Constantemente observados e avaliados por filho adolescente nossas atitudes precisam ser coerentes com o que ensinamos.| Foto: Bigstock
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Ensinar ética a filho é exercício sério e prática diária. Todo o tempo somos colocados à prova em situações do cotidiano e ficamos, assim, extremamente suscetíveis a ciladas que nos levam a falhas traiçoeiras. Constantemente observados e avaliados por filho adolescente nossas atitudes precisam, portanto, ser coerentes com o que ensinamos.

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Tomar decisões baseadas em princípios e valores determinam minha atitude diante da vida. O que faço, mais do que falo, impacta diretamente a educação que dou a filho e influencia seu comportamento. Ensinar ética, portanto, está intimamente ligado a fazer o que é certo independentemente das circunstâncias e dos outros.

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Mais do que falar, é praticar

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Confesso: avançava aquele sinal de trânsito próximo de casa. A ameaça de assalto no local me desafiava a escolher entre o risco e a consciência de fazer a coisa certa: parar ou ultrapassar o sinal, seguir ou não as regras definidas? Vários igualmente temerosos – e outros negligentes – também violavam a regra usando a mesma justificativa: medo da violência.

Naquele dia, critiquei mãe que deixava filho à porta da escola formando fila dupla: "É rapidinho!", dizia sorrindo com uma mistura de embaraço e simpatia ao porteiro que tentava organizar a bagunça generalizada pelo efeito manada de outros motoristas seguidores do mau exemplo. Irritada pelo furo escancarado a regras básicas de convivência – e oficiais de trânsito – esbravejei dentro do carro: "Saco! As pessoas não seguem regras! Se cada um fizesse a sua parte nas pequenas coisas do dia a dia, viveríamos tão melhor...". "Verdade" – sussurrou o filho ao lado – " reclamando mas, mãe, você faz igual quando ultrapassa o sinal vermelho lá perto de casa", retrucou. Surpresa, gaguejei. Aquela observação foi perspicaz e, por isso, me desconcertou.
Também errava praticando o contrário do que falava... e pensava ensinar na prática.

Assim, tentando justificar o injustificável, despertei para o óbvio teoricamente pregado mas ainda erraticamente exercitado: ser ético é fazer a coisa certa... independentemente das circunstâncias.

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Atenção às ciladas do cotidiano

Engoli a comparação envergonhada e passei o dia tentando digeri-la. Sacudida pelo comentário do filho observador, acordei para as ciladas que traiçoeiramente invalidavam meu discurso na prática e, consequentemente, minavam meus esforço de transmitir princípios e valores inegociáveis a quem deseja uma sociedade minimamente saudável.

Mais do que falar, precisava praticar atentamente o que ensinava ao filho adolescente porque nada do que faço lhe passa incólume. Enquanto observa, filho apreende, absorve e incorpora princípios e valores vivendo a vida real. E, neste processo, não resta dúvida que de que também me avalia, julga e confronta resultados.

A constatação me fez estremecer: naquela – e sabe-se lá em quantas outras situações – zerei o teste diante de quem mais pensava estar ensinando pelo exemplo. Tomada por impiedosa autocrítica me chamei à responsabilidade de atuar mais consciente das ciladas que, ignoradas, me levaram a erros grosseiros e inúteis.

O desafio é oportunidade

Ser ético é fazer escolhas a partir de princípios e valores e o cotidiano é mestre em tentar em nos afastar deles. Sofremos investidas sedutoras de atalhos que nos fazem titubear na firmeza ética. Vigiar é palavra de ordem, portanto, especialmente a pais de adolescente comprometidos a formar adulto melhor para o mundo.

Sendo a primeira referência de filho e naturalmente exemplo não há como deixar-se levar pelas circunstâncias tampouco pela maioria e a máxima do “todo mundo faz assim”. Precisei me posicionar e me manter firme para resistir à tentação do efeito manada que destrói o senso crítico e, consequentemente, o senso de cidadania. Em um mundo individualista que insiste em oferecer atalhos, ensinar ética é desafio vivido – e validado – na prática cotidiana.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Mudar por um mundo melhor

Passado o susto de me enxergar incoerente e perigoso exemplo a filho adolescente, encarei o desafio de me aperfeiçoar usando o desafio de ser ética na vida real, prática e cotidiana e efetivamente ser adulto melhor hoje. Deixei de avançar aquele sinal de trânsito, o começo de toda esta revisão comportamental.

Resistente às insistentes buzinadas de remanescentes inconscientes, contagiei outros que passaram a seguir meu exemplo, desta vez, respeitando a regra independente das circunstâncias de segurança do local. E a mudança foi percebida, apreendida, absorvida e avaliada por filho adolescente: "Difícil né, mãe? Se cada um fizesse sua parte, o mundo seria tão melhor...". É, desta vez, tirei nota 10 no teste e, por tabela, ensinei mais fazendo melhor.

*Xila Damian é escritora, palestrante e criadora do blog Minha mãe é um saco!, espaço em que conta as situações cotidianas e comuns que vive sendo mãe de adolescentes, buscando desmistificar clichês sobre essa fase dos filhos, para transformá-la em um tempo de aprendizado.

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