Como consequência natural do envelhecimento há a diminuição da velocidade de raciocínio, redução da acuidade visual e força muscular
Como consequência natural do envelhecimento há a diminuição da velocidade de raciocínio, redução da acuidade visual e força muscular.| Foto: Bigstock

Deparar-se com uma situação de incapacidade para realizar atividades básicas do dia a dia, não é algo fácil de ser superado, principalmente se causada pelo avanço da idade. E dirigir pode ser uma dessas situações, já que é um ato complexo, que requer o pleno funcionamento das áreas físicas, sensoriais e cognitivas. 

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Marina Siqueira Campos, terapeuta ocupacional na clínica-escola de terapia ocupacional da Universidade Federal do Paraná - UFPR, explica que mesmo para um idoso saudável, essas funções podem entrar em declínio. Isso porque, como consequência natural do envelhecimento há a diminuição da velocidade de raciocínio e planejamento motor, bem como redução da acuidade visual, de destreza e força muscular.

Por isso, considerando que não há limitação de idade para direção veicular imposta por lei, os sinais dados pelos idosos, como a demora acentuada num percurso conhecido, a aflição e a irritação demasiada no trânsito, e até mesmo colisão do carro, por menor que seja, como esbarrar em algum local ou subir no meio fio, alertam para necessidade de buscar uma avaliação profissional. “Quando existe um impedimento, se o idoso dirigir estará fadado a dois desfechos: causar lesão e morte em acidentes de trânsito em outras pessoas ou a si mesmo”, explicou Ricardo Barcelos Ferreira, especialista em psiquiatria geriátrica, durante 39º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, realizado em Fortaleza, no início de outubro.

Antes de proibir, avaliar 

Os idosos que apresentam as capacidades cognitivas preservadas e passam a identificar riscos na direção, segundo Marina, tendem a optar por parar de dirigir de forma espontânea. “Outras vezes, a proibição oficial costuma vir por meio dos órgãos de fiscalização de trânsito, no momento da renovação da carteira de habilitação, ou pelos membros da família”, conta Kelly Regina Dias Scipioni, também terapeuta ocupacional na clínica-escola da UFPR.

“O ideal é que esse tema seja construído na consulta com o médico antes de se observar sinais de perdas, para que junto com o paciente sejam construídas estratégias auxiliares caso ele venha perder a função de dirigir”, acredita Juliana Quintas, neuropsicóloga e especialista em gerontologia pela SBGG.

Antes de proibir qualquer pessoa de continuar no volante, é importante submetê-la a profissionais especializados, para observar o custo-benefício da suspensão da atividade. “Afinal, a autonomia para dirigir proporciona ao idoso liberdade de ir e vir e perder a autonomia de forma repentina pode acarretar alterações emocionais e sociais, até mesmo em quadros depressivos”, alerta Renato Nickel, professor Associado do Departamento de Terapia Ocupacional da UFPR.

"O ideal é que não seja uma proibição, e sim uma construção de novas estratégias para manter a autonomia do idoso, entre os familiares, o paciente e a rede de saúde", acrescenta Juliana que também é doutoranda em Ciências Médicas no tema de direção veicular e cognição.

Os médicos psicogeriatras e neurologistas podem fazer testes no consultório, que embora não sejam determinantes, mostram se o idoso se encontra em risco. “Isso indicará a necessidade ou não de uma avaliação neuropsicológica, que avalia todas as questões cerebrais e motoras, como movimento e equilíbrio”, explica Ferreira que é professor da graduação e coordenador do programa de Psicogeriatria da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Somado a isso, os terapeutas ocupacionais conseguem avaliar os pacientes em campo para determinar todas as áreas afetadas, destaca ele. “Se o desempenho autônomo e seguro na direção veicular é afetado pelo declínio de funções, devido ao processo de envelhecimento, a terapia ocupacional, primeiramente, realizará uma avaliação e, sendo possível, buscará estratégias para reabilitar ou adaptar visando favorecer o retorno à direção”, complementa Alexsandra Santos Silva, também terapeuta ocupacional na UFPR.

Dificuldades podem ser minimizadas 

Após avaliação e verificado que o idoso tem um impedimento parcial, o psicogeriatra, que é membro Titular do Departamento de Psiquiatria Geriátrica da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), orienta que o idoso não abandone a direção, desde que faça algumas adaptações com medidas que tornem a atividade mais segura. “Alguns deixam de dirigir ao anoitecer ou durante a noite, em horário de pico, em estradas de circulação muito rápida ou sozinhos. Inclusive há aqueles que preferem adotar trajetos mais seguros ao invés dos mais rápidos para fazer as suas atividades".

Além disso, algumas estratégias são utilizadas por terapeutas ocupacionais para ajudar as pessoas com limitações a realizarem atividades do dia a dia. Em geral, os especialistas da clínica-escola da UFPR orientam que as dificuldades de ordem física sejam minimizadas escolhendo um carro com características diferentes, como por exemplo, fazendo a troca da direção mecânica pela direção hidráulica ou elétrica e do câmbio manual para o automático. Já dificuldades como o aumento do tempo para perceber um obstáculo e a diminuição da velocidade de reação, maior dificuldade em manter a atenção dividida entre o que ocorre na sua via, dentro do carro e ao seu redor, por exporem o idoso a maiores riscos no trânsito, devem ser minimizados com mudanças de hábitos de direção.

A Clínica-Escola de Terapia Ocupacional da UFPR (CETO) presta serviços e atendimentos à comunidade de Curitiba e Região Metropolitana, com avaliação e orientação de motoristas idosos e pessoas com deficiência. “Desenvolvemos protocolos de avaliação específicos para diferentes condições de saúde, tais como o envelhecimento, Acidente Vascular Cerebral e Distúrbios do Movimento, incluindo Parkinson e Distonia Cervical”, finaliza Marina.

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