Para conviver com filho adolescente na famosa fase “crítica", vale adotar meios paliativos para manter a qualidade de vida familiar.
Para conviver com filho adolescente na famosa fase “crítica”, vale adotar meios paliativos para manter a qualidade de vida familiar.| Foto: Some Tale/Unsplash

Nunca fui adepta de mantras até descobrir um que, definitivamente, mudou minha relação com filho: o mantra de pais de adolescente. Depois de saber um pouco desta história, talvez também decida experimentar o inusitado recurso. Para conviver com filho adolescente na tão falada fase “crítica", sem dúvida valeu adotar meios paliativos que, definitivamente, me auxiliaram a viver inevitáveis situações cotidianas com um mínimo de qualidade de vida familiar.

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Cientificamente comprovado pela medicina, ouso enfim comparar o mantra de pais de adolescente ao paliativo que ajuda a erradicar a dor crônica causada pelas invariáveis intercorrências da fase até que tudo passe... de vez. O hino de pais de adolescente Tudo começou quando, primeiro, descobri a alergia de filho adolescente aos pais: falo sobre o tema em outro artigo no meu blog. Depois – e menos estarrecedor – quando descobri uma sucessão de novos caminhos que me ajudaram a conviver com filho adolescente durante esta fase crítica de sérias situações de conflito.

Dentre vários, um especial e, concordo, inusitado: o mantra de pais de adolescente (A.Wolf). Graças ao que nomeei "hino libertador", muitos dos conflitos com filho adolescente não só perderam força como outros desapareceram. Sim, existem meios de firmar uma relação com filho adolescente diferente da habitual e este foi só um dos que encontrei para viver junto dele sem dores agudas; com qualidade de vida.

Mãe e filho em combate

Costumava passar por filho e simplesmente abraçá-lo. Proporcionalmente recebia, de retorno, sua evidente irritação: "Saco, mãe, me deixa! Sabe que não gosto de você me pegando, pô!" – reclamava se desvencilhando de mim. "Aaaaiiii, não posso mais te abraçar?" – perguntava, desde o início, magoada. "Não! Você me irrita com esses abraços. Saco!", retrucava.

Naquele rechaço, enxergava aversão pessoal, motivo suficientemente pesado pra reagir em autodefesa. Como consequência, criar uma situação e nos atacarmos por puro descuido. Inesperadamente, estávamos discutindo sob agressões recheadas de autocomiseração...e ciladas: "Filho, por que você me odeia? O que te fiz pra me tratar desse jeito tão ruim? Enquanto faço carinho você me ataca! Por nada! O que faço de tão irritante que não suporta ficar perto de mim?", lamuriava.

Repassando a cena quase sinto a chibatada ecoar; me retorço, reviro os olhos incomodada e, como que envergonhada daquela minha reação infantil, digo pra mim mesma: "como não via isso?!". Fácil: ainda desconhecia a tese da alergia aos pais na adolescência. Inconsciente, alimentava conflitos inúteis a partir de minha reatividade tola. Gradativamente, tornavam a alergia, até então natural e temporária, crônica. Pouco a pouco, levantávamos uma barreira nos tornávamos inimigos... por nada!

O crescimento de pais de adolescente

Na maioria das vezes, nossos conflitos eram carregados de pessoalidade. Invariavelmente nos tornávamos rivais em campo de guerra. Quando percebi que o real inimigo era minha ignorância sobre a fase, busquei informação. Desvendando o verdadeiro opositor, usei arma eficaz e o combate rendeu melhores resultados.

O mau relacionamento entre pais e filho adolescente é mesmo fato. Talvez por isso aceitamos tão passivamente este enredo de conflitos “até a fase passar” assumindo clichês repetitivos e inúteis que nos roubam anos de convivência com filho. Decerto que conviver com filho adolescente é difícil... e tem um porquê. Na verdade, existem vários e nenhum deles deve justificar nossa resignação diante do desafio. A fase também é oportunidade de crescer com a experiência de ser pai/mãe agora de adolescente. Para tanto, precisamos continuar aprendendo e nos aprimorando, antes de tudo, conhecendo filho... de perto.

Novo recurso de mãe de adolescente

A profética "transformação" adolescente virou descoberta de novos recursos para viver a fase junto de filho. Ao se tornar adolescente me senti exigida a também mudar para viver uma dinâmica diferente da de até então. Portanto, aceitar – e assumir – esta premissa foi o primeiro de muitos passos que definiram a reviravolta em minha relação com filho adolescente.

Tomar ciência da evidente – e então não assumida – alergia de filho aos pais inicialmente me assustou mas depois virou alívio. A conturbada relação com filho adolescente – na maioria das vezes dramaticamente manchada por esta condição inexplicável, involuntária e temporária – mudou e passei a lidar com as situações de conflito de forma diferente da habitual. Praticar o mantra de pais de adolescente eliminou resquícios de vitimizações que só potencializavam nossa evidente desconexão. Agregá-lo como fórmula paliativa de uma convivência necessária – e desejada não só ajudou como também nos aproximou de verdade.

O mantra de pais de adolescente me manteve consciente e alerta contra as ciladas invariavelmente presentes nas interações com filho. Sua utilidade prática foi um "achado" o qual compartilho me solidarizando com aqueles que, como eu, são incansáveis na busca de uma convivência saudável com filho adolescente.

O mantra de pais de adolescente

O mantra de pais de adolescente é nada mais que ter consciência das limitações de filho nesta fase crítica e temporária de amadurecimento que, por isso mesmo, nos demanda cuidados contínuos e também trabalhosos. Adotá-lo no dia a dia é reforçar a si mesmo a realidade nua e crua de que:

"Sei que você realmente não suporta estar perto de mim. Sei também que é um sentimento involuntário e inconsciente, resultado de um processo complexo que te transforma em um ser instável e intolerante: a adolescência. Entendo que isso seja parte de seu desenvolvimento psicológico normal e que, daqui a alguns anos, voltará a gostar de mim e de estar perto de mim. Sem dúvida: isso não é pessoal; pelo contrário: não tem nada a ver comigo. É apenas um estágio; logo passará." Acredite, funciona! Muda a visão e o sentimento sobre o que vivemos com filho adolescente.

A alergia aos pais – inerente e transitório – já sabemos: passa. Mas, enquanto isso, precisamos saber conviver também neste estágio. Não resignados mas livre de ressentimentos e continuamente buscando meios de manter uma relação com filho, o que é não só devido como também viável.

O paliativo na relação entre pais e filhos

Descobrir que parte da alergia de meu adolescente a mim se deve ao simples fato de eu ser sua mãe a princípio me pareceu nonsense depois, injusto e, por fim, plausível e passível de se lidar. A nova percepção – e prática – ampliou perspectivas de um convívio sem melindres e rebeldias; me libertou das amarras dos clichês e das opiniões, interpretações e atitudes distorcidas na relação entre pais e filhos adolescentes.

Decerto um árduo processo de aprendizagem e crescimento familiar sem espaço para dramas e verdades absolutas; trabalho duro de conscientização de pais e filho adolescente que aprendem que perseverar juntos na fase crítica em que tudo parece sair do controle é o que os capacita a viver a fase seguinte em um quadro certamente mais estável.

*Xila Damian é escritora, palestrante e criadora do blog Minha mãe é um saco!, espaço em que conta as situações cotidianas e comuns que vive sendo mãe de adolescentes, buscando desmistificar clichês sobre essa fase dos filhos, para transformá-la em um tempo de aprendizado.

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