Só vivendo para entender e aprender que carência de socialização com filho adolescente se resolve ajustando arestas pelo diálogo.| Foto: Bigstock
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Pais costumam sentir a pouco ou completa falta de socialização com filho adolescente. Pior ainda quando o amor, uma vez descoberto, amplia o distanciamento causado pelo convívio do jovem casal em casa.

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A relação drasticamente alterada pela constante presença não mais do filho mas agora de um casal passa a incomodar toda a família tolhida de sua privacidade e convívio.

- Minha casa não é hotel, meu filho!

Quem nunca escutou ou proferiu esta frase que atire a primeira pedra. Minha experiência com ela veio pela inusitada quarentena instaurada pela Covid19 e, ao contrário do que poderia se tornar oportunidade de socialização com filho adolescente, virou overdose de um indesejado e incômodo trânsito doméstico... sem relacionamento.

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Mais uma situação com filho adolescente

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Os dias iniciais de pandemia foram repentinamente sufocados pelos inúmeros afazeres domésticos misturados aos profissionais e se tornaram excessivamente exaustivos. A corrida solitária próximo à instituída hora do almoço virou oásis no meu deserto socialmente limitado e mentalmente estressante.

Como de costume, naquele dia saí da reclusão obrigatória para a habitual corrida. Precisava ficar sozinha e o exercício solitário supria esta necessidade muito bem até a mensagem cortar a música ao ouvido com o áudio enviado por filho:

- Mãe, tamo indo pra casa da Mari. Beijo.

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Surpreendida pelo “comunicado”, me irritei com o imprevisto. Frustrada com a mudança de planos involuntária, me incomodei com o aviso reclamando para mim mesma:

- Aaaah, minha casa não é hotel, não!

Respirei fundo para restaurar o ritmo. A música eletrizante ao fone pareceu-me baixa demais. Aumentei o volume ao máximo e, como que expurgando a indignação, as passadas ficaram mais largas e a respiração, mais intensa. A corrida, enfim, ganhou mais vigor.

Concluído o percurso, parei e liguei para filho ainda sentindo a adrenalina bombeando o corpo. Não atendeu. Em vez disso, nova mensagem:

- Calma. Já te ligo.

Mais irritada do que antes, segui para casa. Enquanto o corpo restabelecia suas condições normais de pressão e temperatura, lutava para baixar as armas tentando me convencer de que aquela seria só mais uma situação com filho adolescente... só mais uma.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

A missão de pais de adolescente

Já escutara de pais de adolescente reclamações sobre a presença irrestrita de namorados em casa. Os relatos soavam como mantra. Incomodados (assim diziam) com noras e genros a portas fechadas no quarto, a socialização com filho virava sonho de consumo cada vez mais distante da realidade. Lembro de uma amiga se lamuriar:

- Não consigo mais conversar com o Fred. Sempre com a Carol, enfiados no quarto pra comer, estudar, dormir... falamos só o trivial. Não consigo desenvolver uma conversa, saber como está sua vida, a escola... tudo soa enfadonho. Já falei pra ele: minha casa não é hotel! Pior é que, depois, me senti mal pelo que disse. Fala pra mim: tô exagerando?

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Não soube o que responder. Talvez fosse um incômodo exagerado; afinal, era natural – e até saudável – ter a namorada de filho adolescente por perto. Talvez não... talvez fosse demais tê-la tão presente assim. Fato é que:

- Viver as situações com filho adolescente é exercício pessoal que exige ajustes e muita conversa para aparar arestas e incômodos. Supera-los é missão difícil que pais tentam lograr como podem... e conseguem. Já conversaram sobre isso? – disse.

O convívio a três com filho adolescente

Acordei cedo e, como de praxe, comecei o dia cumprindo a lista infindável de tarefas domésticas de forma organizada. A meta de fazê-lo render incluía socializar com filho e sua namorada, a Mari, durante o almoço quando a chance de um encontro me parecia mais factível em meio às novas agendas de quarentena.

Assim, a cada tarefa concluída, orgulhosamente ticava a longa lista. Como criança disciplinada, previa uma corrida especialmente revigorante naquele dia. Antes de usufruir da esperada socialização com filho adolescente, contudo, segui para o meu momento de refrigério solitário.

Decerto que a hora livre das responsabilidades me libertava dos grilhões invisíveis impostos pela nova rotina. Naquele dia, contudo, o aviso do filho quebrou meu momento. As circunstâncias, de fato, mudaram drasticamente e o casal parecia também sentir seus efeitos entre aulas remotas e trabalhos escolares.

Não que me importasse de filho adolescente e sua namorada Mari lá e cá mas o desafio de um convívio diário a três surpreendentemente ampliara a já falta de socialização imposta pela adolescência.

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Pais de adolescente querem socializar

- Oooi, mãe... – saudou enfadado o filho parecendo aguardar o tom da conversa para se preparar para mais uma batalha comigo.

Atenta – e, confesso, um tanto revanchista – quis surpreende-lo. Respirei fundo e, mais vigilante, expus meus "incômodos":

- Tinha planos de estar com vocês no almoço, filho. Fiquei desapontada com a inesperada mudança de planos... – assim continuei regulando tom e voz – sequer temos tempo juntos... mal nos vemos. Nem na quarentena nos socializamos.

Enfim compreendendo o sentimento daquela mãe, segui:

- Agora você vive tudo do quarto e, por conta da quarentena, nosso convívio virou mera satisfação de necessidades... pô, minha casa não é hotel, né? Fala pra mim: tô exagerando?

Naquele momento, toda minha previsibilidade destoou da resposta recebida de filho:

- Entendi, mãe. Tudo bem. Acho que cê tá exagerando sim... como sempre... mãe, só estou indo para a casa da Mari, como já vínhamos fazendo há tempo! Nada diferente! Que saco! Agora, se a questão é que não... é... socializamos – é isso? – vou tentar mudar mas... pô, preciso de um tempo também, né? Que mal há em querer ficar na minha no meu quarto? Nada demais, pô!

Nova dinâmica com filho adolescente

Seu argumento soou legítimo e até defensável por evidenciar um detalhe até então desapercebido: filho também desejava um “escape”; não necessariamente por meio de uma atividade física mas pela reclusão em seu QG, vulgarmente chamado quarto.

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Por uma lente diferente consegui enxergar grilhões invisíveis também em filho adolescente. De outro ângulo, consegui também sugerir um modo de amenizar nossos incômodos e equilibrar nossas necessidades:

- Entendi. Então, na volta, você poderia me dedicar um tempo? Tô com saudade de você... A resposta ficou no ar perdida em uma despedida que mais parecia um grunhido do que um tchau. Talvez avaliasse o pedido ou apenas me deixasse no vácuo para se livrar de mim. Não cobrei nem reclamei. Em vez disso, optei pela prudência - e paciência – de esperar um resultado diferente do já conhecido de outros pais.

O que importa é crescer junto

De fato, filho voltou sozinho e também acabrunhado. Apesar de curiosa, fingi naturalidade pensando comigo:

- Melhor não valorizar o fato.

Decidi pôr em prática o plano de socialização a dois e logo estávamos conversando sobre as últimas notícias (do interesse dele, claro!) e comendo à mesa como família que se ajusta para continuar convivendo mesmo sob circunstâncias tão diferentes como as da pandemia.

Verdade também que não durou muito até que a intensa rotina de quarentena sugasse minhas horas e me fizesse sentir mais falta “do meu momento” do que da socialização com filho adolescente, àquela altura mais carente de atenção e cuidados do que antes.

- A Mari tá sumida... quando vai aparecer aqui em casa? Saudade dela...

Só vivendo para entender, aprender e assumir que carência de socialização com filho adolescente a gente resolve ajustando arestas pelo diálogo e por mudanças dos dois lados. Não importa se a dois ou mais; precisamos continuar crescendo... juntos.

*Xila Damian é escritora, palestrante e criadora do blog Minha mãe é um saco!, espaço em que conta as situações cotidianas e comuns que vive sendo mãe de adolescentes, buscando desmistificar clichês sobre essa fase dos filhos, para transformá-la em um tempo de aprendizado.