Sem anestesia ou medicamentos, mulheres conseguem mudar a percepção de dor durante o trabalho de parto com medidas por vezes simples, fáceis e com a eficácia comprovada.
Entre as técnicas que devem ser estimuladas pelos profissionais da saúde, a médica epidemiologista Eliana Wendland, da equipe do hospital Moinhos de Vento e professora da Universidade Federal das Ciências da Saúde de Porto Alegre (RS), destaca: a ambientação do local do parto; a posição e movimentação da mãe; as bolas de parto; a imersão em água e as técnicas de relaxamento e terapia manual, como ioga, música, massagem e calor local com bolsas de água quente.
"A dor é muito subjetiva. Para a mulher, que está ansiosa, ficar em um lugar confortável pode mudar a percepção da dor. E tem várias técnicas que podem ser feitas para minimizar essa sensação de dor e tornar a experiência do parto mais interessante, um momento mais prazeroso", explica a médica, que apresentou os métodos comprovados, e os sem comprovação, para manejo da dor no parto durante o 58º Congresso Brasileiro de Ginecologia e Obstetrícia, ocorrido em Porto Alegre, em novembro.
Como funciona cada um dos métodos:
Quartos sem cara de hospital
Há evidências, conforme explica a médica epidemiologista, que o ambiente onde será feito o parto pode influenciar na sensação de dor da mulher.
"O parto não necessariamente deve ser feito em um local que pareça um hospital, com uma cama de hospital. Pode ter uma ambientação diferente, parecendo mais um quarto normal, com uma banheira, um sofá, uma bola. A sensação e a percepção da dor tendem, assim, a diminuir", explica Eliana.
Mulheres livres para circular
A percepção de dor também pode reduzir se a mulher tiver a possibilidade de assumir a posição que ela quiser. Embora os médicos estejam acostumados com a paciente deitada, nada impede que ela decida ter o bebê em um parto de cócoras, de lado, sentada.
"A posição que ela deve assumir antes e durante o trabalho é aquela que for mais confortável a ela. Mudar a posição é algo barato e não causa problemas. Porém, é muito cultural querer colocar a paciente sempre do mesmo jeito", diz a médica.
Bolas de Pilates
Outro método comprovado é o uso das bolas, como aquelas usadas em exercícios de Pilates, mas chamadas de bolas de parto. O movimento da mãe em cima das bolas amplia, principalmente, a capacidade da mulher de lidar com a dor.
Gestante na banheira
A imersão em água é uma recomendação de protocolos internacionais, como os da Inglaterra e dos Estados Unidos. Além do relaxamento que a água induz, a percepção da dor também diminui.
Técnicas de relaxamento
Ioga, música, massagem, calor local com o uso de bolsas de água quente, por exemplo, são técnicas de relaxamento recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, são fáceis de implementar, embora exijam preparação prévia.
Técnicas não comprovadas
Dos métodos não efetivos apontados na literatura médica, a epidemiologista lista:
- Biofeedback
- Injeção de água estéril
- Aromaterapia
- Eletroestimulação
O biofeedback é uma espécie de treinamento que usa instrumentos que verificam como está a contração muscular pélvica da mulher. Por meio de sondas anatômicas, a contração então é mostrada em uma tela de computador.
No caso da injeção de água estéril, trata-se da aplicação da água destilada estéril com o objetivo, também, de reduzir a sensação de dor. Não há, de acordo com a médica, comprovação de que a medida funcione, da mesma forma que a aromaterapia, ou o uso de cheiros e odores, e a eletroestimulação.
Sem efeitos adversos
Das vantagens de priorizar métodos não farmacológicos no cuidado da dor, a médica epidemiologista Eliana Wendland explica que o baixo custo e facilidade em implementá-los chama atenção. Mas, principalmente, a maioria não tem efeitos adversos, como pode ocorrer com o uso de anestesias ou sedação.
"Uma coisa importante a ser lembrada é que esses métodos precisam ser preparados durante o pré-natal"
"Os farmacológicos podem ter eventos adversos associados, além de a parturiente precisar de um profissional mais especializado, de um anestesista que atenda a paciente. E se não houver alguém disponível, ela não terá acesso ao controle da dor", explica.
No caso das técnicas não farmacológicas, além da recomendação da OMS, muitos podem ser feitos pelo próprio companheiro da mulher, ou por quem for manejar o parto.
"Mas uma coisa importante a ser lembrada é que esses métodos precisam ser preparados durante o pré-natal. Não é na hora do parto que a pessoa deve decidir fazer uma massagem. Não vai funcionar", reforça Eliana.