Por que comprar quadrinhos de super-heróis para seu filho pode ser uma péssima ideia
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Seu filho adora filmes de super-heróis, e agora você está pensando em comprar revistas em quadrinhos da Marvel e da DC para ele?

Se seu filho for uma criança, essa definitivamente é uma péssima escolha. Esse é um impulso muito comum e compreensível, mas também é típico de pais que não entendem muito sobre o universo das histórias em quadrinhos, especialmente quando se trata das grandes editoras norte-americanas.

Antes de sair deste post por julgar ser só um arroubo de exagero moralista, conceda-me o direito de admitir que sou um grande fã do mundo dos super-heróis, que fui um colecionador assíduo de revistas em quadrinhos (X-Men e Wolverine, principalmente) durante toda minha adolescência e que faço questão de ir ao cinema com minha família para assistir todos os filmes da Marvel Studios.

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Somando essa experiência com a de pai, e mais um pouquinho de bom senso, pretendo publicar alguns textos tratando do assunto, a começar pela diferença gritante entre as histórias que vemos no cinema ou na TV, e as que vemos nos quadrinhos.

 

HQs tendem a ser moralmente mais liberais

Quase sempre a ideia de comprar HQs de heróis para os filhos surge depois que os filhos passam a gostar dos desenhos animados ou filmes desses heróis. Ingenuamente, muitos pais supõe que a história contada nas páginas terá o mesmo tom daquele mostrado nas telas: muita aventura, piadas leves e até bons exemplos de coragem. Dependendo da HQ que se compra, há grandes chances de ter errado em 100%.

Pode ser que uns cinquenta anos atrás essa suposição estivesse correta, mas o fato é que o mundo dos quadrinhos também é um negócio, e hoje quem movimenta esse mercado são os adultos, não as crianças. Os desenhos animados, os brinquedos, os materiais escolares e muitos dos filmes de heróis miram sim nas crianças, mas as HQs não mais, e isso faz tempo.

Mirando nos adultos, as histórias de hoje são complexas, bem como os personagens, cheios de dilemas morais, frequentemente defendendo conceitos que variam dependendo da cabeça do roteirista que as escreve.

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Quer exemplos? Suponhamos que você é um pai ou mãe despreocupado, quer só fazer uma grado para o seu filho, então vai na livraria e pega um gibi qualquer que tenha o Batman na capa, por que seu filho tem um tênis do Batman ou ganhou um boneco do personagem no McLanche Feliz. Se fizer isso, você corre o risco de colocar na mão de seu filho a história em que o Coringa espanca a Batgirl com um pé-de-cabra até deixa-la aleijada; ou se ele gosta é de X-Men, pode acabar colocando nas mãos de seu filho de 8 anos a história em que a personagem Vampira, após perder seus poderes, é estuprada numa prisão para mutantes por vários guardas. Aliás, é preciso dizer que histórias envolvendo violência sexual constam nos enredos das HQs com revoltante frequência. Neste e neste texto vocês podem tomar conhecimento sobre algumas das histórias que causaram mais repúdio.

Na mesma linha, não é difícil encontrar histórias densas e enviesadas sobre uso de drogas, sexo livre, homossexualidade, suicídio e até doutrinação política.

Por que é que nos filmes quase não se vê isso?

Por que, além da bilheteria, a outra poderosa fonte de lucro ligada ao mundo dos heróis no cinema é o de licenciamentos que concedem direito de uso dos personagens em brinquedos, materiais escolares, cereais matinais, biscoitos recheados, etc. E quem é que compra tudo isso? Famílias com filhos pequenos. Graças a Deus, os produtores desses filmes dependem completamente da opinião de famílias consumidoras para tornar o seu produto audiovisual rentável, e isso põe um freio na tara moralmente liberal da qual sofrem tantos artistas e diretores em Hollywood. No caso da Marvel Studios, a decisão final nunca é tomada por artistas, mas sim por executivos que tendem a respeitar mais a realidade, e dar menos bola para modas ideológicas, já que estão mirando em algo bastante concreto: o dinheiro das famílias.

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Ocorre que, como as HQs dão um lucro microscópico quando comparado ao que vem dos cinemas, acabaram tornando-se produtos em que a experimentação está liberada e pode aparecer de tudo ali. Mesmo com personagens clássicos, ocorrem coisas que seriam impensáveis nos desenhos animados ou nos filmes, como o beijo gay entre Wolverine e Hércules num universo paralelo, ou a versão de Mulher-Maravilha do roteirista Greg Rucka, que, segundo ele mesmo, é bissexual.

Super-heróis não prestam?

Isso quer dizer que os HQs de super-heróis são todos imorais? Não. Como disse, depende completamente de quem escreve, mas, convenhamos quantos são os pais que têm interesse ou tempo para pesquisar quem são roteiristas da história X do herói Y antes de compra-la para seu filho?

O mais seguro, portanto, é deixar os pequenos aproveitarem a ludicidade desse mundo de heróis nos muitos outros produtos que os estampam. Eles se satisfazem assistindo aos filmes heróis apropriados (como Vingadores, mas Deadpool jamais!), jogando games com os personagens infantilizados das franquias LEGO (tem Batman e Marvel Super Heroes, por exemplo), brincando com os bonecos plásticos da Mattel e da Hasbro ou fantasiando-se com roupas e máscaras que piscam.

Acredite, super-heróis podem ser muito úteis para o desenvolvimento de virtudes e sua família pode acolhê-los de outras formas, sem que vocês tenham de conviver com histórias moralmente discutíveis.

 

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No próximo artigo sobre o assunto, vamos falar de outro problema envolvendo HQs de heróis e crianças: os desenhos excessivamente sensuais.

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