Muitas mulheres têm buscado consultórios de ginecologia para relatar distúrbios na menstruação durante a pandemia de Covid-19
Muitas mulheres têm buscado consultórios de ginecologia para relatar distúrbios na menstruação durante a pandemia de Covid-19.| Foto: Bigstock

Relatos de mudanças no período menstrual, na duração do sangramento e na intensidade dele têm sido frequentes nos consultórios de ginecologia durante a pandemia. “Atendi vários casos assim, principalmente de pacientes que perceberam aumento no fluxo sanguíneo durante alguns meses”, relata a médica ginecologista Midiã Vergara Bandeira, ao afirmar que os casos não apresentam gravidade e que o ciclo volta ao normal naturalmente.

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Mas o que pode ter motivado essas alterações? De acordo com um estudo realizado pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), uma das responsáveis pelas mudanças no organismo feminino é a saúde emocional, já que as mulheres se preocuparam muito com a proteção da família, sofreram com as incertezas e enfrentaram mudanças drásticas na rotina pessoal e profissional devido à pandemia.

Segundo essa pesquisa, 97% das entrevistadas relataram surgimento de sintomas como estresse, ansiedade, nervosismo e insônia desde o início da Covid-19. Além disso, 77% perceberam mudanças em seu ciclo menstrual regular, como períodos de sangramento mais longos que o usual e atraso de vários dias, mesmo quando a possibilidade de gravidez era descartada.

Ao todo, a pesquisa avaliou 948 mulheres das cinco regiões brasileiras e percebeu que as alterações menstruais ocorreram em 90% das participantes com quatro sintomas ou mais relacionados à saúde mental. Ou seja, um forte “indicativo da relação entre esses dois fatores”, pontuou o estudo.

No entanto, outros motivos também podem alterar a menstruação de uma mulher. “E os principais são situações hormonais, doenças ou uso de medicações”, explica a ginecologista Midiã Vergara, ao citar, inclusive, que pacientes ao redor do mundo apontaram vacinas contra Covid-19 como responsáveis por algumas alterações em seu ciclo menstrual.

Na França, por exemplo, a Agência Nacional de Segurança de Medicamentos até citou as mudanças no ciclo menstrual como possíveis efeitos colaterais das vacinas, e o ministro da Saúde do país, Olivier Véran, explicou o motivo. Segundo ele, a reação inflamatória causada pelos imunizantes para combater agentes externos poderia levar a alterações “transitórias, temporárias e que não afetam em nada a fertilidade”, afirmou em entrevista ao France Inter.

Só que ainda não existem pesquisas concluídas que comprovem essa relação. O que se sabe, segundo a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), é que as mudanças relatadas por algumas pacientes recém-vacinadas são passageiras e não representam perigo.

“Acompanhei casos que relataram aumento do fluxo menstrual no mês em que foi aplicada a vacina, mas sem qualquer outra consequência e com normalização nos meses seguintes”, garante a ginecologista Cecilia Roteli Martins, presidente da Comissão Nacional Especializada em Vacinas da Federação. Então, “o que pode explicar esses relatos são alterações hormonais causadas pelo estresse na pandemia”, completa.

“Acompanhei casos que relataram aumento do fluxo menstrual no mês em que foi aplicada a vacina, mas sem qualquer outra consequência e com normalização nos meses seguintes”, garante a ginecologista Cecilia Roteli Martins, presidente da Comissão Nacional Especializada em Vacinas da Federação. Então, “o que pode explicar esses relatos são alterações hormonais causadas pelo estresse na pandemia”, completa.

Mesmo assim, ela afirma que as mulheres devem estar atentas ao seu ciclo menstrual e procurar um ginecologista para realizar exames em caso de alterações significativas. Afinal, “existem várias patologias associadas, como pólipos, miomas no útero e outros problemas”, alerta.

Novos estudos em andamento

Vale ressaltar também que novos estudos avaliam a relação entre vacinas Covid-19 e alterações menstruais. Entre essas pesquisas está a da Universidade de Granada, na Espanha, que entrevistou 14 mil mulheres até setembro deste ano e acompanhará parte delas pelos próximos meses ouvindo relatos e realizando exames de sangue.

Outros estudos também serão financiados pelo Instituto Nacional da Saúde dos Estados Unidos (NIH), que já concedeu $ 1,67 milhão de dólares a cinco instituições norte-americanas para explorar ligações entre a vacinação Covid-19 e mudanças menstruais. Os estudos darão “mais informações sobre o que esperar após a vacinação, reduzindo a hesitação vacinal”, disse a diretora do Instituto, Diana W. Bianchi.

De acordo com o NIH, as respostas imunes à vacina poderiam afetar a interação entre células imunes e os sinais no útero, causando mudanças temporárias no ciclo menstrual. Além disso, fatores como estresse, mudanças no estilo de vida relacionadas à pandemia e a própria infecção com SARS-CoV-2 também poderiam gerar alterações. As pesquisas estão em andamento e devem divulgar seus resultados em breve.

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