Álcool gel| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
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O avanço do novo coronavírus pelo país em meio às orientações para higienizar as mãos – fundamental para evitar o contágio – causou uma corrida às lojas em busca de álcool gel e consequente escassez.

Quando as gôndolas e prateleiras de farmácias e supermercados não estão vazias, o produto chega a custar muito acima do normal, levando o consumidor a procurar receitas caseiras.

Nos últimos dias, uma série de receitas para fazer álcool gel em casa circula pela internet e, muitas delas, colocam a saúde das pessoas em risco, segundo o Conselho Federal de Química (CFQ). Conforme a entidade, além da falta de segurança e eficácia, a prática contraria a legislação.

A maioria das receitas compartilhadas na internet traz o álcool líquido concentrado como ponto de partida e, depois, inclui itens como gel de cabelo, gelatina incolor e outras substâncias.

"Quando se utiliza álcool líquido em elevadas concentrações, aumenta-se bastante o risco de acidentes que podem provocar incêndios, queimaduras de grau elevado e irritação da pele e mucosas [...] Além disso, a depender do que se utiliza como espessante, ao invés de eliminar microrganismos pode-se potencializar sua proliferação", alerta o CFQ.

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Rígido controle

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O órgão lembra que os produtos industrializados passam por rígido controle na produção, com padrões a serem seguidos, diferentemente de receitas e métodos caseiros que não têm qualquer controle e, portanto, não garantem eficácia.

Para Marco Fiaschetti, diretor executivo da Associação Nacional dos Farmacêuticos Magistrais (Anfarmaq), que representa as farmácias de manipulação, fazer o produto em casa é completamente descabido.

"Nunca tentem fazer em casa. Vimos receitas com gel de cabelo, gelatina e até amido de milho. Para obter a concentração adequada, estabilidade, segurança e eficácia é preciso ter condições técnicas, matéria prima adequada e equipamentos, que só as farmácias e a indústria possuem". 

Segundo Fiaschetti é preciso alertar a população até para as vendas sem procedência que estão acontecendo. "Em São Paulo temos recebidos relatos de ambulantes vendendo álcool gel de origem duvidosa. Em qual condição isso foi produzido? A pessoa acha que está se protegendo, mas pode ser a porta de entrada para reações alérgicas e contaminações", diz.

"Nunca tentem fazer em casa. Vimos receitas com gel de cabelo, gelatina e até amido de milho. Para obter a concentração adequada, estabilidade, segurança e eficácia é preciso ter condições técnicas, matéria prima adequada e equipamentos, que só as farmácias e a indústria possuem" - Marco Fiaschetti, diretor executivo da Associação Nacional dos Farmacêuticos Magistrais (Anfarmaq).

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Existem alternativas?

O álcool gel é um produto antisséptico, ou seja, combate infecções por impedir a proliferação de micro-organismos em tecidos vivos como pele e mucosas. Logo, a composição deve ser pensada para não causar irritação.

Na falta do álcool gel, a recomendação das autoridades em saúde é usar água e sabão, que também removem os microrganismos da pele.

O Conselho Federal de Química lembra ainda que existem outras substâncias classificadas como antissépticos (como clorexidina, compostos clorados, quaternários de amônio). No entanto, o álcool etílico, em gel, em soluções 70%, garantem melhor eficácia, segundo as recomendações dos químicos, da OMS e do Ministério da Saúde do Brasil.

Maior % não garante maior eficácia

Ao contrário do que possa parecer, soluções com graduação alcoólica maiores que os 70% não têm uma eficácia maior, mas sim menor.

"Isso se explica pelo fato de a evaporação ser mais rápida, diminuindo o tempo de contato do álcool com o patógeno e, também, devido a necessidade de água para conduzir o álcool ao interior da célula do microrganismo. Sem a água, ou com água em baixas proporções, o álcool desidrata o micro-organismo sem matá-lo", explicam os químicos.

Considerado alternativa, o álcool isopropílico deixa a pele mais seca e tem ação sobre o vírus inferior ao álcool etílico. O produto é mais recomendado para limpar equipamentos eletrônicos.

O que diz a legislação brasileira

Desde 2013, a venda de álcool líquido em concentrações superiores a 54 °GL* está desautorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), conforme resolução RDC nº 46, de 20 de fevereiro de 2002.

A resolução considerou os riscos oferecidos à saúde pública decorrentes de acidentes por queimadura e ingestão.

Para soluções com graduação acima de 54 °GL, a norma permite a forma em gel.

*GL é a abreviação de Gay-Lussac e o °GL observado nos rótulos refere-se a uma relação percentual de volume. Assim, quanto maior a graduação, maior a quantidade percentual de álcool.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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