O consumo excessivo de açúcar pode acarretar problemas a curto e longo prazo para os pequenos.
O consumo excessivo de açúcar pode acarretar problemas a curto e longo prazo para os pequenos.| Foto: Unsplash/Patrick Fore

Brigadeiro, beijinho, dois amores, jujubas, bolo... sem eles não tem festinha infantil. Afinal, criança gosta mesmo é de doce, não é? Realmente, os pequenos têm uma predileção natural pelos alimentos doces, isso porque o seu primeiro alimento, o leite materno, é levemente adocicado, afirma a pediatra e especialista em terapia intensiva pediátrica Luciana Gonçalves Vieira.

Mas isso não significa que as guloseimas devam ser oferecidas às crianças, pelo contrário, até os dois anos de idade, o açúcar é, inclusive, proibido para os pequenos. “Ao oferecer açúcar estimulamos uma preferência já natural na maioria das crianças e desencorajamos a curiosidade pelos outros sabores”, explica a pediatra.

Segundo a especialista, o consumo excessivo de açúcar pode acarretar problemas a curto e longo prazo para as crianças. “Entre as complicações de curto prazo, podemos encontrar as cáries dentárias e as alterações comportamentais relacionadas aos alimentos”, explica Luciana.

Um estudo realizado na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, concluiu que os efeitos do açúcar no cérebro podem ser tão viciantes quanto os efeitos de drogas estimulantes, como a cocaína, por exemplo. E para as crianças, essa possível dependência do açúcar pode gerar diversos distúrbios psicológicos e de comportamento, como hiperatividade, déficit de atenção, irritabilidade, entre outros.

“A longo prazo temos crianças que aceitam muito bem os alimentos doces, ficam saciadas e acabam não ingerindo outros alimentos e seus micronutrientes, o que pode culminar em carências nutricionais”, alerta Luciana, que também lembra que, por outro lado, algumas crianças podem aceitar bem os doces sem deixar de ingerir os outros alimentos, o que pode acarretar num aporte calórico muito maior do que o adequado. “E isso pode favorecer a obesidade, diabetes tipo 2, entre outras doenças”.

Escolha e disciplina

A dona de casa Thaís Cristine de Araújo, de 29 anos, foi radical na decisão de não oferecer doces aos seus filhos antes dos dois anos de idade. Um pouco antes de seu filho mais velho, Miguel, de três anos, começar a introdução alimentar – aos seis meses de idade –, a mãe curitibana consultou uma nutricionista para saber qual seria o melhor caminho para seu pequeno conhecer os alimentos da maneira mais saudável possível e descobriu que a orientação geral dos especialistas era evitar o açúcar.

“Me preocupava muito a ideia de que açúcar poderia viciar o paladar da criança. Então, como eu já havia sido uma criança gordinha e com aquele paladar infantil que opta sempre pelo mais doce, eu não queria que isso acontecesse com ele”, conta Thaís, que optou por alimentos mais naturais, como frutas e verduras, seguindo o cardápio que a nutricionista propôs para que Miguel conhecesse todas as classes de alimentos.

“Hoje ele está com quase quatro anos e o açúcar é só em ocasiões muito específicas. Ainda não é liberado porque eu sei que, num futuro próximo, o açúcar já vai ser de muito fácil acesso para ele. Então acho que, enquanto ainda temos controle sobre a alimentação da criança, a gente pode optar por alimentos de mais qualidade”, afirma a mãe.

Boa alimentação é o melhor remédio

De acordo com a pediatra Luciana Vieira, essas orientações envolvem o açúcar tanto em sua forma tradicional quanto aquele usado na conservação dos alimentos processados e ultra processados. “Por essa razão fala-se tanto em evitar os industrializados”, afirma. Além de apresentarem riscos para a saúde, esses alimentos dificilmente apresentam informações claras no rótulo e quando isso acontece o açúcar vem com nomes bastante complexos que podem confundir os pais. “A sugestão é descascar mais e desembrulhar menos, e para quem não conhece os ‘nomes científicos’ do açúcar, evite alimentos industrializados com mais de três itens em sua composição”, orienta a pediatra.

Outro alerta diz respeito às bebidas açucaradas e até mesmo aos sucos naturais. Segundo a especialista, é comum que se utilize uma maior quantia de fruta para se retirar uma pequena quantidade de suco. Por isso, a recomendação é evitar sucos, mesmo que naturais, antes do segundo ano de vida e dar preferência para a ingestão da fruta in natura e água.

É importante ressaltar que, até o segundo ano de vida do bebê, o alimento primordial é o leite materno, por ser o mais completo para as necessidades da criança. “Caso não seja possível amamentar, é importante usar uma fórmula infantil adequada para a idade do seu filho e indicada pelo pediatra ou nutricionista que o acompanha”, afirma Luciana.

“A alimentação é o melhor remédio que uma pessoa pode receber, ela junto com sono de qualidade pode prevenir inúmeras doenças da vida adulta como hipertensão, diabetes tipo II, obesidade, alergias alimentares, constipação, déficit cognitivo, baixa estatura, alterações de pele, doenças alérgicas e até alguns tipos de canceres”, explica a especialista. “Essa é a medida que mais pode promover saúde e reduzir a chance de doenças evitáveis”.

Outros alimentos proibidos

A pediatra Luciana listou mais alguns alimentos que não devem ser oferecidos aos pequenos. Confira:

  • Leite de vaca e derivados, sal e mel não devem ser consumidos antes do primeiro ano de vida;
  • Açúcar, café e industrializados devem ser evitados até os dois anos;
  • Alimentos que apresentam risco de aspiração, como pipoca e amendoim, só devem ser oferecidos às crianças após os quatro anos.
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