A lógica usada no cálculo leva em conta a proporção de infecções entre pessoas vacinadas e não vacinadas.
Técnico trabalha com a vacina contra Covid-19 da Universidade de Oxford/AstraZeneca no Jenner Institute| Foto: John Cairns/University of Oxford / AFP

Nas últimas semanas, foram várias as boas notícias sobre as vacinas que estão sendo testadas contra o novo coronavírus. Superando expectativas, quatro vacinas candidatas anunciaram que os resultados dos testes avançados demonstraram eficácia de 90% ou mais.

Na quarta-feira (2), o Reino Unido aprovou para uso emergencial a vacina da Pfizer e da BioNTech, que começará a ser distribuída a partir desta terça-feira no país. As empresas informaram que o imunizante teve eficácia de 95% na fase 3 dos testes clínicos. Isso não significa exatamente que 95 em cada 100 pessoas que se vacinarem estarão protegidas contra a infecção, como pode parecer. A lógica usada no cálculo leva em conta a proporção de infecções entre pessoas vacinadas e não vacinadas.

A fase 3 dos testes de vacinas é feita com um grande número de voluntários, de diferentes idades, gêneros e etnias, que são divididos aleatoriamente em dois grupos: um recebe a vacina e o outro recebe um placebo (uma vacina "falsa", que não tem efeito). Os participantes e os pesquisadores não sabem quem pertence a cada grupo até o final do estudo. Os pesquisadores então esperam até que um número suficiente de pessoas contraia a doença para que seja possível comparar as taxas de infecções entre os voluntários vacinados e os não vacinados.

Em seguida, é calculada a proporção de infectados em cada um dos dois grupos, e a eficácia é calculada pela redução proporcional do risco entre esses dois grupos. Se entre os doentes não houver ninguém do grupo que tomou a vacina, a eficácia é de 100%. Por outro lado, se o número de infectados for igual entre os vacinados e os não vacinados, a vacina tem 0% de eficácia. Uma eficácia de 90%, portanto, significa que houve uma redução de 90% no número de casos que se esperaria se todos os participantes não tivessem sido vacinados.

Essa redução relativa de infecções pode ser calculada com a fórmula, segundo o Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC):
Eficácia da vacina = 1 - incidência de Covid-19 no grupo vacinado/ incidência de Covid-19 no grupo não vacinado.

Mais de 43 mil voluntários participaram dos testes da Pfizer. A análise foi feita quando o número de infectados pelo coronavírus chegou a 170: oito deles estavam no grupo que recebeu a vacina e 162 no grupo do placebo. A partir desses dados e do número de participantes em cada grupo (que não foi divulgado pela empresa), os autores do estudo estimaram a eficácia de 95%. Eles primeiro calcularam a proporção de infectados em cada um dos dois grupos e depois determinaram a diferença relativa entre esses dois números.

Já no caso da vacina da farmacêutica americana Moderna, que também usa a tecnologia de mRNA e está sendo testada em 30 mil pessoas, a eficácia foi de 94,1%. A análise foi feita com 196 casos confirmados de Covid-19 entre os participantes: 185 deles entre os não vacinados e 11 entre os vacinados. Houve 30 casos graves da enfermidade, nenhum deles entre os que receberam a vacina. A empresa informou que a eficácia do seu produto foi consistente entre diferentes idades, raças, etnias e gêneros.

Comparação com outras vacinas

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu que as vacinas contra a Covid-19 devem ter no mínimo 50% de eficácia – e de preferência, pelo menos 70%. Nos Estados Unidos, o FDA, a agência reguladora de medicamentos e alimentos, disse que concederia aprovação a vacinas que tivessem eficácia de no mínimo 50% durante os ensaios clínicos.

A vacina da gripe, por exemplo, tem uma eficácia média de 40% a 60% na população geral, nas temporadas em que a maioria dos vírus em circulação é bastante compatível com a vacina da gripe, de acordo com o CDC. Já a vacina contra a poliomielite tem uma eficácia de cerca de 99%, quando todas as doses são aplicadas corretamente.

Mesmo após a verificação da eficácia, a avaliação continua. Os pesquisadores mantêm o monitoramento de possíveis sintomas ocorridos entre os voluntários. As notícias são animadoras, mas ainda é cedo para saber como serão exatamente os resultados da vacina no mundo real. Uma das questões em aberto, por exemplo, é se as pessoas vacinadas poderão ter infecções assintomáticas e transmitir Covid-19.

"O primeiro obstáculo é a produção das vacinas, o segundo é a distribuição e o terceiro é a cobertura, ou seja, quantas pessoas vão se vacinar", avalia Julio Cesar Lorenzi, pesquisador associado da Universidade Rockfeller (EUA) na área de imunologia.

Existe o desafio de produzir e distribuir em escala global as vacinas que se mostrarem seguras e eficazes. O sucesso dos imunizantes depende ainda de outros fatores, como a aceitação da população - cientistas estimam que cerca de 60% a 70% das pessoas nas regiões precisarão ser vacinadas para que o vírus pare de circular - e a duração da imunidade contra o Sars-CoV-2 conferida pelas vacinas.

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