O aleitamento materno ajuda a criança a enfrentar bactérias, alergias, e previne doenças crônicas.
O aleitamento após os 2 anos de idade só se tornará algo prejudicial quando for algo forçado.| Foto: Bigstock

Decidida a amamentar seu filho o máximo de tempo possível, a advogada Samara Setúbal Evangelista continuou o aleitamento materno após o menino completar dois anos de idade e ouviu diversas críticas. “As pessoas falavam que meu leite não servia para mais nada e que meu filho fazia o peito de chupeta”, relata a mulher, que recebia olhares de reprovação e comentários negativos quando amamentava em público. “Falavam que o João Vitor estava muito grande, e eu comecei a ficar com vergonha”.

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De acordo com a nutricionista Rachel Francischi, situações como essas são comuns e, infelizmente, têm estimulado o desmame antes mesmo de o bebê completar o segundo ano de vida. “Tudo por falta conhecimento, pois o leite materno é o alimento mais completo e benéfico que existe”, garante a especialista em alimentação infantil, ao afirmar que a duração mínima da amamentação deve ser de dois anos e que esse período pode se estender até três, quatro ou mais.

Isso porque, “quando falamos em amamentar nos dois primeiros anos, estamos citando a fase mais crítica para o bebê, em que ele necessita do aleitamento materno para enfrentar bactérias e alergias, prevenir doenças crônicas e receber a quantidade ideal de nutrientes”, explica Rachel. Já após essa idade, segundo ela, a criança está mais forte e se alimenta melhor durante as refeições, “então o leite materno se torna o melhor complemento, com quantidade ideal de sais minerais, ferro e cálcio, por exemplo”.

Além disso, a nutricionista afirma que os benefícios vão além de aspectos físicos, pois estudos do Brasil e do exterior apontam que a amamentação prolongada contribui para o desenvolvimento intelectual, proporcionando melhores resultados em testes de QI e de linguagem.

O que não deve acontecer, no entanto, é a troca das principais refeições do dia pelo aleitamento materno. Afinal, “crianças com mais de 3 anos costumam mamar apenas duas ou três vezes ao dia”, informa a especialista, ao alertar que mamadas frequentes nessa fase podem estar relacionados a fatores emocionais.

Segundo o psicólogo Bruno Mader, do Hospital Pequeno Príncipe, isso ocorre devido a outros problemas que envolvem a criança, como ter uma mãe superprotetora. “Então, o pequeno não experimenta coisas novas e não é incentivado a desenvolver sua autonomia”, explica. “E, se a amamentação está dentro do quadro, ela pode ser um indicativo do apego exagerado com a mãe”.

No entanto, o psicoterapeuta pontua que o aleitamento prolongado não é a causa desse apego inseguro e que “a amamentação não gera nenhum trauma ou problema psicológico”. Inclusive, “a relação pele a pele e a troca de olhares durante o aleitamento são fatores que ajudam no desenvolvimento mental, na questão da confiança, apego e carinho, e tudo isso é bem-vindo”.

O aleitamento após os 2 anos de idade só se tornará algo prejudicial, segundo ele, quando for algo forçado, em que a mãe já se sente exausta, mas tem medo de desmamar a criança ou não consegue impor limites ao filho. “Aí, nesse caso, a relação já não é mais prazerosa”.

O filho de Taciane vai completar três anos e continua mamando: "fico feliz em proporcionar isso para ele e, enquanto o Danilo procurar, vou oferecer meu leite”. Foto: Arquivo pessoal/Taciane Pereira da Rocha
O filho de Taciane vai completar três anos e continua mamando: "fico feliz em proporcionar isso para ele e, enquanto o Danilo procurar, vou oferecer meu leite”. Foto: Arquivo pessoal/Taciane Pereira da Rocha

O desmame

Por isso, o pediatra Renato Valério explica que há dois fatores que indicam o momento de encerrar o aleitamento materno: quando a mãe se sente sobrecarregada ou quando a criança perde o interesse pela amamentação. “Então, se o filho já completou dois anos e algum desses indícios está aparecendo, a mãe pode ter certeza de que sua missão foi cumprida”, afirma o médico.

Segundo ele, nessa fase a criança tem dentição completa e pode comer praticamente todos os alimentos saudáveis. “Ou seja, não tem necessidade da amamentação, podendo substituir o leite materno por outra opção de leite indicada pelo pediatra” explica, ao pontuar que a mãe que tem condições e vontade de manter o aleitamento também pode fazer isso sem problema algum, pois “nenhuma fórmula será melhor”.

E é por isso que mulheres como Taciane Pereira da Rocha enfrentam os comentários negativos que ouvem e continuam amamentando. “Meu filho vai completar 3 anos e gosta de mamar”, relata a mulher de 38 anos, que percebe como seu leite deixa o garoto mais tranquilo e o ajuda a dormir bem.

Por isso, “mesmo que às vezes seja desgastante, fico feliz em proporcionar isso para ele e, enquanto o Danilo procurar, vou oferecer meu leite”, promete a pedagoga, ao incentivar outras mães que têm o mesmo desejo. “Não ligue para o que as pessoas vão falar e aproveite bem essa fase, porque ela vai passar muito rápido”, finaliza.

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