Seja de forma direta ou indireta, o coronavírus é capaz de afetar a saúde dos rins, especialmente nas formas graves da Covid-19, levando ao tratamento de hemodiálise.| Foto: Bigstock
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Pulmão, coração, cérebro e, também, os rins fazem parte da lista de órgãos que são afetados pelo SARS-CoV-2, seja direta ou indiretamente. Entre pessoas que desenvolvem formas graves da Covid-19, porém, o risco de alterações na função renal é maior.

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De acordo com dados da Sociedade norte-americana de Nefrologia, entre 20% a 40% dos pacientes internados pela doença acabam tendo lesões renais agudas, e podem precisar de hemodiálise. O médico nefrologista Marcos Alexandre Vieira explica que a causa dessas alterações vão desde a ação inflamatória exagerada que a Covid-19 gera no organismo de alguns grupos à entrada do coronavírus nas células tubulares dos rins.

"A Covid é uma doença que causa um processo inflamatório importante, que chamamos de endotelite sistêmica. Essa inflamação endotelial [camada de células que revestem o interior dos vasos sanguíneos] causa danos reais, e o próprio tropismo do vírus [capacidade de o vírus infectar determinadas células], direto nas células tubulares dos rins, são mecanismos fisiopatológicos que levam à doença renal", explica o especialista, que também é presidente da Fundação Pró-Rim.

Uma pesquisa brasileira, desenvolvida na Universidade de São Paulo, também busca entender como se dá a ação do SARS-CoV-2 nas células dos rins. De acordo com o estudo, a interação do vírus com a enzima conversora de angiotensina 2 [ECA2], que permite a entrada do coronavírus nas células humanas, também provoca um desequilíbrio nos sistemas que regulam a pressão arterial e outros processos biológicos. Com isso, influenciam a inflamação, o controle da pressão sanguínea e a proliferação das células. As informações são da Agência Fapesp.

Vieira lembra também que outra forma de lesão renal se dá pelo impacto do tratamento contra a Covid-19 grave. "Os remédios usados para cuidar do paciente grave podem também ter toxicidade renal. O uso de anti-inflamatórios e alguns antibióticos, por exemplo, podem auxiliar na lesão renal aguda", descreve.

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O que acontece com os rins?

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Diante de tantos fatores estressores, os rins acabam perdendo, temporariamente, a sua função. Esse cenário é chamado pelos especialistas de insuficiência renal aguda, segundo Ari Adamy Júnior, médico urologista, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia - Regional Paraná.

"O rim diminui a sua função, e os pacientes diminuem a produção de urina, alteram os exames de sangue e alguns precisam fazer hemodiálise. É como se o rim parasse de funcionar. Em alguns quadros bem graves, mesmo com hemodiálise, não é possível reverter", explica o especialista.

A insuficiência renal aguda, em geral, não aparece sozinha, mas acompanhada de outras alterações. Segundo Adamy Júnior, não é comum ver um paciente com um quadro pulmonar leve pela Covid-19, e nenhum outro sintoma, mas desenvolvendo a insuficiência renal. "Ela vem em um combo, tudo junto. O paciente que faz quadros graves acaba tendo essa disfunção renal", detalha.

Recuperação

Embora a lesão renal seja um sinal de que a saúde daquele paciente está comprometida, e que precisa de cuidados, boa parte dos pacientes que melhoram e recebem alta do hospital pela Covid-19 vai, gradativamente, melhorando a função renal também. Isso não significa, porém, que não precisarão de cuidados após o internamento.

"Não se sabe ainda se vão ou ter sequelas, ou se vão desenvolver algo lá na frente, se podem ter alguma insuficiência renal crônica. A hemodiálise, então, seria o tratamento e até o transplante, se for o caso. É algo que ainda precisamos saber", explica Adamy Júnior.

Segundo o médico nefrologista Marcos Alexandre Vieira, em geral, pacientes que desenvolvem uma doença renal aguda durante o período de internamento na UTI têm maior risco de desenvolver, depois, uma doença renal crônica ou apresentar alterações na função renal durante o período de recuperação. Daí a importância de um acompanhamento médico depois da Covid-19.

"Mesmo os pacientes que foram internados, mas que não precisaram de UTI, ou de suporte de oxigênio, podem fazer exames de rotina e avaliar a creatinina e um exame de urina", explica.

A creatinina – avaliada em um exame de sangue – é um marcador que verifica a capacidade de filtração dos rins. Já o exame de urina identifica alguma alteração causada no período da doença, a partir da presença de sangue, proteína ou cilindros [estruturas formadas nos rins, mas que normalmente não aparecem na urina].

"Isso pode ajudar o médico a compreender se ali pode ter algum grau de alteração dos rins, em consequência da doença", destaca.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Grupos em risco

Como a chance de complicações renais é maior entre pessoas que acabam internadas, os fatores de risco são os mesmos da Covid-19 grave:

  • Obesidade;
  • Diabetes;
  • Hipertensão;
  • Problemas cardíacos;
  • Pessoas idosas;
  • Transplantados;
  • Pessoas que fazem uso de medicamentos imunossupressores;
  • Pessoas com doença renal crônica.

"Os pacientes com esses fatores de risco devem ter mais cuidados preventivos. Então, devem ter suas vacinas realizadas, e no esquema completo, fazer uso da máscara, lavagem das mãos. Isso tudo é extremamente importante", explica o médico nefrologista.