A intubação não é a primeira escolha dos médicos e é necessária quando o paciente tem insuficiência respiratória
375 médicos morreram vítimas da Covid-19 desde o início da pandemia no Brasil| Foto: Bigstock

Pacientes mais graves de Covid-19 podem sofrer danos nos tecidos do pulmão que prejudicam a respiração. Se uma pessoa infectada chegar ao ponto em que os pulmões não conseguem fornecer oxigênio para o corpo ou não eliminam o dióxido de carbono adequadamente, a intubação pode ser necessária para salvar a vida desse paciente.

O procedimento não é a primeira escolha dos médicos. A intubação é necessária quando o paciente tem insuficiência respiratória, ou seja, não consegue respirar espontaneamente, e outras medidas mais brandas não conseguem reverter esse quadro. "Essas outras medidas são basicamente a oferta de oxigênio", diz Vinicius Avellar Werneck, cardiologista e intensivista do HCor. "Então, antes de um paciente ser intubado, tentamos medidas menos invasivas".

A primeira tentativa é a colocação de um cateter de oxigênio pelo nariz, para que o paciente continue respirando espontaneamente, mas com uma oferta maior de oxigênio do que a do ambiente. Se isso não funcionar, as próximas etapas envolvem dispositivos como o cateter nasal de alto fluxo, que também é introduzido pelo nariz mas permite um fluxo mais rápido de oxigênio. Depois vem a ventilação não-invasiva, feita com uma máscara de oxigênio que envolve todo o rosto do paciente e que, além de fornecer oxigênio em concentração mais alta, manda o ar com uma pressão maior.

"Se o paciente não melhorar com nenhuma dessas medidas, é necessária a intubação. Ele precisa de um tubo orotraqueal para ser conectado ao aparelho, um ventilador mecânico", explica Werneck. "Essa é uma forma mais invasiva, o paciente precisa ser sedado. Mas é uma forma de ventilação mais eficiente, principalmente para os pacientes mais graves".

O tubo é inserido pela boca e sua extremidade fica dentro da traqueia, o que causa uma sensação muito desconfortável para o paciente, com reflexos de náuseas, vômitos e dor. Por isso, o paciente é sedado imediatamente antes da intubação e permanece nesse estado durante a maior parte do tempo que estiver no respirador mecânico. Os sedativos começam a ser retirados quando o paciente começa a ter uma respiração mais espontânea, não totalmente comandada pelo aparelho, e são suspensos quando ele é capaz de respirar sozinho.

O tempo necessário de intubação varia muito, de acordo com a gravidade da doença. A Covid-19 se apresenta em uma grande variedade de quadros clínicos, desde os pacientes que não têm sintomas, os que têm sintomas leves, até os casos mais graves que precisam de intubação. "Mesmo o grupo de pacientes mais graves têm uma grande variedade. Alguns ficam três a cinco dias intubados, outros precisam de ventilação mecânica por semanas e, às vezes, até mais de um mês", explica o médico intensivista.

Riscos

No início da pandemia, os médicos não tinham certeza se os dispositivos menos invasivos pudessem ser usados com segurança no tratamento de Covid-19. A respiração não invasiva, por meio de máscara, emite muitos aerossóis e gotículas no ambiente, e por isso não havia certeza quanto ao risco de transmissão do coronavírus para a equipe de saúde. "Depois, estudos começaram a mostrar que esse procedimento é seguro, com algumas recomendações especiais; por exemplo, isolamento respiratório, um quarto com pressão negativa em que o ar saia e não fique acumulado. Então, havia restrição quanto a esses dispositivos no começo, e agora não", aponta Werneck.

Ainda assim, o processo de intubação exige muitos cuidados para reduzir os riscos para a equipe de saúde. "Nós começamos com todo um preparativo que não havia de forma tão rigorosa antes do coronavírus", diz o médico. Os profissionais precisam estar paramentados com óculos de proteção, viseira, máscara, avental e outros equipamentos de proteção. E o paciente tem que ser bem sedado para evitar que uma nova tentativa de intubação seja necessária. "A sedação e o bloqueio muscular devem ser feitos em doses mais eficientes para que se tenha sucesso logo na primeira tentativa".

Outra situação que não era tão frequente antes do coronavírus é a necessidade de mudar a posição do paciente no leito para melhorar a oxigenação. "A infecção pelo coronavírus deixa o pulmão muito inflamado, isso já existia em outras doenças. Quando a oxigenação está muito baixa, mudamos o posicionamento do paciente, colocando-o em posição de prona, ou de barriga para baixo", diz Werneck. A manobra ajuda a melhorar mais rápido a oxigenação do paciente.

O uso prolongado da respiração artificial pode afetar a voz e a deglutição. Mas as pessoas que se recuperam de Covid-19 depois de terem sido intubadas têm boas chances de se recuperarem totalmente também dessas possíveis sequelas.

Deixe sua opinião