As aulas remotas que para alguns chegaram com muita qualidade podem passar a sensação de que tudo foi assimilado como deveria.
A decisão precisa partir do diálogo entre as escolas e os pais ou responsáveis pelos estudantes.| Foto: Bigstock

Faltam menos de 40 dias para o encerramento do ano letivo. Como todo ano, ao se aproximarem os últimos meses, a apreensão aumenta para os alunos e familiares com a aprovação ou reprovação para a próxima série escolar.

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Mas com o fato de muitos alunos terem passado pelo menos um ano distantes das salas de aula, perdendo o contato presencial com os professores e colegas, é preciso estar bastante atento ao desenvolvimento escolar deles. Parece óbvia a recomendação. Entretanto, as aulas remotas que para alguns foram entregues com muita qualidade podem passar a sensação de que tudo foi assimilado como deveria, quando talvez não.

E isso varia de indivíduo para indivíduo, exigindo de pais e professores um olhar atento, porque essas ausências podem sim ter acarretado prejuízos. “O aprendizado foi muito afetado quanto à qualidade e também ao resultado. O processo de aprendizagem e a avaliação durante o período do isolamento social teve pouco significado, inclusive porque alguns estudantes acabaram utilizando ferramentas externas para responderem as avaliações”, esclarece a diretora e psicopedagoga da Escola Atuação, Esther Cristina Pereira.

Segundo ela, agora que esses alunos estão se habituando novamente à rotina presencial, é hora de acolher e trabalhar o psicológico deles e de seus familiares, porque muitos ainda sentem o peso das restrições da pandemia.

Adriana e Diego Soprana Gomes contam que o impacto da pandemia foi grande no aprendizado do filho, mesmo com as aulas remotas. O menino, de 7 anos, encontra-se na fase da alfabetização e eles observaram que as crianças da idade dele não apresentavam maturidade e controle para se concentrar nas atividades escolares e lidar com os sistemas informatizados ao mesmo tempo.

“Acompanhamos nosso filho, demos todo o apoio necessário e, por mais que houvesse uma adaptação da casa para o aprendizado, o ambiente não agregava com toda propriedade a parte pedagógica e lúdica que a criança precisa e só a escola presencial oferece”, explica o casal.

Com olhos no futuro

É fato que a aprovação para a próxima série escolar, sem que o estudante tenha entendido de fato a matéria, pode lhe ocasionar problemas futuros. Seja isso em tempos pandêmicos ou não. Mas, especialmente agora, essa questão precisa motivar o diálogo entre as escolas e pais ou responsáveis pelos estudantes, sobre a possibilidade da permanência deles na série em que estão, para um melhor aprendizado.

Entretanto, ainda que a retenção do aluno se faça necessária para a estruturação do processo de aprendizado, ela não pode ser estabelecida de forma aleatória, devendo ser percorrido um caminho de análise e reflexão com os pais e a escola, alerta Esther. “As famílias e a escola, em parceria, precisam definir um caminho para o aprendizado. Afinal, não podemos passar de ano alguém que não entendeu o processo dos conteúdos e não teve a aprendizagem adequada”, acrescenta.

Cada escola possui um projeto político pedagógico que dispõe, inclusive, quanto à aprovação, reprovação e retenção dos alunos, devendo ser de conhecimento de cada família para que não haja surpresas ao final do ano letivo.

A orientação da psicopedagoga é de que a abordagem com os estudantes com dificuldade seja trabalhada de maneira diferente, e a comunicação com as famílias seja feita mês a mês, não somente com o boletim do final do ano. Dessa maneira, em casos de necessidade da retenção do aluno, não há surpresas para a família, devendo sempre permanecer o diálogo baseado na ética.

“Assim como construir uma casa com buracos na estrutura trará danos graves futuramente, aprovar um aluno que não possuiu um aprendizado adequado pode lhe acarretar severos prejuízos, sendo necessário prepara-lo com uma base forte e bem estabelecida”, exemplifica Esther.

Contudo, ainda que a retenção seja necessária em determinados casos, cada estudante possui uma realidade distinta do outro. Por isso, não se podem generalizar os processos e aprendizados, devendo os pais e a escola adotarem cada decisão com muita cautela, considerando a circunstância de cada aluno de forma individualizada.

Adriana e Diego optaram pela retenção do filho, considerando a falta de maturidade para avançar nos estudos. “Analisamos que ele teve o aprendizado, mas não tinha maturidade para entender o processo pelo qual estava passando”, dizem.

Como acolher o aluno que será retido no ano escolar?

Determinada a retenção do aluno, o corpo escolar e os pais, em conjunto, devem pensar em formas de acolher e trabalhar o psicológico do estudante para auxiliá-lo a lidar melhor com a permanência na mesma série.

Para comunicar o filho sobre a decisão da retenção no ano escolar, Adriana e Diego explicaram conforme a capacidade de compreensão da criança. “Dissemos que seria um reforço de todo seu aprendizado na companhia da professora, com novas abordagens e com novos coleguinhas, e que o processo seria mais interessante. Assim, ele entendeu com tranquilidade”.

A retenção pode ser determinada por diversos fatores, inclusive, pelo descuido do próprio estudante, quando mais velho, que muitas vezes não levou a sério suas responsabilidades. Porém, independentemente do motivo, é imprescindível explicar ao aluno o porquê da retenção, mostrando-lhe as falhas e as possibilidades de elas serem sanadas no próximo ano.

“O aluno é o responsável pelo seu processo de aprendizagem junto com o seu professor e com a sua família. Esta tríade precisa estar conectada sempre”, destaca Esther, recomendando que, em caso de retenção ou reprovação, o aluno seja mantido na mesma instituição de ensino, visto que aquela escola conhece as demandas e defasagens do estudante que precisam ser supridas.

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