Alguns sintomas chamam a atenção logo no início como a necessidade de sempre manter o celular ligado, dificuldades nos relacionamentos e utilizar o smartphone como “válvula de escape” para fugir da realidade.| Foto: Eren Li/Pexels
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Negociações com fornecedores e clientes são fechadas pelo celular, transações bancárias acontecem com o uso de aplicativos, e as informações a respeito da família, dos amigos e do mundo chegam por meio de notificações a cada minuto. Com isso, pessoas como o empresário Reinaldo Teles Junior até tentam deixar o smartphone de lado, mas admitem que essa tarefa é muito mais difícil do que parece.

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“A gente usa o celular para tudo”, afirma o paulista de 32 anos, que tem um carregador no carro para nunca ficar sem bateria no aparelho e já voltou para casa diversas vezes só para buscar o telefone esquecido. “Essa é minha principal ferramenta de trabalho, não tem jeito”.

O problema é que milhares de indivíduos que utilizam o celular de forma profissional, como ele, também costumam usá-lo de maneira excessiva fora do horário de expediente, correndo risco de desenvolver uma dependência tecnológica chamada nomofobia. “Nesses casos, a pessoa sente pavor quando não consegue se comunicar, pode desenvolver ansiedade, depressão e, em casos extremos, chegar ao suicídio”, alerta o médico Júlio Dutra, presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria (APPSIQ).

Segundo ele, essa sensação de medo ao ficar sem o aparelho começou a ser estudada em 2008 e ainda não possui critérios formais para seu diagnóstico como transtorno mental. No entanto, “alguns sintomas chamam a atenção logo no início”, afirma, ao citar que os pacientes sentem necessidade de sempre manter o celular ligado, apresentam dificuldades nos relacionamentos e fazem do celular uma “válvula de escape” para fugir da realidade.

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Alerta para todas as idades

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Além disso, sinais como baixa autoestima, necessidade de receber curtidas nas redes sociais, impaciência quando a internet está limitada e até batimentos cardíacos acelerados também são frequentes. “É um vício que pode ser comparado ao dos dependentes químicos que sofrem crises de abstinência”, exemplifica o psiquiatra, ao explicar que no momento em que o indivíduo fica longe do aparelho, seu organismo reduz a liberação de dopamina, causando sérios desconfortos como taquicardia e desespero.

E esses sintomas, de acordo com o presidente das APPSIQ, têm sido encontrados em pessoas de todas as idades. “Inclusive em crianças e adolescentes que agora passaram a ficar ainda mais tempo no celular devido às mudanças causadas pela pandemia de Covid-19”, alerta.

Por isso, ele orienta os adultos a ficarem atentos ao próprio comportamento e a também monitorarem a utilização do aparelho por seus filhos, sobrinhos e netos, estabelecendo um tempo máximo para o uso das telas dentro e fora de casa. “O ideal é organizar uma rotina com os horários de estudo e com ações sem o uso do telefone como alimentação, atividades manuais e exercícios físicos”, aconselha.

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“Foi isso que fizemos aqui em casa”, conta o eletricista Renato Mosquem. Pai dos adolescentes Nícolas e Alana, de 11 e 18 anos, ele viu os dois passarem horas e horas diante do celular devido às aulas online, joguinhos e conversas com amigos pela internet. Então, começou a sugerir maneiras diferentes deles se divertirem, sem usar a tecnologia.

“Temos andado de bicicleta várias vezes na semana, vamos ao parque, brincamos de jogos de tabuleiro e conversamos”, conta o mineiro que, mesmo incentivando essas atividades, percebe a dificuldade que a nova geração tem para se afastar do telefone. “Quando a atividade acaba ou quando ficam sozinhos, sempre voltam para o celular”.

De acordo com o especialista, isso acontece porque a juventude atual já nasceu na era digital, então não conhece um mundo sem esses aparelhos. Portanto, ele aconselha os pais a não proibirem o uso das telas, mas a equilibrarem seu uso. “Temos que buscar o autocontrole”, pontua.

No entanto, se os sintomas da nomofobia persistirem e até piorarem, ele aconselha a intervenção de um psicólogo ou psiquiatra. Afinal, essa dependência patológica é séria e precisa ser prevenida e tratada antes que o desfecho seja cruel.

Dicas para reduzir o uso do celular

  • Manter o celular no modo silencioso.
  • Evitar jogos e redes sociais
  • Desativar as notificações que tiram sua atenção
  • Tentar criar uma rotina de uso saudável
  • Reservar apenas alguns minutos para trocar mensagens