O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanon Ghebreyesus, anunciou na segunda-feira (16) que o novo coronavírus já causou a morte de jovens e crianças. O alerta foi feito porque se disseminou a informação de que apenas idosos e pessoas com doenças pré-existentes desenvolvem casos graves da Covid-19.
Ghebreyesus não deu detalhes sobre a quantidade de casos fatais envolvendo crianças e jovens, nem onde ocorreram as mortes. Mas reforçou a necessidade de seguir as medidas de prevenção e fazer testes para identificar pessoas infectadas pelo vírus.
“Esta é uma doença grave. Embora os dados que temos sugiram que aqueles com mais de 60 anos correm maior risco, houve mortes entre jovens e até entre crianças. A OMS publicou novas diretrizes clínicas, com instruções específicas sobre como cuidar de crianças, idosos e mulheres grávidas”, alertou o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde.
"Não podemos dizer universalmente que [o coronavírus] é leve em crianças. Então é importante que protejamos as crianças como uma população vulnerável", reforçou Maria van Kerkhove, diretora técnica da OMS.
A OMS afirmou estar especialmente preocupada com crianças desnutridas. “À medida que o vírus progride para países de baixa renda, estamos muito preocupados com o impacto que ele pode ter sobre grupos populacionais com alta prevalência de HIV ou entre crianças desnutridas”, disse o diretor-geral da organização.
Grupos de risco para o coronavírus
Os dados epidemiológicos do coronavírus em jovens e crianças indicam que, estatisticamente, eles não fazem parte do grupo de risco em que a doença desenvolve quadros mais graves – o que não significa que não haja casos nessas faixas etárias. Um estudo publicado no The Lancet por pesquisadores da China mostrou que os sintomas mais graves do coronavírus surgem em pessoas mais velhas e que tenham doenças crônicas.
O estudo avaliou os casos confirmados que deram entrada entre 1.º e 20 de janeiro de 2020 em um hospital de Wuhan, epicentro do surto na China. A média de idade era de 55 anos e 37% dos pacientes estavam acima dos 60. Entre os pacientes estudados, 55% possuíam doenças crônicas como diabetes, doenças cardiovasculares males digestivos ou respiratórios e câncer. Além disso, 75% dos participantes do estudo na China apresentaram uma pneumonia que afetou os dois pulmões.
Crianças apresentam menos sintomas, mas são transmissoras do coronavírus
Estudos feitos até agora sobre o coronavírus indicam que o vírus em geral causa menos quadros graves em crianças. Uma pesquisa publicada no The Pediatric Infectious Disease Journal na última sexta-feira (13) mostra que crianças e adolescentes respondem por apenas 2% das hospitalizações por causa do coronavírus.
A maioria dos pacientes já tinha outra doença pré-existente. O estudo mostrou, ainda, que as crianças tendem a desenvolver mais sintomas gastrointestinais por causa do vírus, mas ainda não há uma explicação científica para isso.
Um estudo realizado pela OMS e pelo governo chinês mostra que, apesar de os mais jovens ficarem menos doentes, transmitem o vírus a outras pessoas.
A taxa de letalidade na China é maior entre idosos acima de 80 anos (14,8%). Um estudo realizado com pacientes registrados no país até dia 11 de fevereiro no país mostra que não houve mortes entre crianças de 0 a 9 anos. A taxa de letalidade na faixa etária dos 10 aos 19 anos é de 0,2%.
Prevenção e testes
O diretor-geral da OMS reforçou nesta segunda-feira (16) a necessidade de adoção de medidas de prevenção contra o coronavírus. “Conclamamos todos os países e todas as pessoas a fazer todo o possível para interromper a transmissão. A lavagem das mãos ajuda a reduzir o risco de infecção, mas também é um ato de solidariedade, porque reduz o risco de transmitir a infecção a outras pessoas da comunidade e do resto do mundo. Não é apenas para você, mas também para outras pessoas”, afirmou Tedros Ghebreyesus.
Ele também ressaltou que é importante realizar testes para diagnosticar pessoas suspeitas de terem sido infectadas. “Mais uma vez, nossa principal mensagem é: testes, testes, testes”, disse.
“Você não pode combater um incêndio com os olhos vendados. E não podemos parar com essa pandemia se não soubermos quem está infectado”, disse o diretor-geral da OMS. “Medidas como lavar as mãos e cobrir a boca com o cotovelo ao tossir podem reduzir o risco para você e para os outros. Mas, por si só, não são suficientes para acabar com essa pandemia. É a combinação de todos eles que faz a diferença. Como sempre digo, todos os países devem adotar uma abordagem abrangente. Mas a maneira mais eficaz de prevenir infecções e salvar vidas é cortar as cadeias de transmissão. E para conseguir isso, você precisa testar e isolar”, reforçou Tedros Ghebreyesus.