Estudo da Alemanha que analisou obrigatoriedade de máscaras nas cidades concluiu que as máscaras podem reduzir significativamente as infecções de Covid-19.
Pessoas usam máscaras para se proteger do coronavírus em Essen, Alemanha, 9 de dezembro| Foto: INA FASSBENDER/AFP

A Alemanha anunciou recentemente novas medidas rígidas de restrição para conter transmissões do novo coronavírus. Em meio ao cenário preocupante, uma situação ainda mais grave pode ter sido evitada pela adoção de uma medida simples: o uso de máscaras. Um estudo recente da Alemanha indicou que o uso do acessório de proteção pode levar a uma queda significativa no número de novos casos de Covid-19.

O estudo comparou dados de 401 distritos municipais alemães que tornaram o uso de máscaras obrigatório em diferentes momentos. Os pesquisadores concluíram que nesses lugares houve queda de 45% das novas infecções 20 dias após a adoção da medida – os números variaram de 15% a 75% entre as regiões. A redução dos casos foi maior entre as pessoas com mais de 60 anos.

Como a adoção das máscaras é uma medida de custo muito baixo, comparado ao de outras medidas como fechamento de comércio e escolas, essa parece ser uma forma economicamente viável de ajudar no combate à Covid-19, segundo os pesquisadores, de universidades da Alemanha e Dinamarca. Os resultados foram publicados no periódico científico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Na cidade de Jena, que foi a primeira a tornar o uso de máscaras obrigatório, no começo de abril, o número de novos casos de Covid-19 caiu para quase zero – segundo os pesquisadores, as transmissões na cidade foram 75% menores do que o que foi estimado na comparação com o grupo controle. Em seguida, seis outras regiões passaram a exigir as máscaras em locais públicos antes do restante do país. Seguindo esses bons resultados, todos os estados alemães já tinham obrigado o uso das máscaras no fim de abril.

Os pesquisadores ressaltam que outros países podem ter resultados diferentes por causa de condições climáticas, diferentes regras e aceitação da população. Ainda, o estudo não avaliou quais tipos de máscaras foram usadas pela população.

A máscara sozinha não é capaz de impedir totalmente o contágio do coronavírus, mas sim de diminuir os riscos de transmissão – como o próprio aumento recente de casos em regiões da Alemanha demonstra. A Organização Mundial da Saúde diz que o uso de máscara deve ser aliado a outras precauções como manter distanciamento físico, ventilar os ambientes, evitar aglomerações e higienizar as mãos.

O uso correto de máscaras que cobrem nariz e boca é importante porque pessoas infectadas que não têm sintomas também podem transmitir a doença para outros. O acessório evita que alguém espalhe o vírus e também protege quem o usa de infecções. O Sars-CoV-2 é transmitido principalmente por gotículas produzidas por pessoas infectadas ao tossir, espirrar, cantar, falar ou respirar, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA. Gotículas muito pequenas que contêm o vírus podem permanecer no ar por um período prolongado.

Carlos Zárate-Blades, pesquisador do Laboratório de Imunorregulação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), explica como acontece a infecção por aerossóis: “Quando falamos, emitimos gotículas dos mais diversos tamanhos. As gotículas micrométricas seriam as principais responsáveis pela transmissão do novo coronavírus, porque têm capacidade de se manter no ar por muito mais tempo que uma gotícula grande, que pelo seu tamanho e peso tende a sedimentar [cair] mais rapidamente”.

Estudo de caso no Kansas

Uma situação semelhante foi vista no estado do Kansas, nos Estados Unidos. No fim de novembro o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA divulgou um estudo que analisou os casos de Covid-19 no Kansas após uma ordem de uso de máscaras no estado. Os condados que escolheram obrigar o uso de máscaras viram o número de infecções cair, enquanto os condados que não adotaram a regra continuaram com o aumento de casos da doença.

A ordem do governo do Kansas que exigia as máscaras entrou em vigor no dia 3 de julho, quando os casos de coronavírus estavam crescendo no estado. Mas 81 condados optaram por não adotar a regra, como é permitido pela lei estadual. Os outros 24 condados, que concentram a maior parte da população, seguiram a ordem e tornaram o uso de máscara obrigatório em lugares públicos.

O CDC e o Departamento de Saúde do Kansas analisaram a tendência de casos nos condados antes da exigência das máscaras e nos dois meses seguintes. Antes da regra, as taxas eram mais altas nos 24 condados que adotaram a obrigação, mas esses locais viram uma redução média de 6% dos contágios (calculada com a média de 7 dias de novos casos per capita). Já os estados sem obrigação de máscara tiveram aumento de 100% de novos casos.

Os próprios autores do estudo ressaltam que a pesquisa teve limitações, como a falta de informações sobre o comportamento da população em relação às máscaras. No entanto, os resultados são consistentes com as quedas nas transmissões nos 15 estados americanos, além do Distrito de Columbia, que obrigaram o uso do equipamento de proteção.

Máscaras aumentam níveis de dióxido de carbono?

Uma preocupação comum que algumas pessoas têm é se a máscara de tecido pode diminuir os níveis de oxigênio e aumentar os de dióxido de carbono no corpo humano.

Desde o início da pandemia, vários estudos foram feitos que comprovam que as máscaras caseiras não apresentam riscos de hipoxia, ou baixa oxigenação. Isso porque o dióxido de carbono se dissipa livremente pelo tecido durante a respiração.

Um desses estudos é o da American Thoracic Society, de outubro, que concluiu que os efeitos das máscaras são mínimos mesmo em pessoas com deficiência muito severa no pulmão. Os autores mediram os níveis de oxigênio e dióxido de carbono em indivíduos saudáveis e em veteranos com doença pulmonar crônica obstrutiva.

A sensação de falta de ar às vezes causada pela máscara, explicam os autores, não é sinônimo de alterações nas trocas gasosas. “Provavelmente isso ocorre pela restrição do fluxo de ar pela máscara especialmente quando uma ventilação maior é necessária (pelo esforço)”, disse Michael Campos, médico do Centro Médico de Veteranos de Miami e um dos autores do estudo. A solução é ir mais devagar, afrouxar a máscara ou retirar o acessório em uma distância segura de outras pessoas.

Uma prova prática dessa conclusão é que profissionais da saúde trabalham durante longos períodos usando máscaras e não têm reações adversas por causa disso. Uma recomendação para quem se sentir desconfortável pelo uso da máscara é procurar falar menos e respirar pelo nariz, para diminuir a umidade do tecido.

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