A faixa etária em que é mais comum o aparecimento da diabete infantil tipo 1 é em torno dos 4 e 10 anos de idade.
A diabete tipo 1 exige dos pais muita atenção com as medições da glicemia e o cálculo da aplicação correta de insulina.| Foto: Bigstock

A diabete tipo 1 costuma aparecer na infância, mas também entre adolescentes e adultos jovens. Diferentemente da diabete do tipo 2, exige reposição de insulina e representa um desafio grande também para os pais, que devem enfrentar medos e limitações para levar o tratamento da doença, que não tem cura, do melhor modo.

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Apesar de não ter uma idade certa para aparecer, é mais comum surgir em torno dos 4 anos de idade e dos 10 anos de idade, como cita Gabriela Kraemer, responsável pelo Serviço de Endocrinologia do Hospital Pequeno Príncipe. A diabete tipo 1 atinge meninos e meninas de forma igual, sem predomínio de um sexo sobre o outro.

Quais são os sintomas da diabete tipo 1 em crianças

Os pais devem ficar atentos aos sintomas chamados “poli”, a poliúria (muita urina), polifagia (comer muito), polidipsia (beber muita água, mas com perda de peso), diz Renata Machado, membro do Departamento Científico de Endocrinologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. “Isso ocorre, pois a insulina mantém a glicemia no sangue e, quando sua ação se perde, o nível de açúcar no sangue aumenta e o corpo equilibra levando a eliminá-lo pela urina, levando água junto, o que desidrata e exige que se tome muita água", diz ela.

Outro resultado dessa hiperglicemia é que a pessoa acaba tendo muito açúcar no sangue, mas ele não entra na célula, que passa "fome". "A pessoa come muito, mas tudo vai embora, então esta condição é denominada fome na abundância”, diz Renata. 

E além de ficar atento quando seu filho começa a tomar mais água e urinar mais vezes que o habitual – até a noite, na cama – e quando começa a ter mais fome, mas com perda de peso, são outros sintomas do diabete tipo 1, diz Gabriela, o cansaço, a tontura, a palidez e o desânimo.

Hereditariedade, mas com influência ambiental

A diabete tipo 1 é uma doença auto-imune e hereditária, caso tenha um irmão ou pais com a doença, a chance de se ter a doença é maior, como explica Gabriela.

Porém, diz Renata, a diabete não é uma doença "mendeliana", que tem uma única causa genética definida, nem no tipo 1, nem no tipo 2. “Então são necessários vários genes que confiram esse risco, que junto com fatores ambientais levam a alterações imunológicas que vão lesando o pâncreas, até que comecem a surgir as manifestações clínicas da doença”, diz ela.

Então, além da susceptibilidade genética, que por si só não é suficiente, deve-se somar algo no ambiente que seja desencadeante, como medicamentos, contato com desreguladores ou disruptores endócrinos, sazonalidade, região geográfica e, principalmente, alimentos e infecções virais. “Do alimentar o destaque está na introdução precoce do leite de vaca, que não deve ser alimento para bebês, porque há uma sequência de aminoácidos nele que é similar à sequência encontrada em uma proteína da célula Beta, que fica no pâncreas e que produz a insulina”, explica a pediatra.

Assim, diz Renata, introduzir precocemente o leite de vaca, em indivíduos suscetíveis, poderia causar uma "confusão" que faria o organismo se defender dessa proteína de outro animal, criando anticorpos contra a própria célula Beta, o que no final resultaria no surgimento da diabete tipo 1. “Algumas infecções também podem servir de gatilho como a Coxsackie, rubéola congênita, citomegalovírus, Epstein-barr (mononucleose), o rotavírus – inclusive a vacina poderia prevenir o apareciemnto da condição em suscetíveis – e até a Covid-19, cuja influência no surgimento da diabete tipo 1 está sendo estudada”, diz Renata.

A pediatra diz ainda que quando o indivíduo tem uma redução das células Beta produtoras de insulina e chega a 20% de funcionantes, um estresse grande que aumente hormônios que interfiram na produção da insulina pode desencadear a doença. "Um evento psicológico muito impactante como uma morte ou separação não causam, mas podem desencadear a doença", diz ela.

Desafios dos pais

Entre os principais desafios iniciais dos pais e filhos em relação a um diagnóstico infantil de diabete tipo 1, uma das primeiras coisas com as quais a família precisa se adaptar, segundo Gabriela, é com a rotina de medir repetidamente a glicemia e aplicar insulina quatro a cinco vezes ao dia. “É importante que se controle a quantidade de carboidratos ingeridos em cada refeição e o nível da glicemia, para que seja adaptada a dose de insulina a ser aplicada”, diz ela.

Para Renata, soma-se a esse acompanhamento metódico lidar com a culpa em relação à doença do filho. “Os pais precisam entender que não é culpa de ninguém se um DNA foi transmitido ou se a criança acabou adquirindo o rotavírus, então o melhor é lidar com isso dali para frente, pois a doença não surgiu de algo que você fez ou deixou de fazer”, diz ela.

Essa página de responsabilidades deve ser logo virada, segundo ela, porque as exigências da doença são grandes, visto que essa criança vai precisar tomar injeções de insulina por toda a vida, pois que não há comprimidos de insulina. "Essa criança tem que ter monitorada a glicemia, são várias injeções por dia, então os pais vão ter que aprender sobre a absorção de carboidrato, como age a insulina e fazer cálculos de quanto deve ser aplicado. Porém, muita gente não sabe conduzir ou demora a compreender os detalhes desse tipo de condição: os pais acabam tendo que se virar e aprender a atuar, como verdadeiros 'enfermeiros' dos filhos, até que tenham autonomia”, diz Renata.

Sintomas da diabete para sempre

Mesmo quando a diabete tipo 1 é estritamente controlada, com medicamentos e bons hábitos de vida, ainda há alguns sinais que ficam e com os quais a pessoa deve conviver para sempre. Segundo Gabriela, a criança deve ter uma rotina regrada de alimentação, medida da glicemia, atividade física, aplicação de insulina, consultas médicas e exames laboratoriais. “E mesmo quando tudo isso é feito corretamente, há o risco de complicações agudas como a hipoglicemia, quando o açúcar baixa muito rapidamente no sangue, e a hiperglicemia, quando o açúcar está muito alto no sangue. Isso pode acontecer por estresse, por alguma doença como amigdalite e otite, comuns em crianças ou quando a criança aplica insulina e come menos do que o planejado. Já quando a criança faz mais atividade física e esquece de comer, isso pode levar à hipoglicemia e essas são todas chamadas complicações agudas do diabetes tipo 1", diz ela.

Por outro lado, as complicações crônicas podem acontecer nos rins, na retina, no coração e em outros órgãos a longo prazo, quando a doença é mal controlada, isso é, quando por muito tempo o paciente deixa de fazer as aplicações corretas.

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