A principal causa da fibromialgia é a alteração da percepção da sensação de dor, mas outros fatores também podem contribuir para o problema
A principal causa da fibromialgia é a alteração da percepção da sensação de dor, mas outros fatores também pode contribuir para o problema| Foto: Bigstock

“Minha dor é invisível, mas eu não sou!”, desabafa Janaína Dutra, intérprete de libras que enfrentou dores no corpo sem causa aparente por mais de vinte anos até receber a confirmação do diagnóstico: fibromialgia.

A dor enfrentada pela líder voluntária da Associação Nacional de Fibromiálgicos (Anfibro) impôs que ela deixasse de exercer suas atividades como intérprete para preservar seus braços e pernas. Com isso, passou a cursar pedagogia em busca de uma recolocação profissional.

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Assim como ela, muitos pacientes diagnosticados com a doença citam essa dor difusa, presente em diversos pontos do corpo, como principal queixa no dia a dia. No entanto, o reumatologista Fernando Chiuchetta explica que esse não é o único sintoma, já que o problema também está associado à falta de energia, cansaço excessivo após dormir muitas horas, distúrbio do sono, formigamento em mãos e pés, ansiedade, depressão e até dificuldades cognitivas como problemas para se concentrar por longos períodos.

“Eu, por exemplo, sentia dores na raiz do cabelo, exaustão, insônia, crises de choro, nevoeiro mental, perdi minha agilidade e também a capacidade de realizar atividades rotineiras”, relata Janaína, que começou a perceber os sinais na adolescência, mas só descobriu que era fibromialgia aos 34 anos.

De acordo com Chiuchetta, que atua como coordenador da Comissão de Dor, Fibromialgia e Outras Síndromes na Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), a demora para receber o diagnóstico ocorre porque, de maneira geral, ele é realizado pela observação da história do paciente, exame físico e por meio de testes laboratoriais que excluam a possibilidade de outras condições com sintomas semelhantes.

Além disso, a fibromialgia pode aparecer em pacientes que apresentam diferentes doenças reumáticas, como artrite reumatoide e lúpus eritematoso sistêmico, o que também dificulta o diagnóstico e o tratamento desses pacientes.

No caso de Janaína, outro fator que interferiu no processo foi sua idade, que fazia com que especialistas duvidassem da gravidade das dores que ela sentia. Por isso, a jovem foi submetida a inúmeras consultas médicas, dezenas de exames e intenso desgaste físico e psicológico até obter a resposta que procurava.

Causa e predisposição

E o problema atinge cerca de 150 milhões de pessoas no mundo, já que, segundo o reumatologista da SBR, quase 5% da população mundial adulta sofre com fibromialgia. Desse percentual, a maioria são mulheres entre 30 e 50 anos devido ao baixo limiar neurossensorial no público feminino, ou seja, a maior dificuldade que possuem de mudar o desconforto para dor.

Inclusive, o reumatologista explica que alguns estudos já indicam a alteração da percepção de sensação de dor como principal causa da doença. “Então, um estímulo que, para uma pessoa sadia não provoca tanta dor, gera o inverso em pacientes com fibromialgia, nos quais essa percepção é aumentada”, exemplifica o especialista, ao citar que a predisposição genética, traumas físicos, doenças graves e até dores sem tratamento adequado também favorecem o acometimento da doença, prejudicando a qualidade de vida do paciente e suas relações na família e no trabalho.

Portanto, o médico garante que é necessário receber acompanhamento especializado e realizar tratamento com exercícios aeróbicos e alongamentos. Além disso, ele incentiva o paciente a pesquisar a respeito da doença para lidar melhor com a dor crônica no dia a dia. “Lembrando que medicações como relaxantes musculares, antidepressivos, anticonvulsivantes e analgésicos serão muito úteis para diminuir a dor, melhorar o sono, aumentar a disposição e permitir a prática de exercícios", destaca.

Foi isso que fez diferença para Janaína. Após o diagnóstico, ela iniciou o tratamento com medicamentos, começou a fazer acupuntura e atividades aeróbicas, como caminhada e bicicleta. A voluntária também foi direcionada para uma equipe multidisciplinar com psiquiatra, nutricionista, psicólogo e fisioterapeuta, e hoje consegue lidar melhor com a dor. "Aprendi a controlar minha mente e a respeitar meus limites, sabendo até onde posso ir, sem cair em crises".

Sugestões para aliviar as dores:

  • Exercícios físicos são o grande remédio, principalmente aqueles que o paciente gosta e que lhe dão mais prazer.
  • Meditação é uma terapia complementar milenar que visa controlar a experiência subjetiva da dor, proporcionando diversos benefícios à saúde.
  • Espiritualidade e religiosidade também podem ajudar no enfrentamento da dor.
  • Medicamentos são úteis e devem ser usados, mas sempre com orientação médica.
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