O processo pelo qual uma criança passa até chegar à adolescência e à vida adulta envolve a sua necessidade de ser iniciada em uma série de dimensões daquilo que significa ser humano. Afinal, ela não vem pronta: tudo aquilo que ela tem a desenvolver é assumido no compartilhamento de conhecimentos que constitui as tramas da cultura em que ela vive. Isso é verdade para a linguagem, a alfabetização, a sua identidade – e em relação às emoções também.
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E quando se trata de lidar com as próprias emoções, o primeiro passo é saber reconhecê-las e nomeá-las. “É muito importante que a criança e o adolescente – e qualquer ser humano, na verdade – saiba reconhecer o que está sentindo. Percebemos que muitas vezes as pessoas não têm essa noção, não têm autoconhecimento, e por isso têm um sentimento muito grande de confusão interior, como se não conseguissem absorver tudo o que acontece com elas”, comenta a psicóloga Ana Flávia Oliveira Souza Xocaira.
Trata-se de uma dimensão fundamental do próprio amadurecimento humano. “Quando você reconhece o que está sentindo, é muito mais fácil você se ver como uma pessoal responsável pela sua própria vida”, explica Ana Flávia. “Assim, quanto mais cedo trabalhamos essa questão com a criança, maior a probabilidade de ela se tornar um adulto com maior sucesso em relação à sua inteligência emocional”.
“Aprender a reconhecer os sentimentos é uma habilidade ligada à compreensão da própria existência, à forma de encarar o que acontece conosco no dia a dia”, corrobora a psicóloga Lariza Monteiro. “Quando temos a possibilidade de acesso aos nossos sentimentos, conseguimos ter um leque maior de possibilidades para entender as situações cotidianas e lidar com elas”.
O papel dos pais
Lariza menciona que ter consciência desse processo de aprendizado emocional pelo qual crianças e adolescentes passam é fundamental para os pais. “As crianças e adolescentes lidam diariamente com diversas emoções, que nem sempre são reconhecidas, só que muitas vezes os adultos acabam reagindo a essa sua falta de preparo como se fosse algo de inapropriado. Mas será que essas pessoas já conversaram sobre os sentimentos com as crianças?”, questiona a psicóloga.
“Os pais devem incentivar as crianças a falar sobre o que sentem, auxiliando-as a descrever como percebem as situações positivas e negativas, seja por meio da fala ou do desenho”, orienta Lariza. Claro que, para os pais, isso envolve em primeiro lugar uma relação saudável com as próprias emoções, até para poder ter uma boa disposição diante das dificuldades que os filhos têm em lidar com as suas.
“As crianças não vêm com controle emocional instalado dentro delas”, lembra Ana Flávia. “Por que a criança faz birra, fica emburrada? Porque ela ainda não teve o seu amadurecimento neurológico. Saber respeitar esses momentos, entendendo que nem tudo é mero capricho, é importante para os pais”.
Por isso, o primeiro passo dos pais para introduzirem os filhos na arte de reconhecer e lidar com os sentimentos é acolher aquilo que eles expressam. “Negar ou inferiorizar o sentimento não ajuda em nada”, sublinha a psicóloga. “Os pais devem trabalhar com a criança de forma a dar credibilidade a esses sentimentos, impedindo que os filhos se sintam sozinhos”. É nessa conexão afetiva que, aí sim, será possível ajudá-los a identificar esses sentimentos – e assim saber responder a eles.