Principalmente no fim da gravidez a condição da gestante se torna ainda mais frágil.
Principalmente no fim da gravidez a condição da gestante se torna ainda mais frágil.| Foto: Bigstock

A preocupação com a saúde das gestantes durante a pandemia do Covid-19 atingiu recentemente o maior nível, com ainda alguma relutância em relação às vacinas e a natural fragilidade do organismo das grávidas em relação à doença causada pelo coronavírus.

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Sabe-se que as gestantes e puérperas não estão mais suscetíveis ao contágio e a transmitirem o vírus do que a população em geral. As dúvidas recaem, sim, sobre as alterações dos parâmetros fisiológicos nesse período, como em relação à respiração e a aspectos inflamatórios, se seriam ou não suficientes para piorar o quadro ou prejudicar o tratamento.

Em relação à frequência respiratória da gestante, pode-se dizer que ela não é diferente da verificada em outros adultos, segundo o ginecologista e obstetra Francisco Furtado Filho, do Hospital Nossa Senhora das Graças, pois ela não se modifica. “Porém, a respiração torna-se mais difícil com a evolução da gravidez, pelo aumento do volume uterino e por questões posturais, mas sem que esse desconforto altere os valores aferidos no oxímetro”, diz ele, alertando que, caso o valor no oxímetro esteja alterado, deva ser investigado o real motivo.

Ou seja, apesar de a gestação acarretar alterações nas trocas pulmonares, em virtude de todas as mudanças no corpo, a saturação de oxigênio da grávida não se altera”, reforça Vinícius Zanlorenci, diretor científico da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Paraná (Sogipa).  

Outra dúvida que se tem é em relação a um possível caráter mais inflamatório que o organismo da grávida desenvolveria e que também concorreria para desfechos mais graves da doença. Isso, diz Furtado Filho, também não procede, visto que em grávidas não há aumento natural da reação inflamatória que interfira na detecção da gravidade ou no progresso da Covid-19.

São, sim, imunossuprimidas  

Porém, há algo mais concreto sobre uma possível fragilidade maior das grávidas e puérperas em relação a formas graves da Covid-19. “Elas estão mais sujeitas a contraírem a doença por apresentarem imunodeficiência própria a essa condição”, diz Furtado Filho.

E essa certa imunossupressão, que faz com que a imunidade esteja um pouco mais baixa na gestação, pode fazer com que processo inflamatório que ocorre na Covid aconteça de forma mais rápida, como explica Zanlorenci. “Então, as alterações que ocorrem no organismo materno aumentam as chances de evolução para formas graves da doença, especialmente em condições de gestação de risco como diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, entre outras”, diz.

Como as gestantes e puérperas apresentam, fisiologicamente, trombogênese aumentada, a combinação desta condição com a Covid-19, que por si só provoca fenômenos tromboembólicos, potencializa uma situação que pode ser catastrófica, cita Furtado Filho.

No hospital

A gravidez pode ser uma condição complicadora na hora de se tratar a Covid-19 em ambiente hospitalar, segundo Furtado Filho, visto que, com o volume do útero aumentado e comprimindo o principal músculo da respiração, que é o diafragma e, somando-se a isso, a restrição própria desta condição na presença do Covid-19, a chance de descompensação respiratória aumenta e ocorre de forma mais rápida. “Por este motivo, muitas vezes a alternativa é a interrupção da gravidez para manejar melhor a gestante”, afirma ele.

Por este motivo, diz Zanlorenci, as grávidas com Covid-19 devem permanecer internadas em um hospital que disponha de um serviço de obstetrícia. “Caso haja alguma intercorrência deve haver uma equipe capaz de realizar o parto e, além disso, outra equipe para prestar os primeiros atendimentos ao recém-nascido. Em diversas vezes a progressão da doença para a forma inflamatória pode ocorrer de forma mais rápida, o que é um fator complicador”, diz ele.

Qual período é mais frágil?

Não há como afirmar, segundo Furtado Filho, que o corpo da mulher luta melhor contra a Covid-19 antes ou depois do parto, mesmo imaginando-se que a recuperação e a evolução da paciente possam ser melhores após o nascimento do bebê, pois que a doença é traiçoeira, diz ele.  “Baseando-se em relatos de casos e levantamentos bibliográficos, nas fases iniciais das gestações as complicações clínicas e obstétricas têm sido menores e com evoluções mais favoráveis, porém, houve inúmeros casos de pacientes jovens e sem comorbidades que tiveram evoluções ruins. No terceiro trimestre da gravidez as complicações obstétricas e clínicas têm sido mais frequentes, inclusive com a ocorrência de óbitos maternos e fetais”, diz.

Então, diz Zanlorenci, tanto o período da gravidez quanto o do puerpério são igualmente suscetíveis a complicações decorrentes da Covid. “Embora não haja esse período em que a grávida possa ser considerada mais fragilizada, no fim da gestação, em virtude da maior dificuldade nas trocas gasosas pelo pulmão, isso pode ser um fator complicador”, afirma ele.

Parte psicológica

Quando recebe o diagnóstico de Covid-19, a parte psicológica da gestante é muito afetada e, nessa hora, é fundamental o apoio familiar, afinal o medo é inevitável, assinala Furtado Filho. “O principal apoio está na valorização das queixas e sintomas do paciente e a busca pelo diagnóstico precoce. Só assim é possível oferecer a melhor assistência e orientação médica. Devemos também valorizar mais o número expressivo de pessoas que tiveram a doença, recuperaram-se bem e saíram ilesos: o número de óbitos é grande e lamentável, mas precisamos nos apegar mais ao número expressivo de vidas salvas”, diz ele.

Fake news

Os especialistas salientam que é importante que as grávidas sigam as recomendações e evitem aglomerações, usem o álcool em gel e as máscaras para evitar o contato com o vírus.

Furtado Filho cita que a vacinação tem demonstrado uma queda significativa no número de internamentos e casos graves, mas que, infelizmente, há milhões de brasileiros que fizeram a primeira dose da vacina e não retornaram para fazerem a segunda dose.

As vacinas são seguras para as gestantes, ressalta Zanlorenci, e elas devem ser esclarecidas sobre possíveis riscos do seu uso, e que as decisões sejam sempre compartilhadas com o médico assistente. “É importante ressaltar que podem ocorrer evoluções para quadros graves na gestação e sempre é importante acompanhamento médico multidisciplinar, para melhor acolhimento e acompanhamento das gestantes nesse momento tão difícil”, finaliza.

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