Herpes-zóster: avanço da idade pode reativar o vírus da varicela
| Foto: Bigstock

Solange*, após caminhar pelas quadras do bairro onde mora, começou a sentir um leve desconforto na coluna e região abdominal. Contudo, o incômodo não diminuiu. Pelo contrário, após alguns dias, as dores se intensificaram, causando até mesmo falta de ar, somado a uma sensação de queimação nas costas. Preocupada, a psicopedagoga curitibana de 53 anos, ao procurar um médico, recebeu o diagnóstico: herpes-zóster.

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Conhecida popularmente como cobreiro, a doença é causada pelo vírus varicela zóster, através da reativação do vírus da catapora. Ou seja, acomete apenas aqueles que já contraíram a varicela anteriormente, provavelmente na infância, como é o caso de Solange que teve catapora aos 5 anos. “O vírus fica adormecido, latente nos gânglios sensitivos e quando é reativado, segue a trajetória do nervo que irriga a localização onde se encontra, trazendo dores e lesões na pele”, explica o médico infectologista Antônio Carlos Bandeira.

E como se dá a reativação do vírus?

A responsável por isso, segundo o especialista, que é membro diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia, é, frequentemente, a queda nos níveis de anticorpos do vírus da catapora no organismo, “que por não conseguir mais manter inibido, o reativa na forma do herpes-zóster”.

Bandeira destaca que a baixa da imunidade é comumente causada pela diminuição dos anticorpos protetores, com o envelhecimento natural do corpo, a partir dos 50 anos de idade. Além disso, ele destaca que doenças que deprimem o sistema imunológico, como HIV, câncer, doenças autoimunes e remédios imunossupressores como corticoide de uso prolongado e quimioterápicos, também contribuem para tanto.

Porém, a probabilidade do vírus se manifestar novamente nas pessoas que tiveram catapora é muito individual e não pode ser prevista, segundo o dermatologista Egon Luiz Rodrigues Daxbacher. “Antes da vacina para catapora, muitas pessoas foram contaminadas, então a reativação do vírus pode se dar por diferentes fatores conforme as circunstâncias de cada paciente, inclusive por um período de estresse”.

É importante estar atento aos sinais de alerta

Daxbacher indica que os primeiros sinais de alerta, costumeiramente, são o surgimento de dor semelhante à queimação, que pode ser confundida até mesmo com uma dor ou pinçamento de coluna, assim como Solange narrou.

“E, posteriormente, surgem bolhas de água na pele, no trajeto do nervo acometido, formando, muitas vezes, uma lesão circular ou linear”, acrescenta ele, que também é coordenador do Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Após sete ou dez dias, as lesões deixam de ficar avermelhadas, tornando-se crostosas. Porém se a infecção for intensa ou as lesões forem mau cuidadas, uma infecção bacteriana secundária pode atingir as feridas e resultar em agravamento na saúde do paciente e em cicatrizes futuras. “Especialmente se a pessoa se expõe ao sol durante o período de contaminação e após três meses da cicatrização das lesões”, alerta Bandeira.

Mais do que bolhas, zóster pode causar muita dor

Contudo, principalmente após os 50 anos, além das lesões dermatológicas, o paciente pode sofrer com dor temporária, permanente ou com hipersensibilidade no local, causada por uma transmissão anômala no nervo sensitivo. “Ela é de origem nervosa, contínua e debilitante, que segue o trajeto do nervo acometido pelo vírus e pode durar o período em que está ativo ou tornar-se crônica, chamada de neuralgia pós herpética”, indica o médico infectologista Antônio Carlos Bandeira

E, dependendo do nervo envolvido no processo, o paciente pode ter acometimento da audição, visão, paralisia facial e até mesmo repercussão em outros órgãos, como no sistema nervoso central, causando encefalite ou outro problema mais grave, salienta o dermatologista. “Além disso, em situações menos frequentes, pode gerar um quadro de meningite viral pelo vírus da varicela zóster”, acrescenta Bandeira.

Tratamento especializado é essencial para a recuperação

Embora seja da mesma família da herpes labial e genital, a zóster não configura a mesma patologia. Por isso, exige cuidados médicos específicos, capazes de encurtar os sintomas da doença e evitar complicações e sequelas. “São vírus diferentes: um é o da varicela e outro é o herpes. Eles causam manifestações dermatológicas diferentes”, destaca explica o dermatologista Egon Luiz Rodrigues Daxbacher.

Portanto, o dermatologista indica que o tratamento seja realizado com antivirais específicos para combater a proliferação do vírus e medicação local para tratar as lesões dermatológicas, evitando infecções com uma assepsia correta. E, se não diagnosticada a patologia ou se tratada de forma incorreta, o paciente pode permanecer com dor e lesões por mais tempo.

Antes prevenir do que remediar

Mesmo que realizado o tratamento adequadamente, a zóster pode retornar, ainda que não seja tão comum, já que, com a reativação do vírus, o organismo produz nova quantidade de anticorpos. “A probabilidade é maior quando se é muito jovem, considerando a expectativa de vida. Se for em um idoso é mais difícil de acontecer novamente. Mas, claro, nem na frequência e nem na forma do herpes simples, como na boca”, tranquiliza o dermatologista.

Contudo, acometido da catapora na infância, embora não exista formas de prever se o paciente terá ou não herpes-zóster no futuro, atualmente há uma vacina capaz de diminuir 90% a chance da reativação do vírus, indicada para pacientes com deficiência da imunidade ou após 50 anos de idade. “É uma vacina eficaz, que pode prevenir porque mantém o nível de anticorpos altos”, destaca o infectologista.

É importante destacar que as pessoas vacinadas contra a varicela não estão imunizadas contra um futuro risco de desenvolver herpes-zóster. Isso porque a composição da vacina é diferente.

Portanto, considerando que as lesões bolhosas da zóster contém o vírus da catapora, o paciente pode transmitir para aqueles que não foram imunizados, devendo evitar contato próximo, principalmente de crianças e idosos, conclui Bandeira.

*Solange é um nome fictício para preservar a identidade da personagem citada na reportagem.

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