O leite materno e o contato pele a pele, ainda que a mãe esteja com a Covid-19, trazem mais benefícios do que riscos à criança.
O leite materno e o contato pele a pele, ainda que a mãe esteja com a Covid-19, trazem mais benefícios do que riscos à criança.| Foto: Bigstock

A importância e o benefício do contato pele a pele entre mãe e bebê desde a primeira hora do nascimento, como também da amamentação até os 2 anos ou mais, já são comprovados e amplamente divulgados, considerando as vantagens que trazem para a saúde e o desenvolvimento da criança.

Porém, algumas lactantes contaminadas pela Covid-19, por receio ou por má orientação, não estão amamentando seus filhos, e esse comportamento pode trazer sérios riscos de mortalidade e morbilidade infantil. O alerta é da Pastoral da Criança.

Uma pesquisa publicada pelo The Lancet demonstrou que o risco de uma criança morrer pela falta de amamentação é 67 vezes superior ao de morrer após contrair Covid-19. “É preciso que essa informação seja disseminada para a população. Pessoas bem informadas não caem em armadilhas, mas, infelizmente, há quem se aproveita da situação de vulnerabilidade e falta de informação para aumentar suas vendas de alimentos para recém nascidos”, explica Nelson Arns Neumann, coordenador nacional adjunto e internacional da Pastoral da Criança, mestre em Epidemiologia e doutor em Saúde Pública.

Realizada com pacientes com pneumonia causada pelo SARS-CoV-2, a pesquisa mostrou que não há presença do vírus no líquido amniótico, no sangue do cordão umbilical, no leite materno e no swab da orofaringe do recém-nascido, validando o fato de que não há transmissão vertical durante a gestação e no período neonatal pela amamentação, até o período da publicação do periódico.

Além do mais, o aleitamento e o contato pele-a-pele, ainda que a mãe esteja contaminada pela Covid-19, trazem mais benefícios do que riscos à criança. "A recomendação para uma mãe infectada ficar em contato próximo com seu bebê parece contradizer outras medidas de prevenção e controle de infecção (PCI) que incluem o isolamento de pessoas infectadas pelo vírus causador da Covid-19. No entanto, o equilíbrio de riscos é significativamente diferente para bebês comparado com adultos. Em bebês, o risco de infecção é geralmente leve ou assintomática e as consequências de não amamentar ou separar mãe e filho podem ser significativas", de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Cuidados

O aleitamento pode ser realizado diretamente pela mãe, adotando medidas de prevenção e controle da infecção, como a higienização das mãos antes de amamentar, a utilização de máscara enquanto perdurar o contato com o bebê e a higienização dos seios, se a mãe tossir sobre eles expostos. Porém, caso ela não se sinta bem ou não queira amamentar, pode extrair o leite de forma manual ou através de bombas de extração láctea para que outro cuidador ofereça à criança.

“A amamentação continuada tem o potencial de transmitir anticorpos maternos protetores aos recém-nascidos e crianças através do leite materno. Portanto, a amamentação deve continuar com a mãe praticando cuidadosamente a lavagem das mãos e o uso de uma máscara durante a amamentação, para minimizar a exposição viral adicional à criança”, afirma Arthur I. Eidelman, médico, pesquisador da área de nutrição infantil e lactação, e editor chefe da Breastfeeding Medicine.

Conscientização

O Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) alertou os pediatras para que orientem as gestantes quanto à importância da amamentação ainda que contaminadas pelo coronavírus.

Além da orientação encaminhada aos pediatras, a Pastoral da Criança tem motivado que as mães continuem a amamentar seus filhos, acreditando que é dever de toda comunidade criar condições propícias para isso. “É fundamental que todo profissional de saúde esteja atento às novas publicações e tenha costume de se atualizar periodicamente. É preciso destacar que os profissionais de saúde são responsáveis por disseminar orientações e recomendações para a população atendida, portanto devem se respaldar nas recomendações baseadas em evidências, ou seja, com base na ciência e não em achismos”, reforça Arns.

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