Apenas 34% das mães com ocupações manuais semiespecializadas oferecem o leite como único alimento aos bebês até o 4º mês de vida.
Apenas 34% das mães com ocupações manuais semiespecializadas conseguem oferecer o leite como único alimento aos bebês até o quarto mês de vida.| Foto: Bigstock

Enfermidades, medicamentos, falta de hidratação, maus hábitos alimentares e estresse interferem de forma direta na amamentação infantil, podendo ocasionar sua interrupção antes do bebê completar 6 meses de idade, prejudicando – e muito – o desenvolvimento infantil. Disso grande parte das pessoas sabem.

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Porém, o que muitos desconhecem é que a condição de trabalho das mulheres também interfere no período de oferecimento do aleitamento materno. As informações são da Agência Brasil, ao divulgar os resultados de uma pesquisa, publicada na Revista Cadernos de Saúde Pública, que entrevistou, no ano de 2010, mais de 5,1 mil mães de nascidos vivos, em São Luís (MA).

A pesquisa revelou que, enquanto 46% das mulheres que têm melhores condições para manter o aleitamento, o oferecem como único alimento aos seus bebês até o quarto mês de vida, apenas 34% das mães com ocupações manuais semiespecializadas (como manicures, padeiras, auxiliares de laboratórios, feirantes), que enfrentam jornadas de trabalho de oito ou mais horas diárias, conseguem oferecê-lo exclusivamente.

Dupla ou até tripla jornada

Marizélia Ribeiro, pediatra, pesquisadora e professora do departamento de Medicina da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), observou que o retorno das mulheres para o trabalho antes de a criança completar 6 meses é um dos principais efeitos negativos da diminuição da produção do leite materno, o que acaba contribuindo para a redução do aleitamento materno exclusivo, em especial, quando a jornada é integral.

Além do retorno mais cedo para o trabalho, outro ponto apontado na pesquisa para justificar a interrupção do aleitamento materno exclusivo é a dupla ou tripla jornada a que essas mães são submetidas. Isso, inclusive, dificulta a possibilidade de retirada e armazenamento do leite materno.

“Dificilmente, com a jornada de trabalho integral, ela consegue manter o aleitamento exclusivo. Porque ela tem a jornada fora de casa de oito horas, ela demora duas horas ou mais no trânsito e, quando chega em casa, ainda tem o trabalho de casa”, destaca a pesquisadora ao informar que o estudo mostrou que 54% das entrevistadas realizavam sozinhas os trabalhos de casa. “E como é que ela vai tirar leite? Tirar leite não é fácil, porque ela chega cansada em casa, tem que fazer comida, ver as outras crianças, tem as coisas para lavar, arrumar a casa, tem que fazer tudo isso para, no outro dia, estar trabalhando”, acrescenta.

Mercado de trabalho informal

Além do mais, embora a Constituição Federal estabeleça como obrigatória a licença maternidade por 120 dias, muitas das mães estão no mercado informal, portanto, sem a possibilidade de usufruir da licença. E, por estarem em condições de trabalho inseguras, em virtude de profissões que, por não exigirem capacitação submetem as trabalhadoras a condições de trabalho mais insalubres, o mercado acaba pressionando as mulheres para um retorno precoce ao trabalho.

Considerando que o Ministério da Saúde recomenda o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida da criança, Marizélia defende a adoção de uma licença maternidade integral de seis meses para todas as mulheres, como uma das medidas para reverter o desmame precoce. "Não é só uma licença, mas uma licença com todas as outras condições de formação, de oportunidade de trabalho, de mudança cultural do que significa o aleitamento materno e do que significa uma criança amamentar na vida”, defendeu.

Aleitamento em público

Além das exigências do mercado de trabalho, a pesquisadora destaca que ainda há o preconceito contra as mulheres que amamentam em público, inclusive no ambiente laboral. Segundo ela, infelizmente as pessoas não conseguem perceber que a amamentação é um investimento a longo prazo de uma saúde global que está se desenvolvendo.

“Muitos não percebem que quando a criança está sendo amamentada está se fazendo um investimento na mãe e naquela criança que vai ser uma criança mais saudável, com mais possibilidade de atingir a sua potencialidade, porque já se sabe que morre menos, tem menos doenças crônicas, tem maior possibilidade de ser uma pessoa com um melhor desempenho cognitivo”, conclui.

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