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Por volta dos quatro ou cinco anos de idade as crianças já começam a ter uma noção do que é certo e errado. Elas passam a assimilar regras de convivência e nesse momento uma situação parece se tornar comum: a fofoca. Comumente eles contam sobre o que fulano disse na escola, criam um senso de respeito às regras e aí começam a avisar quando o irmão não desligou a televisão, e parecem um caminhãozinho levando para lá e para cá algumas informações ouvidas.

Nem sempre benéfico, esse leva-e-traz de conversas merece a atenção dos pais, professores e demais pessoas envolvidas no desenvolvimento delas. “É nessa hora que passamos a auxiliá-las na compreensão da ética, da amizade e do respeito pelo outro”, explica Andréia Godoy, coordenadora da Educação Infantil I e Ensino Fundamental I do Colégio Expoente. Segundo ela, as crianças nessa idade percebem os efeitos da fofoca – inclusive os benefícios pessoais que ela pode proporcionar.

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Mas esse sentir-se bem deve ser monitorado pelos pais. É preciso saber a motivação daquela conversa, porque “elas não são do mal, são um passo do desenvolvimento da criança”, de acordo com a psicóloga Ana Caroline Bonato da Cruz. “É um momento inclusive saudável, porque os pais percebem que ela está entendendo algumas regras, quando denuncia que alguém as está infringindo”, diz ela. Mas a frequência com que esse “comentar sobre os outros” acontece e o porquê de ela estar contando isso a outras pessoas tem de ser verificado.

“É nessa hora que a maturidade e a autoridade do adulto devem aparecer”, segundo Ana Caroline. Aos pais e professores cabem o papel de ver se a história trazida pela criança confere com a realidade, bem como de estimular a empatia nela, perguntando: “E se fosse com você?” Ao mesmo tempo, eles podem ajudar a criança a entender como filtrar o que é ou não útil compartilhar. “É preciso ouvir com cautela e amor, não supervalorizar, mas pontuar para que não vire fofoca e, sim, se torne um diálogo”, lembra Andréia.

Seja um exemplo

Muito mais do que o dizer é o fazer. “As crianças agem como um reflexo dos modelos sociais em que estão inseridas: família, escola, igreja, etc.”, diz Fabiana Retamero, coordenadora pedagógica da Rede Adventista de Educação. Se no discurso dos pais em casa há sempre a conversa sobre algum conhecido enfatizando os seus erros, ou se na escola uma professora costuma reclamar do trabalho de outra, a criança vai entender que é falando mal do outro que se resolvem problemas.

Além disso, há o risco de aquela fala sair das quatros paredes, por meio da própria criança, que não consegue discernir entre o que deve ficar em privado dentro da família e o que pode ser compartilhado externamente. Ao perceber que a criança está refletindo o comportamento do adulto, é necessário parar por um momento e rever atitudes.

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Outro ponto destacado por Fabiana é a importância de que a criança veja no pai, na mãe e nos professores a figura do local seguro ao qual elas podem acorrer para contar o que sabem. Por isso é fundamental que os adultos ouçam o que a criança tem a dizer, verifiquem se é ou não uma conversa prejudicial e a instruam. “A criança precisa contar tudo o que afeta a segurança, que machuca fisicamente ou não, ou que vai machucar outro. É importante reforçar o que é essencial a ser dito e mostrar quem é que resolve”, explica.

Dessa maneira, de acordo com Fabiana, a criança passa a trazer as histórias exclusivamente até os pais, professores e outros cuidadores, evitam a fofoca e inclusive apresentam questões que podem afetar sua segurança. Quando os pais repreendem a criança sempre, ao achar que ela é fofoqueira, acabam criando uma barreira que não deve existir, já que alguns abusadores, por exemplo, usam do artifício do “guardar segredo” para ferir as pequenas.

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