De olho na retomada econômica, estabelecimentos comerciais que costumam receber um grande volume de pessoas têm apostado na instalação de câmaras de desinfecção com o objetivo de reduzir a carga viral e tentar levar mais segurança a este lento retorno às atividades.
Porém, ainda “faltam evidências científicas” de que o uso dessas câmaras, também em formatos de túneis e cabines, seja eficaz como forma de se prevenir de um contágio pelo novo coronavírus, afirmou recentemente em nota a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As informações são da Agência Brasil.
No centro dos questionamentos está a curta duração do procedimento, a limitação da pretensa desinfecção à área externa das pessoas, e a possibilidade de as substâncias utilizadas causarem danos à saúde. Expor “de 20 a 30 segundos não seria suficiente para garantir o processo de desinfecção”, até mesmo porque a adoção do mecanismo “não inativaria o vírus dentro do corpo humano”.
Sem evidências
Segundo o infectologista Jaime Rocha, não existem evidências da grande efetividade desses equipamentos, mas há grande apelo emocional e até mesmo apelo científico, por serem produtos que têm, sim, poder de ação contra vírus e bactérias. "Porém, eles podem causar riscos e efeitos colaterais para pessoas e para o ambiente, além de fazerem apenas uma desinfecção de superfície. Se a pessoa tiver o vírus em vias respiratórias, ela obviamente poderá continuar transmitindo", diz ele.
Problema para a saúde
São diversas as tecnologias que vêm sendo testadas, que vão de ozônio à amônia, cita Rocha, que podem causar de reações alérgicas à oftalmológicas. Segundo a Anvisa, ser exposto a alguns produtos químicos pode causar danos à saúde e efeitos adversos “quando aplicados diretamente na pele e nas roupas”.
Inalar o peróxido de hidrogênio causa irritação no nariz, garganta e vias respiratórias, podendo provocar bronquite ou até mesmo edema pulmonar. Quaternários de amônio podem causar irritação na pele e em vias respiratórias, além de reações alérgicas. Uma exposição leve ou moderada ao gás ozônio causa problemas em vias respiratórias e irritação nos olhos. A alta exposição pode levar até mesmo à morte.
"Há ainda diversas outras soluções sendo testadas atualmente, como as compostas de hidroxila, por exemplo", diz o infectologista.
Igual ambiente hospitalar?
Usar essas câmaras em estabelecimentos comerciais difere do uso em ambientes hospitalares e laboratórios de alta segurança, segundo a Anvisa porque esses locais exigem “regras e protocolos diferentes, uso de produtos e procedimentos seguros, práticas rígidas de higienização das mãos, corpo, roupas, salas e utensílios, além de adotarem equipamentos de proteção individual (EPIs) muito específicos, entre outras características”.
Novas apostas
Segundo o infectologista Jaime Rocha, além do estudo com cabines, estão proliferando pesquisas com filtros de ar, que não são efetivamente uma novidade, por já existirem no meio médico, mas que são usadas para conter fungos e bactérias e que estãoa gora sendo desenvolvidos com foco em vírus, usando principalmente filtros que envolvem ultravioleta ou a tecnologia de plasma frio. "Tudo tem mostrado que não teremos uma bala de prata contra o novo coronavírus, mas que a rotina mais segura nesse novo normal terá efetividade com a soma de medidas para controle de ambientes", diz o infectologista.