Editar fotos para parecer mais bonita tem sido feito por meninas cada vez mais jovens, o que é considerado um mau sinal.
Editar fotos para parecer mais bonita tem sido feito por meninas cada vez mais jovens, o que é considerado um mau sinal.| Foto: Bigstock

Especialmente para os adolescentes, passar tempo demais navegando em redes sociais, por recortes da vida de conhecidos e famosos pode ser um hábito nada saudável. Uma pesquisa revelou que cada vez mais cedo, mais meninas se preocupam com a própria aparência e editam as fotos esperando um tipo de aprovação virtual.

O Projeto Dove Pela Autoestima conversou com cerca de 1,5 mil meninas e mulheres brasileiras de 10 a 55 anos. A pesquisa revelou dados preocupantes: 89% das participantes afirmaram compartilhar selfies esperando um retorno positivo de outras pessoas e 84% das adolescentes com 13 anos já distorceram fotos para publicar nas redes sociais.

Cynthia Borges de Moura, doutora em psicologia clínica, explica que na adolescência o grupo social começa a tomar uma importância bastante relevante e que as redes sociais ganharam um contorno desproporcional nesse universo. “A aprovação social na adolescência faz parte da identidade e fortalecimento da autoestima, mas era para ser um grupo físico e pequeno. Nas redes sociais esse grupo físico vira virtual e você perde o senso de realidade”, afirma.

A psicóloga ressalta que o adolescente ainda tem um pensamento polarizado e não sabe interpretar adequadamente o retorno que recebe. Ela alerta para as consequências dessa falta de maturidade. “Adolescente não consegue pensar no cinza. É preto ou branco, oito ou oitenta. Uma rejeição pode ter impacto na autoestima e evoluir até para um quadro depressivo”, orienta Cynthia.

Ainda, há o risco de uma exposição bem arriscada. Fotos em roupas íntimas, por exemplo, segundo Cynthia, podem ter consequências ainda imprevisíveis pela ingenuidade das jovens que publicam esse tipo de foto. Bruna Bastos, neuropsicóloga credenciada da rede GNDI Sul, diz que nessa fase da vida as mudanças no corpo, emocionais e biológicas, naturalmente provocam um medo de rejeição. Com as redes sociais essa possibilidade se multiplica.

Para a neuropsicóloga, também nesse ambiente virtual há uma disputa por popularidade. Principalmente nas meninas, de acordo com ela, essa competição tem grande papel na construção da insatisfação corporal porque dá início a uma busca por um padrão impossível. “Parece que o que não é real é o normal na rede social. A gente precisa normalizar mais o que é real. Na internet é o inverso”, enfatiza.

A distorção da própria imagem pode ter consequências psicológica e físicas. Transtornos alimentares têm relação direta com isso, assim como desordens emocionais, tais como ansiedade e depressão. Cynthia também define o que chama de transtorno de dependência: “É uma imagem que você planeja e não uma imagem real. A pessoa precisa manter uma imagem do que ela não é em detrimento daquilo que ela é”, revela.

Outra consequência é que esse padrão de comportamento pode interferir, inclusive, nos relacionamentos da vida adulta dessa adolescente. “Assim como ela se vê de forma idealizada ela vê o outro de forma assim também. Isso pode criar problemas para estabelecer um relacionamento saudável com alguém”, reforça Cynthia.

Não é um caminho fácil prevenir ou evitar esse tipo de comportamento, mas os pais são responsáveis pela orientação que pode direcionar os filhos. Bruna destaca que é impossível eliminar as redes sociais ou impedir que sejam utilizadas, mas monitorar o que é postado é uma obrigação. A dica é sempre manter o diálogo aberto e tentar promover atividades em família que resgatem o contato social, diminuindo o tempo que os filhos passam navegando nas redes.

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