A criança só compreenderá os valores da Páscoa se falarmos sobre eles e demonstrarmos, pelo exemplo, que acreditamos nisso.
A criança só compreenderá os valores da Páscoa se falarmos sobre eles e demonstrarmos, pelo exemplo, que acreditamos nisso.| Foto: Bigstock

Todo ano é a mesma coisa: o carnaval mal termina (e não importa houve feriado ou não, como agora em 2021) e, antes mesmo de pensarmos que dentro de algumas semanas celebraremos a Páscoa, os supermercados já estão repletos de irresistíveis ovos de chocolate – cada vez mais caros, por sinal – pendurados pelos corredores.

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Tudo bem, sabemos que os ovos simbolizam nascimento e vida, o que tem tudo a ver com a Páscoa, festa da ressurreição de Jesus Cristo. Acontece que essa e outras mensagens sobre o real significado dessa data ficam praticamente invisíveis em meio a uma maioria esmagadora de mensagens consumistas. Logo, é muito fácil desviarmos nossos olhares e, principalmente, nossos corações daquilo que é o verdadeiro sentido desta grande celebração.

E para as crianças isso não é diferente. Assim como tudo em seu processo de aprendizagem, a criança só compreenderá os valores da Páscoa se falarmos sobre eles e, acima de tudo, demonstrarmos, pelo exemplo, que acreditamos nisso. Então, compre sim chocolates (quem não gosta?), mas não deixe de transmitir aos pequenos os bons valores que esta data pode suscitar em cada um de nós e, consequentemente, nos tornar pessoas melhores:



  1. O primeiro passo é explicar às crianças por que celebramos a Páscoa. De acordo com Andreia Cristina Serrato, professora de teologia da PUCPR, Páscoa vem da palavra Pessach, que significa passagem. “Mas passagem do quê para quê? Passagem da morte para a vida”, explica.

    Então, conte a história de Jesus Cristo a seu filho e explique que ele foi um homem que veio ao mundo para nos ensinar a amar. Os milagres que ele realizou e a sua ressureição, três dias após sua morte, nos ensinam a cultivar a fé, essa força interior que nos faz acreditar em algo que seria inacreditável. Como pode alguém morrer e voltar a viver?

    Para os pequenos, essa relação pode ser um pouco complicada de ser compreendida. Por isso, você pode associar a fé àquilo que seu filho não pode ver, mas consegue sentir, como o vento, por exemplo. Quando estamos desanimados ou passamos por momentos difíceis, é a fé de que nada é impossível que nos dá força para perseverar.
  2. Esperança e interiorização

    Na sexta-feira santa, os cristãos lembram a morte de Cristo na cruz. Por isso, as horas que antecedem o domingo da ressurreição trazem uma sensação de vazio, afinal, Jesus está morto. “É uma grande oportunidade de apresentarmos o valor do silêncio e da interiorização para as crianças. Com a morte de Cristo, o grande vazio que se fez estava ‘grávido’ de esperança e de paz”, explica Andreia.

    “Conversar sobre o Jesus ausente, os discípulos escondidos e cheios de medo e a dor da mãe, Maria, significa falar dos nossos sentimentos, da nossa humanidade, da falta de esperança que temos muitas vezes”, afirma a professora, que sugere fazer momentos de silêncio com as crianças e perguntar o que sentem, o que ouvem e conversar sobre isso.

    Para isso, você pode criar junto com as crianças um espaço com algumas velas e deixar que elas mesmas organizem um ambiente que lhes traga paz. “Este silêncio não é de morte, mas sim de vida que pulsa dentro de cada um, pois Jesus ressuscitará, é tempo de acreditar”, diz Andreia.
  3. Caridade e amor ao próximo

    “A Páscoa pode ensinar a todos, independentemente da opção religiosa, que o verdadeiro sentido da vida se encontra no ensinamento e no exemplo de vida de Jesus Cristo: ‘amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei’ (Jo 15, 12)”, afirma Frei João Mannes, professor e presidente do Grupo Educacional Bom Jesus.

    Para o professor, é importante que as crianças conheçam essa mensagem de caridade, tão fundamental para a humanidade. E uma das maneiras de fazer isso é através de ações voluntárias. Acreditando que é pelo exemplo que as crianças aprendem as virtudes, neste mês de abril, uma pastoral do Grupo Educacional levou “afeto e atenção para centenas de pessoas atendidas por instituições beneficentes, doando caixas de chocolate para crianças, adultos e idosos”, conta Mannes.

    A passagem em que Jesus lava os pés dos discípulos também contribui nessa reflexão. Segundo Andreia, simular esse ato tão bonito com as crianças pode levar a um diálogo interessante sobre caridade, solidariedade e serviço. “Lavar os pés é colocar-se junto com o outro, em pé de igualdade”, explica.
  4. Coragem, perseverança e resiliência

    “Olhar a morte de Jesus é difícil para qualquer pessoa. Contudo é importante conversar sobre a morte, sobre as dificuldades que se enfrenta nos caminhos da vida”, diz Andreia. Por isso, ela sugere apresentar às crianças essa parte da vida de Jesus. Isso ajudará os pequenos a perceberem que “a vida humana é frágil, vulnerável e que é necessário cuidar-se, respeitar o outro e principalmente, ter perseverança e coragem nos momentos difíceis”.

    Para ajudar na reflexão do tema, confeccione junto com as crianças pequenas cruzes de material reciclado e explique o significado da cruz antes e depois do cristianismo. Jesus transformou a morte em vida, a tristeza em alegria. É uma boa oportunidade para os pais explicarem que também “é necessário ‘matar’ dentro de nós algumas coisas que nos impedem de viver melhor a nossa vida, como por exemplo, os preconceitos e a falta de sonhos, deixando que isso tudo renasça em nós”, sugere a professora. “Assim não seremos mais indiferentes aos acontecimentos difíceis da vida, aprenderemos a transformá-los em esperança”.
  5. Abertura a uma vida nova

    Para Frei Mannes, com sua ressurreição, Jesus nos mostrou que a morte não é o fim de tudo. “Ou seja, quem vive e morre com Jesus Cristo na cruz, com Ele também ressuscita para uma nova vida. Nesse sentido, a Páscoa é para nós um momento de inspiração”, afirma.

    Então, ajude a criança a refletir sobre o valor e a importância da vida. Apresente a ressurreição como algo totalmente novo e que nos traz uma vida nova, sugere Andreia. Faça a criança perceber a diferença entre o clima da sexta-feira, de silêncio e interiorização, e o clima do domingo, de ressureição e festa. Os costumes pascais podem ajudar muito com isso: o momento de partilha da ceia no sábado à noite e a alegria ao encontrar os ovos de chocolate no domingo pela manhã. Para isso, é importante que os pais evitem discussões, nervosismo e não deixem que a correria dos preparativos ofusquem a alegria da festa.

    Apresentar essa mudança de clima faz com que a criança perceba a diferença entre a vida velha, da sexta, e a vida nova, no domingo. A morte simboliza a dificuldade que, muitas vezes, temos em aceitar essa mudança. Então, cria-se o terreno perfeito para uma conversa sobre como é importante sermos abertos às boas mudanças que a vida nos apresenta. “A Páscoa é o salto para a novidade, para a beleza, para a transcendência”, afirma a professora. Também é o momento perfeito para ensinar que nem toda a mudança é bem-vinda, mas aquelas que nos tornam pessoas melhores são excelentes e devem ser buscadas e bem aceitas.
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