Banheiros e cozinhas são os locais da casa mais lembrados quando se avalia o risco de queda entre a população idosa. Um levantamento realizado pelo serviço de teleassistência TeleHelp, porém, mostrou que outro ambiente deveria receber mais atenção da família: o quarto ou dormitório.
Com base em mais de 600 ocorrências de quedas atendidas pelo serviço, entre janeiro e setembro de 2019, 34% dos acidentes tiveram lugar nos dormitórios dos idosos. Na sequência, 16% ocorreram na sala, 12% no banheiro, 9% na cozinha, 3% nos corredores e outros 3% nas áreas externas da casa.
Os dados, na opinião do médico geriatra Vitor Last Pintarelli, reforçam o cuidado que toda família deve ter: as quedas acontecem em qualquer ambiente. “As quedas podem acontecer em qualquer local e, de fato, dependendo da população analisada, esses levantamentos podem ter diferentes respostas. O local mais habitual costuma ser ainda o banheiro, e há uma série de motivos para isso, como ser o ambiente mais úmido e mais escorregadio. Mas há relatos de quedas que acontecem no quarto, que são compreensíveis por outras razões”, explica o geriatra, que é também presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, seção Paraná (SBGG-PR).
“Mesa de centro, criado mudo são móveis baixos que a pessoa pode tropeçar, mas também chinelos soltos, degraus, taco solto do piso, irregularidades no chão e o uso de calçados inadequados. Se houver o hábito de mexer muito na posição da mobília ou objetos sem um lugar fixo, que ficam no meio do caminho, esses são obstáculos reconhecidos”, diz Pintarelli.
Como forma de prevenção, o médico geriatra sugere que as famílias evitem mexer na posição dos móveis. Assim, mesmo acordando de madrugada, os idosos sabem por onde caminhar sem esbarrar em nada. “De preferência, [móveis] firmes, altos, que possam servir de apoio seguro, caso o idoso precise se apoiar neles para ter mais estabilidade enquanto caminha”, diz.
Colocar barras de apoio nos ambientes mais vulneráveis, como no box e próximo ao vaso sanitário do banheiro, também é uma recomendação válida.
Quartos em risco
Dos motivos que levariam a um aumento no risco de quedas nos quartos, o geriatra lista:
- Hipotensão postural: quando a pessoa se levanta da cama rapidamente e, com isso, pode haver uma queda da pressão arterial, bastante comum entre os idosos;
- Caminhar no escuro: ao levantar da cama, de madrugada, sem acender a luz, a pessoa pode tropeçar em móveis, tapetes, chinelos ou mesmo nos animais de estimação que estiverem próximos;
- Tapetes ao pé da cama: deixar objetos muito próximos da cama também podem favorecer a queda, como os tapetes soltos e os chinelos;
- Móveis baixos: a presença de móveis demais e de baixa altura também podem ser obstáculos que predispõem à incidência de quedas.
Horário da queda
O levantamento da TeleHelp também verificou dois horários do dia em que há maior predisposição às quedas: 11h e 19h. “No início da noite, às 19h, podemos presumir que há alguma influência da menor luminosidade do dia, caso a pessoa não esteja com as luzes da casa acesas e caminha pela penumbra”, sugere o geriatra.
Com relação ao horário das 11h, esse é o momento de maior movimentação para parte dos idosos, que podem estar preparando o almoço na cozinha ou desempenhando outra atividade doméstica.
Fatores de risco
Quanto mais avançada a idade da pessoa, maior o risco de quedas. Há, no entanto, outros fatores que podem predispor ao risco, conforme orientações do geriatra Vitor Pintarelli.
“Pessoas com a saúde mais debilitada, com osteoporose, por exemplo, têm o risco de fratura aumentado. As consequências de uma queda entre essa população também podem ser mais graves”, explica.
“Pessoas com a saúde mais debilitada, com osteoporose, por exemplo, têm o risco de fratura aumentado. As consequências de uma queda entre essa população também podem ser mais graves”, explica.
Sarcopenia é agravante
A sarcopenia, ou a perda de massa e força muscular, é outro fator de risco e deve ser diagnosticada precocemente em consulta ao geriatra. Através de um exame clínico de rotina nos consultórios, o médico verifica o risco da condição a partir da medição da circunferência da panturrilha do paciente.
O parâmetro de referência é de 35 cm para homens e 34 cm para mulheres. A diferença acontece porque homens tendem a ter, naturalmente, panturrilhas mais grossas que as mulheres. “Quando diminuída, é um sinal sugestivo de sarcopenia. Há equipamentos, como os dinamômetros, que verificam a força musculação da mão. A circunferência da panturrilha e a pressão manual já dão uma ideia se o paciente é sarcopênico”, explica o geriatra.
No caso da osteoporose, mulheres após a menopausa devem realizar periodicamente exames de densitometria óssea, especialmente se houver histórico familiar da doença.
Se a pessoa tiver passado por uma fratura, especialmente devido a um trauma de baixo impacto, ou se fizer uso de medicamentos que reduzem a massa óssea, como anticoagulantes, corticoides e anticonvulsionantes, o monitoramento médico também é indicado.
Prevenção
Além das mudanças físicas na casa, os idosos podem adotar um novo estilo de vida de forma a prevenir as quedas, como:
- Ir com frequência ao consultório do geriatra para receber o diagnóstico precoce e o tratamento de osteoporose e sarcopenia, evitando o enfraquecimento ósseo e muscular;
- Manter uma alimentação adequada, com alimentos ricos em proteínas;
- Praticar regularmente exercício físico para fortalecimento da musculatura;
- Manter uma rotina de exercícios que melhoram o equilíbrio, como o Tai chi chuan.
“As quedas devem ser prevenidas porque as consequências podem ser bastante graves. Mas, uma queda não deve ser vista como o início do fim, embora a primeira recomendação seja ter atenção e adotar as medidas de prevenção”. Vitor Last Pintarelli, médico geriatra.
“As quedas devem ser prevenidas porque as consequências podem ser bastante graves. Mas, uma queda não deve ser vista como o início do fim, embora a primeira recomendação seja ter atenção e adotar as medidas de prevenção”. Vitor Last Pintarelli, médico geriatra.