Mesmo que não haja grande variação de peso ao longo da vida, vale avaliar a composição corporal na terceira idade.
Mesmo que não haja grande variação de peso ao longo da vida, vale avaliar a composição corporal na terceira idade.| Foto: Bigstock

O tempo passou e seu peso não alterou muito? Essa notícia positiva, quando analisada a fundo, pode revelar algo mais sobre a sua saúde no envelhecimento. Isso porque a perda progressiva de massa muscular chega ao ápice aos 60 anos, enquanto a massa gordurosa tende a se acumular.

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Nessa idade é comum constatar a perda de até 40% da massa magra. “Então, mesmo tendo-se um peso similar ou até menor ao que se tinha aos 40 anos, aos 60 anos ele corresponde a essa nova proporção entre massas, com mais gordura, que se deposita em diversos locais, o que nem sempre significa que se está mais ou tão saudável quanto antes”, diz a endocrinologista Jacqueline Rizzoli, diretora da Abeso e médica do Centro de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital São Lucas, da PUCRS.

Esse desequilíbrio entre o aumento da gordura e a redução da massa magra chama-se sarcopenia, que pode levar à obesidade sarcopênica, como explica Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), que acontece quando se engorda tendo cada vez menos massa magra, o que pode impactar tanto em doenças cardiovasculares quanto em mais quedas e fraturas.

Segundo ele, o natural é engordar ao envelhecer, pois a taxa metabólica basal reduz com o tempo e, com isso, o gasto energético fica menor. Porém, como se costuma manter certa ingesta de calorias, a tendência é de ganho de peso corporal. “Entre 26 e 30 anos tem início um processo maior de redução dessa taxa e estima-se que após os 40 anos a redução seja de 10% por década”, diz Ribas Filho.

Depois, a partir dos 70 anos, passa a ocorrer um declínio paralelo tanto da massa magra quanto da massa gordurosa, com aumento do depósito de gordura visceral no fígado e nos músculos, o que pode contribuir para o surgimento de intolerância à glicose, diabete e de outros problemas de saúde.

Quanto ganha?

O incremento natural de peso ao longo do tempo varia com o perfil metabólico da pessoa, mas quem sempre foi magro, segundo Jacqueline, deve ficar dentro de uma faixa de normalidade com ganho de 2 a 5 kg em relação à vida adulta. Mas quem sempre teve maior propensão a engordar pode ter um aumento bem maior que esse, e acima disso o peso começa a trazer prejuízos maiores à saúde. “E há uma diferença entre sexos: as mulheres acabam engordando mais que os homens por naturalmente terem um porcentual de massa magra menor que eles”, diz Durval Ribas Filho.

Na menopausa, a diminuição hormonal tanto do estrógeno quanto da testosterona é o que mais influencia no contexto do aumento do peso. A testosterona estimula a manutenção da massa muscular, que está relacionada ao gasto energético basal. “Mesmo em repouso, com massa muscular adequada, você queima mais calorias, então quanto menos estímulo de testosterona para isso, menor a queima e maior o depósito de gordura”, diz a médica Maria Fernanda Barca, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e da Sociedade Europeia de Endocrinologia.

“Homens têm massa muscular maior e queimam mais calorias do que as mulheres, mas o ganho de peso varia dependendo da atividade física, metabolismo, resistência à insulina, síndrome metabólica, sedentarismo, qualidade de vida, o quanto bebem. Tudo isso dita essa variação de ganho de peso masculino e feminino ao longo do tempo”, diz ela.

Cálculo não muda

Para saber se o peso é saudável aos 60 anos o cálculo do IMC (peso dividido pela altura ao quadrado) continua o mesmo, assim como os parâmetros de medição da circunferência abdominal e da relação abdome e quadril, preditores de problemas de saúde. Segundo Jacqueline, a circunferência abdominal deve ser medida com fita métrica a faixa média entre a última costela e a parte de cima do osso do quadril e deve ficar abaixo de 95 cm para os homens e 85 cm para as mulheres. “Quanto maior o acúmulo de gordura abdominal, maior a quantidade de gordura visceral nos órgãos internos, o que aumenta o risco de diabete, hipertensão, colesterol e triglicerídeos altos, podendo promover o acúmulo de gordura no fígado (esteatose) e problemas circulatórios, infartos e AVCs”, diz ela.

Segundo Durval Ribas Filho, apesar de o cálculo do IMC aos 60 anos ser o mesmo, o valor considerado normal nessa faixa etária pode ser maior, mas sem ultrapassar 30, que seria o limite do sobrepeso para outras idades. E ele faz um apontamento: “a circunferência abdominal tem conotação importante somente quando comparada com a circunferência do quadril; valores acima de 0,85 para mulher e 0,95 para homens (divide-se a medição do abdome pela do quadril) são preditores de doenças cardiovasculares e metabólicas”, diz ele.

Maria Fernanda cita que a densitometria corporal total pode ser uma boa alternativa para avaliar a gordura corporal e a massa muscular. “Muitas vezes a pessoa se pesa na balança, pode até parecer que está em pouco sobrepeso, mas quando faz uma análise melhor, vê que praticamente não tem musculo, tem mais gordura e assim ela passa a ser reclassificada como sobrepeso ou mesmo obesa”, diz ela.

Para quem quer evitar esse quadro de obesidade sarcopênica, segundo Jacqueline, e que busca o emagrecimento na terceira idade, ela indica que busque uma boa orientação para não causar ainda maior perda de massa muscular. “Invista em avaliação nutricional adequada, incorporando além da dieta, alguma atividade física para que esse resultado seja completo", finaliza.

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