A telefonofobia faz do ato de falar ao telefone um evento traumático e até mesmo assustador.| Foto: Sarah B/Unsplash
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Entre idas e vindas do hospital com sua mãe, Camila* passou dois anos apreensiva cada vez que o telefone tocava, pois não sabia quando seria um chamado de urgência e precisaria socorrê-la novamente, em virtude da precária saúde estabelecida.

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Essa apreensão relacionada com a chamada de voz já tem nome: telefonofobia. E, segundo o psiquiatra Julio Cesar Nogueira Dutra, além de abranger o medo de falar ao telefone, também consiste na angústia, stress ou ansiedade gerada antes, durante ou depois da ligação recebida.

“A ansiedade é tanta que o simples ato de falar ao telefone faz com que a pessoa tenha um sentimento destrutivo. Ela passa a atrasar ou evitar as ligações, sentindo-se extremamente nervosa ou ansiosa e fica, muitas vezes, extremamente preocupada com a pessoa que escutou a sua voz e o que ela poderá pensar sobre si”, explica Dutra, que é presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria.

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E justamente dessa forma é que Camila se sente. Mesmo com o quadro de saúde da sua mãe estabilizado, toda vez que o telefone toca a professora sente angústia e palpitação, permanecendo assim até alguns minutos após encerrar a ligação, seja com quem for.

Por consequência, falar ao telefone pode se transformar em um evento traumático, até mesmo assustador. “Porque as pessoas ficam limitadas apenas às vozes do outro lado da linha. A ausência de gestos e da linguagem corporal faz despertar fatores de medo e ansiedade porque muitas vezes as pessoas acreditam que não estão sendo compreendidas”, exemplifica o psiquiatra ao contar que, nesses casos, até mesmo a própria voz do locutor pode o incomodar. “É por isso que algumas pessoas optam por enviar mensagens de texto, porque lhes dá tempo para pensar, escrever e conseguir conduzir de uma forma mais explicativa a conversa”, destaca ele.

A ansiedade pode ter relação com traumas vividos no passado

Dutra alerta que a ansiedade relacionada ao toque do telefone pode estar, em algumas vezes, vinculada à preocupação do que as pessoas vão pensar ao seu respeito. Em outras vezes, segundo o psiquiatra, pode ser originária do ambiente no qual a pessoa está inserida, por sua personalidade e até mesmo por fatores genéticos.

“Nesses casos, a pessoa busca desviar ao máximo de uma possível interação com desconhecidos, preferindo, inclusive, muitas vezes ser anônima ou calada diante de situações com outros, até por receio de ser mal interpretada”, exemplifica ele.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Porém, grande parte dos pacientes que têm alguma reação negativa frente ao toque do telefone, desenvolveram tal estímulo após viver algum trauma, como é o caso de Camila. “Alguma situação em que o telefone foi o porta voz de uma má notícia, como o falecimento de um ente querido, gera um comportamento no qual a pessoa sente que estará sendo constantemente instigada a pensar ou resolver alguma solução rapidamente”, explica Dutra.

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Tamanho é o desconforto que as pessoas buscam uma espécie de fuga para as ligações, evitando ao máximo experimentar as sensações negativas, deixando até mesmo de atender as chamadas ou ficarem próximas ao telefone.

E como resolver?

Nesses casos, o desconforto causado ao sentir-se obrigado a atender qualquer ligação ultrapassa os vínculos sociais e pode acarretar até mesmo na perda de oportunidades profissionais para a pessoa.

Por isso, frente à tensão com o toque do celular, é importante procurar ajuda médica ou psicológica, para que, através de uma série de perguntas, o profissional avalie o quadro emocional do paciente e verifique se a presença de determinados sintomas é persistente por um período superior de seis meses que configure o medo, ansiedade ou agonia como patologia.

“Alguns exames também podem ser solicitados para descartar outras fobias associadas e, com isso, determinar o melhor tratamento”, destaca o psiquiatra ao explicar que, assim como a maioria dos transtornos mentais, a fobia poderá ser tratada através da psicoterapia, da prescrição de medicamentos ou da união dos dois métodos, desde que com o acompanhamento médico adequado.

“O tratamento com medicamentos é realizado através de antidepressivos e inibidores da ansiedade que têm o intuito de melhorar um pouco mais rápido os sintomas do paciente. Isso permite que ele consiga, sozinho, lidar com os sentimentos e enfrentar as situações”, explica Dutra.

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Já na psicoterapia, o psiquiatra orienta que a terapia cognitivo comportamental seja a que melhor se adeque por agir diretamente no problema apresentado. “Através da sugestão de exercícios, tarefas para se fazer com que o paciente se reconheça, encare e mude a sua realidade, ele perderá o medo”, conclui o psiquiatra, que acredita que o paciente, acompanhado de um profissional, aos poucos consegue evoluir de tal forma que consegue recuperar a sua qualidade de vida e relaxar mesmo vendo a tela do seu telefone piscando com novas ligações.

*Camila é um nome fictício para preservar a identidade da paulista de 53 anos, citada na reportagem.