Filhos adolescentes devem ser respeitados na sua bsuca pela identidade e pais precisam mudar seu jeito de encará-los.
Filhos adolescentes devem ser respeitados na sua bsuca pela identidade e pais precisam mudar seu jeito de encará-los.| Foto: Bigstock

Ser mãe de adolescente é, antes de tudo, exercício de humildade. Digo isso porque descobri que ser mãe é aprender continuamente... até quando pensamos já saber tudo e não queremos aprender — e mudar — mais nada.

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Contrariando a ideia usualmente construída, ser mãe não pressupõe conhecimento absoluto de tudo, tampouco perfeição que, curiosamente, pensamos possuir. Tornar-me mãe de adolescente ruiu esta falácia e me levou — por necessidade própria — a cair na real: ser mãe é continuar aprendendo e se aperfeiçoar a cada fase... junto com filho.

Mãe irremediavelmente igual

Como avisada em tom profético, o filho mudou bastante na adolescência. Dentro e fora. As mudanças visíveis e invisíveis também mudaram nossa relação, que logo se tornou conflituosa e distante. Por longo tempo lutei para manter a criança que desaparecia a olhos nus enquanto ele fazia o mesmo, mas para se firmar como indivíduo. De um lado, tentava assegurar meu controle sobre ele; do outro, ele tentava se assegurar... de si mesmo. Tudo mudou e o convívio ficou insuportável.

Como profeticamente anunciado, também me enxerguei experiente e segura o bastante para “lidar” com filho adolescente que “se achava” dono de si. A lente distorcida de ambas as partes concretizava atitudes demeritórias que, depois, entendi ser a raiz de nossas desavenças. Cega e impassível às mudanças necessárias para viver a nova fase de filho — e de mãe —mantive-me irremediavelmente igual ao modelo convencionado como “típico” de mãe de adolescente, ou seja, um clichê.

Mãe de pedestal

Hoje tenho consciência do período de cegueira que vivi sendo mãe de adolescente de respostas prontas — e, a propósito, certas — para tudo. Inconsciente de meu limitado conhecimento sobre a fase, embarquei na onda dos clichês e me acomodei em repetir histórias conhecidas. Fui mãe de adolescente igual a muitas. Perdi minha autenticidade acreditando ser este fluxo normal da vida de mãe, então, de adolescente. Lembro quando os recorrentes conflitos com filho me levavam a repetidamente perguntar: - Onde foi parar “aquele” filho que conhecia?? De repente, falava de filho “perdido”. Na ânsia de "recuperá-lo" passei então a assumir atitudes autoritárias e controladoras. O resultado natural foram confrontos, discussões, conflitos e progressivo — e angustiante — distanciamento.

Sobre uma espécie de pedestal — que hoje facilmente enxergo — fui mãe de adolescente de comandos e verdades absolutas. Não notava, contudo, que o “seguidor” de outrora mudara e ganhava autonomia para testar voz e pensamento próprios. No embate, ambos perdíamos não só a capacidade de nos relacionar; também desperdiçávamos a chance de crescer juntos como mãe e filho em nova fase de vida.

Mãe na real

Fácil recordar as inúmeras vezes em que interrompia filho adolescente em seu exercício de amadurecimento: cortava suas frases, atropelava suas opiniões, respondia por ele, interrompia suas falas e, por vezes, até zoava suas ideias “sem nexo” que, só mais tarde, entendi serem valioso resquício da pureza e criatividade prestes a desaparecer no adulto em formação. Em suma, impedia o filho de crescer.

Dificultava este processo por si só difícil por desejar manter o status quo de mãe imutável. Podava suas iniciativas de se experimentar. Abafava e, até involuntariamente, minava seu esforço de se tornar adulto. Naquele dia, prestes a entrar em seu quarto, o escutei reclamar ao amigo: - Cara, minha mãe é um saco! Seguido aos risinhos do confidente que parecia compreender o significado daquela frase-mantra, emendou: - Ela não me deixa ser quem eu sou, cara! Sempre me interrompe, manda, reclama, critica... fala comigo como se eu fosse um teleguiado que só deve seguir o que ela diz e ordena! Pô... um saco!

A inesperada escuta surpreendeu. Como que abruptamente sacudida de um torpor inconsciente, acordei e enxerguei além; me vi na real... e não gostei daquela mãe. Pela nova lente, descortinei falhas até então desapercebidas que, continuamente relevadas, iam se amontoando e veladamente formando a barreira de que tanto me ressentia viver com filho adolescente. Naquele momento, parte das respostas sobre o filho “desaparecido” se revelou.

Mãe que aprende

O filho adolescente quer ensaiar sua própria voz. Anseia audiência que o escute e precisa de uma que o ajude a se aprimorar. Portanto, precisa de um ouvinte interessado e atento às suas narrativas. Como todos nós, adolescente deseja — e espera! — ser considerado e respeitado nas expectativas tão óbvias que eu, mãe de dois, ainda não sabia.

O primeiro passo de abandono do pedestal foi aprender a compartilhar o leme da vida com o filho. O seguinte, tão ou mais desafiador, foi soltá-lo pouco a pouco a fim de que aprendesse a arte de manejá-lo sozinho. Na prática, comecei lhe permitindo: ser ele mesmo, independentede mim; dar opinião própria, independentemente de qual fosse; espaço para falar, independentemente do tempo necessário; se expor, independentemente de sua imaturidade; fazer escolhas (desde que salvaguardada sua segurança física e moral).

Mãe que muda

Pra mim, mudar foi necessidade. Acolher o “novo” filho, “diferente do outro”, também. Aprender a escutá-lo e discutir suas opiniões de forma atenta e madura — por mais infantis que parecessem ou de fato fossem — um desafio. Enxergá-lo e assumi-lo adolescente exercitando a si mesmo, uma prova difícil de humildade que me fez descobrir e também mudar para ser mãe coadjuvante, não mais protagonista na vida de filho. Mudar provou quão repetidos e desnecessários erros cometia por me achar mãe completa. Formatada no modelo de “típica” mãe de adolescente não via que, enquanto o filho crescia, eu estagnava.

Mãe em nova fase

Manter-me igual na fase em que tudo muda me desconectou de filho adolescente, causou danos evitáveis, fortaleceu clichês inúteis. Aprender a ser mãe de adolescente precisa ser o novo paradigma. Infelizmente a presunção de completude persiste e induz pais de adolescentes a viverem à margem de uma fase de incrível e instigante aperfeiçoamento não só do jovem, mas de toda a família. Conviver com o filho adolescente é muito mais do que este chato e falacioso enredo de personagens e histórias repetidas. Descobrir novas — e melhores — versões depende da disposição de cada um enxergar-se de uma lente mis limpa e humilde para mudar o que for necessário. Afinal, a fase muda... para todos.

*Xila Damian é escritora, palestrante e criadora do blog Minha mãe é um saco!, espaço em que conta as situações cotidianas e comuns que vive sendo mãe de adolescentes, buscando desmistificar clichês sobre essa fase dos filhos, para transformá-la em um tempo de aprendizado.

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