Diagnosticar e tratar de modo errado pode prolongar as dores lombares ou mesmo piorá-las
Diagnosticar e tratar de modo errado pode prolongar as dores lombares ou mesmo piorá-las| Foto: Bigstock

Apesar de ser uma das condições que mais afastam pessoas do trabalho, as dores lombares nem sempre são diagnosticadas e tratadas do modo correto. Por este motivo a Abrafito (Associação Brasileira de Fisioterapia Traumato Ortopédica) e o movimento Choosing Wisely se uniram para elencar cinco recomendações focadas no modo de encarar melhor esse tipo de dor.

Diagnosticar e tratar de modo errado pode prolongar as dores ou mesmo piorá-las. Esses erros podem surgir tanto do comportamento do paciente quanto do profissional que o atende. Afinal, segundo o fisioterapeuta e professor doutor Renato José Soares, associado à Abrafito e integrante do Grupo Choosing Wisely Brasil em Fisioterapia, “as escolhas de tratamentos por parte dos profissionais da área da saúde nem sempre estão de acordo com as melhores evidências disponíveis na literatura”.

Sem passividade

A primeira recomendação é não utilizar terapias passivas em indivíduos com dores lombares de forma prolongada e isolada, exemplificada pelo professor no caso comum de uso de eletro analgesia, os popularmente conhecidos ‘choquinhos’, em pacientes com dores lombares crônicas. “As terapias passivas são indicadas apenas quando há um grau alto de irritabilidade tecidual, mas que são logo substituídas por estratégias de tratamento ativas”, diz ele. O uso isolado de técnicas passivas desestimula a participação ativa no processo de reabilitação, fundamental na melhora do quadro clínico.

O uso de cintas e imobilizadores também é criticado pelo documento, por serem ineficazes tanto no tratamento quanto na prevenção da dor lombar crônica. “Estas ações geram falsa percepção de melhora e de proteção à coluna, dificultando ou retardando a boa evolução clínica do paciente”, diz ele.

Quando fazer exame?

Outra recomendação do documento é não sugerir exames de imagem para dor lombar, a menos que exista uma suspeita de doença grave. O pedido de exames é algo ainda comum, segundo Soares, por profissionais que não seguem o que a ciência direciona e que acreditam que o laudo de um exame de imagem irá identificar o local do problema, facilitando a melhor intervenção.

“É um grande equívoco, visto que a avaliação clínica tem se demonstrado mais eficaz para o direcionamento de boas ações terapêuticas para o paciente com esse tipo de dor. Muitas vezes, também, tais exames geram falsos diagnósticos: um laudo de exame de imagem frequentemente relata desgastes articulares e até hérnias de disco, mesmo em pessoas sem histórico de problemas na coluna vertebral. Isso pode gerar uma cascata de intervenções desnecessárias, tratamentos equivocados e gastos ao sistema de saúde”, fala.

Segundo o fisioterapeuta, a avaliação clínica com alguns testes especiais ortopédicos e neurológicos, bem como o entendimento do caso por meio de uma boa anamnese são o suficiente para direcionar melhores ações em fisioterapia. “Exames de imagem são necessários quando há probabilidade de fratura, tumor e alterações neurológicas graves (com sintomas de muita perda de força, alterações de reflexos miotendíneos e alterações grandes de sensibilidade)”, diz ele.

Comuns e errados

“Exames de imagem são necessários quando há probabilidade de fratura, tumor e alterações neurológicas graves (com sintomas de muita perda de força, alterações de reflexos miotendíneos e alterações grandes de sensibilidade)", diz Renato José Soares, fisioterapeuta e professor doutor, associado à Abrafito e integrante do Grupo Choosing Wisely Brasil em Fisioterapia.

Ele explica que entre os usos mais comuns – e errados – que se costuma ver no atendimento corriqueiro de pessoas com dores lombares estão terapêuticas embasadas em ações extremamente passivas, sem a participação do paciente no manejo do problema, e também técnicas e equipamentos comercializados livremente e que pregam o ‘milagre da cura’ de uma dor crônica na coluna vertebral. “O foco deve ser em ações mais participativas, com incentivo ao movimento e a mudanças de hábitos, uso da terapia manual ortopédica e a promoção de exercícios terapêuticos”, diz.

Há ainda outros comportamentos comuns que se vê em consultórios e que também podem causar uma cascata de exames ou mesmo ir contra o desenvolvimento correto e rápido do tratamento. Profissionais que valorizam informações negativas na explicação do problema ao paciente pode gerar a piora da evolução do quadro clínico, que pode tender a atitudes e comportamentos catastróficos, diz ele.

“Quando um profissional busca explicar ao paciente o que é um desgaste da articulação por meio de ilustrações de uma lesão da cartilagem; ou o quê é uma hérnia de disco usando ilustrações de um líquido vermelho saindo da coluna, o paciente pode tender a tomar atitudes e desenvolver comportamentos (como o medo) que o levem a uma proteção exagerada daquela articulação, diminuindo cada vez mais a força dos músculos. Isso faz com que o nível de dor local aumente. Neste caso, dever-se-ia valorizar informações que busquem tranquilizá-lo, com foco em mostrar a possibilidade de bom prognóstico com mudanças de hábitos e comportamentos”, finaliza.

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