Influenciado pelo ambiente, pelos amigos, pela mídia ou até por seu imaginário ideal de adulto, o adolescente embarca no barco furado do tabagismo.
Influenciado pelo ambiente, pelos amigos, pela mídia ou até por seu imaginário ideal de adulto, o adolescente embarca no barco furado do tabagismo.| Foto: Bigstock

Meu pai fumou por mais de 15 anos. Hoje combate o tabagismo de forma contumaz... e fracassada. Quando se livrou do vício, adotou sermões conhecidos – e reconhecidamente ineficazes – na tentativa (frustrada) de convencer fumantes a se libertarem do mau hábito.

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Ainda que a missão fosse louvável, virou um chato de quem todos se afastavam quando iniciava seu repertório contra o tabagismo. O insistente – e repetitivo – discurso cansava e, pior, provocava discussões improdutivas temperadas com viradas de olho, bufadas e fugas dos alvos incluindo netos, em sua maioria, adolescentes. Ao primeiro sinal do conhecido parlatório, fumantes – e não fumantes – saíam de fininho abreviando o martírio de mais uma discussão chata e ineficaz.

Apesar da queda dos índices de fumantes no Brasil, tabagismo na adolescência continua assombrando pais zelosos e igualmente desconhecedores de estratégias capazes de ajuda-los na empreitada de abolir o mau hábito de filho desde cedo.

Novas armas contra o tabagismo na adolescência

Com efeito, também insistia em listar dados contra o tabagismo na adolescência. Apesar de cientificamente comprovados por alguma razão se tornavam verdadeiros tiros no pé e a causa disso, descobri, ao escutar meu pai: desfiados como ladainha soam como informações vãs... e infrutíferas. Por imaturidade ou curiosidade, o adolescente é, de fato, presa fácil ao tabagismo e nós, adultos maduros, combatentes despreparados.

Nesta dinâmica curiosamente óbvia, insistimos nas velhas formas de lidar com a questão e continuamente fracassamos na conhecida batalha; por desconhecimento... ou comodismo. Mudar este jogo requer diferentes – e melhores – armas. O franco combate de brados puristas não ajuda; pior, parece fomentar o contrário. Combater o tabagismo na adolescência mais do que sermões e ladainhas, suspiros e abnegações, nos exige persistência e, mais do que isso, criatividade de um ataque inteligente e, por fim, eficaz.

Combate diferente ao tabagismo na adolescência

Influenciado pelo ambiente, pelos amigos, pela mídia ou até por seu imaginário ideal de adulto, o adolescente embarca no barco furado do tabagismo com reais possibilidades de se tornar vítima vitalícia de um hábito iniciado e cultivado por ingênua má escolha.

Irmã e tia de fumantes, passei a observar mais a abordagem sobre o tema por interesse próprio com filhos adolescentes. Convencida de que a estratégia do meu pai não funcionava, busquei outras a fim de não só evitar os mesmos erros mas efetivamente contribuir para a conscientização e o amadurecimento sobre a questão. Assim comecei abolindo os tais discursos e sermões. Me esforcei para, pelo menos, não cair neles enquanto aprimorava uma abordagem diferente. Neste trabalho difícil, descobri um tom mais sóbrio de responsabilização ao adulto em formação o que, na prática, significa aprender a fazer escolhas conscientes e saudáveis para si.

A frustrante história com adolescente fumante

Os encontros familiares costumam ser palco de acirrados sermões contra o tabagismo na adolescência. É onde meu pai tem oportunidade de promover discursos repetidos acompanhado por pais e mães aflitos com o mau habito já instaurado.

Naquele dia, o sobrinho, então com 18, acendeu um cigarro enquanto a conversa fluía animadamente. De repente, fomos interrompidos por uma exclamação destoante da mãe esbravejando: "Apague esse cigarro a-go-ra! Você sabe que está pro-i-bi-do de fumar!". "Que saco, mãe! Vai começar o sermão de novo?", retrucou o filho imediatamente irritado. Observei a cena – igual como sempre – em que mãe e filho adolescente mediam força em infrutífera – e constrangedora – dinâmica de combate. Cansativa e ineficaz, era discussão reconhecidamente chata que fazia a mãe, a priori apoiada pela maioria, perder a autoridade e filho, a terminar seu cigarro.

A energia gasta – à toa – de novo queimou a chance de nutrir filho com argumentos fundamentados e comprovadamente realistas contra o tabagismo na adolescência e instruí-lo a uma escolha consciente – e melhor – para si mesmo. O resultado – igual como sempre – foi filho fumando na varanda e climão, situação típica de quem vive a repetição de situações constrangedoras em público sem saber o que fazer para mudar esta história de insucesso.

O interesse pelas escolhas do filho adolescente

Baixada a poeira de mais uma discussão infrutífera, fui até o Zeca para tentar nova abordagem sobre o mesmo assunto. Curiosamente ignorante, perguntei: "'Você gosta mesmo de fumar, Zeca?". Cuidei de evitar certas palavras como "vício" – fumantes se dizem aptos a deixar o "hábito" em qualquer momento – e frase como "você não sabe que...", verdadeiro gatilhos disparador de autodefesa em qualquer diálogo. Surpreendentemente, firmamos conversa de adulto em que consegui lançar sementes de reflexão sobre o tema. Diferente da passionalidade autoritária incansavelmente usada naquelas situações, um genuíno interesse de entender sua escolha.

Em vez de discursos inflamados, frases repetidas e tentativas de convencimento, trocamos ideias, revolvemos o terreno exaurido por discussões inúteis e lançamos sementes novas na expectativa de mudar os frutos frequentemente perdidos por semeadura ineficaz.

Nova estratégia para problemas antigos

Novo encontro familiar e, como de praxe, assuntos polêmicos em pauta e, junto, discussões e opiniões acaloradas. Igualmente agitado, Zeca saca um chiclete o jogando à boca com naturalidade. Até então não o vira com um cigarro. Curiosa então lhe pedi um chiclete: "Opa tia, claro! É o que mais tenho agora", disse rindo, "parei de fumar. Meu vício agora é chiclete", completou alargando o sorriso e finalizando: "culpa sua!". "Minha?", respondi intrigada, "por quê?".

"Depois daquela conversa sobre fumar e tal, me senti um idiota. Acho que cresci um pouquinho depois daquele papo", disse mais sério e, de certa forma, sem graça. Não me aprofundei; em vez disso, sorri respondendo um simples “legal”. Era o bastante para validar o resultado e apreciar sua mudança. Nunca um chiclete me pareceu tão saboroso.

Tabagismo na adolescência é só um dos temas

O combate efetivo ao tabagismo na adolescência em família deu certo daquela vez. Por outro lado, suscitou novas e inesperadas ladainhas: "Meu filho, para com esse chiclete! Além de estragar seus dentes, depena meu bolso com dentista! Será que ainda não sabe que faz mal?", desfiou a mãe exasperada. Eis que novo coro de sermões inflamados e discussões infrutíferas começou.

Encontros de família: situação antiga que não muda nem com muuuuito diálogo. Nem sempre acertamos os conflitos entre pais e filho adolescente com uma mudança totalmente efetiva mas, ainda assim, fiquemos atentos: “problemas” conhecidos exigem novas estratégias; especialmente nesta fase de ânimos tão aflorados... de todos os lados.

*Xila Damian é escritora, palestrante e criadora do blog Minha mãe é um saco!, espaço em que conta as situações cotidianas e comuns que vive sendo mãe de adolescentes, buscando desmistificar clichês sobre essa fase dos filhos, para transformá-la em um tempo de aprendizado.

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