O álcool deixa marcas físicas – ou assinaturas mutacionais – nas células do esôfago, o que pode ocasionar o tipo mais frequente de câncer no órgão, o carcinoma epidermoide.
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No Brasil, que participou do estudo inédito publicado pela revista Nature Genetics com pesquisadores do Inca, um dos fatores de risco mais conhecidos para a doença é o consumo de álcool, seguido pelo uso do tabaco e de bebidas em altas temperaturas, como o chimarrão.
Assinatura do câncer
A partir de amostras de tecido tumoral e de sangue de 552 pacientes com câncer de esôfago, procurou-se a “assinatura mutacional”, um padrão específico de mutações no DNA de alguns tipos de câncer.
A ideia de sequenciar todo o genoma de um tumor visa a encontrar o perfil dessas assinaturas e indicar quais componentes foram responsáveis por levar ao desenvolvimento do câncer naquele paciente. As informações são do Inca.
Achar o rastro
Um caso conhecido desse tipo de rastreament é o de câncer de pulmão, em que essa espécie de marca genética é causada pelo tabaco. "O que observamos e ficou comprovado nesta análise é que o álcool deixa um rastro específico nos tumores de esôfago. No entanto, seguiremos realizando outros estudos, com novas amostragens, buscando investigar as marcas dos outros agentes conhecidos”, explica Luis Felipe Ribeiro Pinto, chefe do Programa de Carcinogênese Molecular e coordenador de pesquisa do Instituto.
Envelhecimento precoce contribui
Mais um fator observado, que também pode estar relacionado a essas marcas mutacionais pesquisadas é o envelhecimento precoce, que pode estar diretamente associado ao baixo índice de desenvolvimento humano dos grupos pesquisados. “Ou seja, além de fatores já destacados, como o consumo de tabaco e de do álcool, o fator em comum e que pode estar por trás das assinaturas observadas nesses cânceres parece ser o baixo nível socioeconômico”, explica a pesquisadora Sheila Lima.
O câncer de esôfago é o oitavo tipo mais incidente no mundo e o sexto de maior mortalidade. A maioria dos casos ocorre em países de baixa e média rendas. No Brasil, a doença é a sexta mais incidente, de acordo com dados do Inca, e a quinta de maior mortalidade entre os homens, sem considerar os tumores de pele não melanoma. As regiões Sul e Sudeste são as de maior incidência, com risco estimado de 14,48 e 9,53 casos por 100 mil habitantes, respectivamente.
A análise faz parte do projeto Mutographs, liderado pela Agência Internacional para Pesquisa em Câncer/Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS) e pelo Instituto Sanger do Reino Unido, que conta com um grupo de cientistas de dez países.