Esperar crescer não é solução para a obesidade quando adolescente.
Esperar crescer não é solução para a obesidade quando adolescente e os pais devem se atentar para tomar outras medidas.| Foto: Bigstock

Muitos pais acham que seu filho em sobrepeso, ou mesmo obeso, ao crescer, ficará magro. Porém, as estatísticas dão conta de que, na maioria das vezes, esse é um pensamento errado. Se aquilo que leva e mantém a obesidade não for alterado, um jovem obeso fatalmente se tornará um adulto obeso.

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Isso é corroborado por pesquisas meta-análise, aquele tipo de trabalho que tem maior peso científico, com avaliação de vários outros estudos, como explica Renata Machado Pinto, membro do Departamento Científico de Endocrinologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). "Publicado em 2015, um estudo desse mostrou que crianças e adolescentes obesos tinham cinco vezes mais risco de continuar obesos na vida adulta e que 55% das crianças obesas continuam obesas na adolescência. Cerca de 80% dos adolescentes obesos vão ser obesos na idade adulta e, em torno de 70% deles, até os 30 anos de idade, não conseguirão emagrecer", diz ela.

Ou seja, fazer a transição para a fase adulta não resolve a obesidade, infelizmente, segundo Renata. "Na adolescência aumenta a velocidade de crescimento, o adolescente parece muito maior, mas é mais a custa de ganho de peso, um aumento de 50% no peso em comparação à criança enquanto, em altura, esse ganho é só de 20%. O estirão, que dura dois anos e meio, aumenta 25 cm na menina e 30 cm no menino. Então, ao seguir ganhando peso, entrar na adolescência nada resolve, a não ser que haja uma mudança real de estilo de vida", diz ela.

Diferenças de obesidade

Existem algumas diferenças entre a obesidade na infância e adolescência e na vida adulta, a começar pelo diagnóstico, visto que não há tabelinha de IMC nessa fase. "Não existe um número fixo como para os adultos, isso varia com a idade e o sexo da criança e adolescente. Para a criança mais jovem esse índice é bem menor. Quando se chega aos 19 anos, aí sim valem os números para adultos", diz.

Em caso de Covid-19 a obesidade pesa contra a vida dos mais jovens, sendo o principal fator de risco para evolução grave e por morte pela doença em pessoas não idosas.
E praticamente todos os outros distúrbios que ocorrem em adultos obesos podem acontecer também nessa fase precoce, reduzindo a qualidade e a expectativa de vida, além de interferir no psicológico. "Entre adolescentes e crianças obesas, 60% delas têm pelo menos um fator de risco cardiovascular, e 25% deles têm dois ou mais fatores de risco cardiovascular, alterações cardíacas e metabólicas que podem levar a infartos e derrames, o que mais mata no mundo", diz.

Doenças do coração

E que doenças são essas: as endócrino-metabólicas como a diabete mellitus; as cardiovasculares como hipertensão, dislipidemia, alteração de colesterol e triglicérides, tudo isso levando a aterosclerose, o excesso de gordura nos vasos sanguíneos que pode levar a esse desfecho cardiovascular. "Além disso a criança ou adolescente com obesidade tem síndrome dos ovários policísticos, avanço de puberdade, redução da massa óssea com maior risco de osteoporose, doença hepática não-alcoólica, pedra de vesícula que pode levar à pancreatite, apneia do sono, problemas ortopédicos, problemas de pele", diz ela. Obesidade na vida adulta aumenta risco para 12 tipos de câncer e, na adolescência, aumenta o risco de 10 tipos de câncer que podem surgir na vida adulta.

Do ponto de vista psicológico, segundo ela, tem muitos trabalhos confirmando que os obesos tem mais depressão, mais ansiedade, sofrem três vezes mais bullying na escola. Isso tudo vai impactar bastante na vida dessa criança, tanto do ponto de vista emocional, como, lá na frente, pela interferência na participação na escola, causando redução de performance, maior evasão escolar, impactando na queda no nível de escolaridade e potencial queda de renda.

Pais devem ficar de olho

Quais hábitos os pais podem verificar na adolescência que fazem acender a luz amarela de atenção quanto ao desenvolvimento ou manutenção da obesidade no futuro?  Segundo Renata, o excesso alimentar e a qualidade de alimentos, os extremamente calóricos, ultraprocessados, com preferência por fast-food, isso também aumenta a obesidade.

"Omitir o café da manhã e o comer na madrugada, já que a mesma quantidade de calorias, se você não come de manhã e come de madrugada, você engorda mais", afirma ela. A atividade física também, lembrando que para essa faixa etária o indicado é uma hora por dia de atividade física (com intensidades variadas), enquanto para os adultos é de 150 minutos por semana. O excesso de tempo de tela e redução de tempo de sono também influenciam no ganho de peso, assim como o contato com desreguladores endócrinos, que bagunçam os hormônios e que estão presentes em plásticos, aditivos químicos e em embalagens, defensivos agrícolas, retardante de chamas e até algumas plantas.

Comportamento do adolescente

A adolescência é uma fase extremamente complexa em que sai do pensamento mágico da infância e dá um salto na cognição. Mas esse indivíduo ainda não é um adulto, existe uma imaturidade muito grande do cérebro tanto cognitivo quanto emocional.

"Persiste um pensamento mágico de invulnerabilidade, então eles entendem que obesidade é uma doença que pode trazer consequências sérias, mas ele têm certeza de que, com eles, isso nunca vai acontecer e que na hora que eles quiserem eles podem mudar os hábitos do dia para a noite, o que não é verdade", diz ela. "Tem grande impulsividade, comportamento opositor, todo esse monte de características leva a dificuldade para aderência a essa mudança no estilo de vida, que vai contra a turma, que está ligada 24 horas na internet, com sono bagunçado, que trocam o dia pela noite, a chamativa de hoje em dia do grupo é justamente para comportamentos obesogênicos", diz ela.

Obesidade vem para ficar aos 18 anos

Outro fator complicador que pode perpetuar a obesidade foi revelado por um estudo recente, que encontrou que a fase dos 18-24 anos é a pior para se desenvolver obesidade nos 10 anos seguintes, pelo momento turbulento de mudanças – universidade, saída de casa, primeiros empregos – e que este momento seria importante porque é onde se desenvolvem (e se fixam) hábitos para toda a vida.

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