Existem vários tipos de depressão e alguns sinais podem mostrar que a depressão pode estar voltando.| Foto: Bigstock
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Em cada pessoa a depressão pode se manifestar de um jeito diferente. Uma das dúvidas mais comuns tanto entre quem porta a doença quanto para seus familiares é quais seriam os sinais que indicariam que a depressão está piorando.

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Primeiramente, é importante diferenciar sintomas de estar depressivo de episódio depressivo, sendo que o primeiro se refere a algo sinônimo a tristeza, que pode ser normal e acontecer a todos, por circunstâncias da vida.

“Já o episódio depressivo ocorre em um período de ao menos duas semanas em que o indivíduo pode apresentar humor depressivo ou perda de prazer associado a outros sintomas como alteração no apetite e no sono (para mais e para menos), irritabilidade, alteração na concentração, culpa excessiva, ideação suicida e perda de perspectiva do futuro, entre outros)”, diz o psiquiatra Luiz Gustavo Piccoli de Melo, professor na PUCPR e doutor em Ciências da Saúde. Esses episódios depressivos podem ocorrer em várias doenças como o Transtorno Depressivo, Transtorno Afetivo Bipolar, Transtornos de humor secundários a outras condições clínicas ou ao uso de substâncias, entre outras.

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Apesar da real variabilidade na apresentação da doença, uma de duas queixas deve estar presente em qualquer depressão, segundo o psiquiatra André Astete: a primeira delas é uma alteração emocional (humor deprimido) com predomínio de emoções desconfortáveis como a melancolia, um estado tensional subjetivo, algo comumente descrito como um nervosismo com tendência à tristeza, com uma base de intolerância ao estresse na intenção.

“Se além da melancolia, irritabilidade (ou traços dela) e ansiedade, esse humor deprimido prejudica a pessoa, trazendo dificuldades adaptativas, e é persistente, usualmente, por mais de duas semanas, diz-se que a pessoa está deprimida”, fala Astete. A segunda queixa é a anedonia, que é o prejuízo persistente relatado no ânimo e no prazer das atividades, que também leva ao diagnóstico de depressão. “É normal as pessoas terem um pouco das duas queixas, mas uma delas pode predominar, variando a intensidade das manifestações e outros sinais associados que envolvem alterações de sono (pode-se ter até mesmo sono prolongado, mas superficial), de processos de pensamento, eficácia de memória e concentração, energia física, alteração de apetite e pensamentos negativos.

Sinais de piora da depressão

Na prática clínica, segundo Piccoli de Melo, um dos primeiros sintomas que indicam uma possível piora do quadro e que exige avaliação médica é a alteração no sono (seja dormir demais ou de menos), evoluindo com piora do humor depressivo, perda de prazer nas atividades, culpa excessiva (a pessoa se sente culpada por coisas banais do dia a dia), perda de perspectiva de futuro (“nada mais está bom”) e ideação suicida.

Soma-se à escalada da intensidade desses sintomas, de acordo com Astete, aquele desconforto no estado emocional que faz surgirem reflexos físicos como aperto no peito e sensação angustiosa que envolve a garganta. “Porém, quanto mais intensa a depressão podem surgir os riscos de suicídio, de impactos sobre o juízo (ao delirar) e de prejuízos na capacidade de iniciativa a ponto de a pessoa não dar conta de se alimentar ou de se hidratar”, diz ele. Marca ainda uma piora na depressão a percepção de maior vulnerabilidade a situações estressoras, o que normalmente acaba sendo sinal de que a estabilidade está se perdendo.

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Transtorno depressivo

O que comumente é chamado de depressão ocorre quando a pessoa porta o Transtorno Depressivo, uma doença altamente prevalente (em torno de 6-10% na população geral), de causas multifatoriais (devido a alterações genéticas, ambientais, neuroquímicas), mais comum em mulheres, que ocorre em episódios (de 3 a 12 meses, sem tratamento), incapacitante (é uma das principais causas de incapacidade para o trabalho no mundo) e é crônica na maioria das vezes (80% terão um segundo episódio).

“Uma vez que o indivíduo receba esse diagnóstico e esteja passando por um episódio depressivo, a presença de sintomas como culpa excessiva, ideação suicida e perda de perspectiva de futuro indicam gravidade do episódio, sendo importante comunicar ao médico responsável”, diz Piccoli de Melo.

Esse transtorno, reforça o psiquiatra, é uma doença como qualquer outra que deve ser tratada de forma correta e humanizada por um profissional. “Ainda existe muito preconceito sobre o tema, estigmatizando pacientes como ‘loucos’, mas o não tratamento pode levar à morte, visto que o Transtorno Depressivo é uma das principais causas de suicídio”, diz Piccoli Melo.

Trate a depressão na primeira vez

O psiquiatra André Astete alerta para que se trate a depressão nas primeiras manifestações, o que seria uma oportunidade de ouro para diminuir a vulnerabilidade a depressões no futuro. “Se a pessoa logo puder buscar tratamento e orientação médica e abordagens psicoterápicas indicadas e insistir que se chegue à recuperação mais ampla possível, isso pode proteger de uma trajetória de ativação de múltiplos episódios desencadeada pelo fato de as pessoas não melhorarem completamente ou levarem muito tempo até recuperar. Na primeira vez que você tem depressão é onde tem mais chance de você mudar o destino das depressões futuras”, diz.