Descobrir os defeitos dos pais é tática de sobrevivência que nivela o adolescente ao adulto imperfeito representado…pelos pais.| Foto: Bigstock
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Você costuma receber críticas de filho adolescente? Eu sim. De tanto escuta-las em situações até inesperadas, quis saber se outros pais viviam a mesma experiência. Sim, todos abordados – e foram muitos, creia – foram unânimes em afirmar ser algo “normal” no dia a dia.

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Lembro de um deles me aconselhar resignado: "Críticas de filho adolescente é fato inexorável. Aceita que dói menos." Levei tempo para admitir a ideia mas, uma vez aceito o "fato inexorável", passei a escutá-las sem grandes melindres e, gradualmente, a sofrer menos e as transformar... em informação útil.

Escutar críticas de filho adolescente de uma forma diferente da habitual mexeu comigo e me forçou a mudar a lente pela qual as enxergava como empáfia e desrespeito. A situação – comum, mas não necessariamente “normal” – então deu novo resultado o que, definitivamente, mudou minha relação com as críticas de filho adolescente.

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Dores das críticas

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Na adolescência, muitas atitudes de filho mudaram e uma delas "gritou aos meus ouvidos": o irremediável hábito de me criticar. Frequentemente, situações corriqueiras serviram de palco para discursos carregados de críticas. Entre frases, ácidas cutucadas sobre minhas atitudes e comportamentos imprimiam ritmo e força que mudavam o foco original da conversa. Subitamente, as discussões emergiam dominando o espaço.

De tão recorrentes, as críticas de filho adolescente tornaram nossa relação iminente ameaça de conflito e provocavam reações cada vez mais irritadiças e desproporcionais. A inicial interação virava duro embate que, mal conduzido, era abruptamente interrompido em prol de menores estragos. Por fim, mágoa e orgulho ferido. Apesar de "comum", quis mudar esta dinâmica. "Não admitiria isso por mais tempo. Tampouco ser alvo de críticas de filho adolescente mal saído das fraldas! Quem ele pensa que é pra me apontar defeitos?" – esbravejava no auge do ego ofendido.

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O poder das críticas de filho adolescente

"Mãe, que voz é essa? Precisa falar assim com o cara só porque ele não te ajudou a carregar a sacola?", disse naquele dia no supermercado. "Saco, mãe! Odeio quando faz essa cara! Já sei que vai reclamar de alguma coisa!", esbravejou em outra ocasião. Conhecia seu lado observador mas, definitivamente, desconhecia seu lado crítico.

Toda situação era oportunidade de me apontar defeitos: o modo como ria, o jeito que falava, a opinião que dava, a preocupação que demonstrava, a lógica que exprimia. Sentia-me modelo inverso da mãe de outrora que agora em tudo o irrito. Alvo constante de críticas de filho adolescente, de repente me tornara mãe poço de deméritos. Tão ousado quanto impiedoso, filho sequer notava o poder corrosivo de suas palavras e de seu modo de tecer críticas sobre mim.

Tática de sobrevivência de filho adolescente

A fase mudou; também a lente de filho adolescente sobre mim. Se antes lhe era modelo, agora parecia ter-me tornado total oposto e reflexo de um mundo cheio de defeitos e necessidades de melhoria. Atentar às suas contumazes críticas me despertou para uma necessidade até então desconhecida: meu adolescente precisava exercitar sua opinião crítica... em terreno seguro, ou seja, comigo.

A pesada expectativa de se tornar adulto – e corresponder às dos outros – lhe exigia autoconfiança para aceitar a própria imperfeição. Para tanto, mirar a dos pais o ajuda nisso: reconhecer neles a mesma condição o alivia do peso de se tornar adulto. Portanto, descobrir os defeitos dos pais é tática de sobrevivência que nivela o adolescente ao adulto imperfeito representado pelos pais. Enfim, críticas de filho adolescente são nada mais que a imatura insegurança intimamente sentida e não confessada durante a pesada jornada de amadurecimento vivida.

Discussões traiçoeiras

Desenvolver senso crítico faz parte do desenvolvimento do adolescente e começa em casa pelos pais que viram alvo preferido de suas duras observações. "Normal", mas, desprovido de recursos capazes de equilibrar este processo de forma saudável, meu adolescente errava e acabava por gerar mais estrago do que necessário. Pelo tom errado, pelo mau jeito e até pelas (más) circunstâncias – sequer escolhidas – as críticas de filho adolescente soavam como ataques pessoais e, então, estouravam os conflitos.

Neste cenário caótico, enxerguei a necessidade de ser o adulto a romper o ciclo vicioso e a buscar alternativas para uma dinâmica diferente das traiçoeiras discussões de acusação e rebates.

O resultado surpreendente

Enfim desperta por um novo olhar sobre a situação, propus-me a respirar fundo – a contar até quanto necessário – e a atentar às críticas de filho em vez de reagir contra elas. O plano parecia-me válido... só precisava conseguir aplicá-lo na prática. Assim fiz.

Em vez de me irritar com as críticas de filho adolescente, passei a escuta-las sem melindres. Em vez de me deixar levar pelo orgulho ferido, passei a considerar a opinião de filho e, não menos importante, reconheci sua incipiente capacidade de se expressar de forma adequada. O exercício foi desafiador mas o resultado, surpreendente: de fato, havia espaço para mudanças em minhas atitudes.

Curiosamente, as críticas de filho adolescente se tornaram fonte útil de aprimoramento pessoal. Críticas aperfeiçoam Crescer é mesmo difícil... para todos. Bagunça a gente por dentro: nos exige encarar defeitos, fraquezas e fragilidades muitas vezes disfarçadas ou escondidas por diferentes razões. As críticas de filho adolescente ainda são "comuns" e parecem infindáveis: há sempre algo a ser melhorado. Mas, hoje, convivo diferente com elas: "É, talvez tenha razão, filho. É que me irrita lidar com gente mal educada, sabe?"

Fato inexorável de uma fase “difícil”, críticas de filho adolescente são também parte própria do meu processo de amadurecimento. Continuo não gostando de ser alvo de suas críticas mas o desconforto de mudar nos aperfeiçoa para uma relação diferente com filho... e com o mundo. E, para isso, não há fase: é a vida toda.

*Xila Damian é escritora, palestrante e criadora do blog Minha mãe é um saco!, espaço em que conta as situações cotidianas e comuns que vive sendo mãe de adolescentes, buscando desmistificar clichês sobre essa fase dos filhos, para transformá-la em um tempo de aprendizado.

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