Evitar que alguém da família sinta-se num papel secundário é importante no relacionamento familiar.
Evitar que alguém da família sinta-se num papel secundário é importante no relacionamento familiar.| Foto: Bigstock

No casamento, após o nascimento dos filhos, a rotina vira de ponta cabeça: além das tarefas domésticas e do trabalho, o tempo do casal passa a ser dividido com as necessidades da criança que está chegando, em alguns casos, permanecendo até a vida adulta.

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E quando um dos cônjuges começa chegar tarde em casa, esvaziar o diálogo, diminuir o afeto ou a procura pelo outro, pode ser sinal de que passou a exercer um papel secundário e não está recebendo a atenção que lhe cabe. Isso acontece principalmente quando os filhos são priorizados de forma desmedida, e o cônjuge não consegue estabelecer uma "relação triádica", incluindo o pai ou a mãe e dividindo os cuidados do bebê, alerta Carmen Simon, Psicóloga da Família e do Trabalho.

Segundo ela, a pessoa começa a viver em função da criança e esquece do seu papel como casado e também o de mulher ou homem. “E esse é um primeiro sinal de alerta!”, destaca. Afinal, deixar de priorizar alguém da família, seja o cônjuge ou filho, pode, com o tempo, enfraquecer as relações que a sustentam.

Atenção personalizada

Por isso, todos devem ter prioridade e receber atenção de forma igualitária, acredita a orientadora familiar Lelia Cristina de Melo. Mas as atenções devem ser personalizadas, destaca a psicóloga. “O cônjuge deve ser priorizado como adulto, como par e igual, com conversas profundas, longas e abrangentes sobre toda situação familiar”, enquanto os filhos devem receber um olhar de cuidado, suporte e orientação de acordo com as necessidades que apresentam, conforme sua faixa etária.

“Filhos pequenos exigem trabalho corporal mais intenso, filhos maiores requerem um trabalho de monitoramento comportamental, enquanto os filhos adultos precisam muitas vezes de uma mentoria particular”, exemplifica Carmen. Assim, o processo da atenção acaba sendo coletivo e individual, explica Lelia. “Porque cada pessoa – marido, mulher ou filho – tem suas necessidades peculiares e precisa de momentos individualizados com o outro”.

Mas como dar atenção aos filhos e esposo de maneira justa e igualitária? 

A questão de justiça e equidade no âmbito familiar, segundo Carmen, é difícil de conciliar, por se tratar de um ambiente permeado de emoções e afetos. Por isso, para ela, “priorizar o cônjuge ou o filho sempre dependerá da situação e o grau de urgência”.

Se você tem um bebê com alguns dias de vida, a prioridade, além de si, é para o bebê porque ele é incapaz de sobreviver sozinho e precisa de cuidado intensivo, ela exemplifica. “O mesmo caso se aplica para crianças com transtornos do desenvolvimento ou que apresentem alguma condição física ou emocional que requeira cuidados maiores”, acrescenta.

Portanto, no dia a dia, a gestão do tempo deve determinar as prioridades escalonando o que é importante, imprescindível, intransferível e urgente. “Primeiramente considere a faixa etária, o grau de autonomia, responsabilidade e independência dos membros da sua família e o que cada um pode fazer por si mesmo. Assim você vai ter clareza do que cada um espera e realmente precisa de você”, orienta a psicóloga da família. Por isso, é preciso perceber a necessidade de cada um, distribuindo a atenção dada de modo que não seja exagerada para um em detrimento do outro.

Além disso, Lelia explica que podem existir momentos que um dos membros da família, principalmente os filhos, sintam-se injustiçados, e sem prioridade, por alguma decisão tomada em prol da família, como a mudança de cidade devido a uma nova oportunidade de emprego de um dos pais. “Mas, embora sintam-se tolhidos por precisarem mudar de escola ou amigos, não compreendem pela imaturidade, e no futuro perceberão o quanto foram priorizados e ganharam pela decisão dos pais”.

E, ainda que se sintam injustiçados, a “satisfação momentânea, e às vezes superficial, dos filhos não pode ser um obstáculo para o casal tomar alguma decisão pelo bem da família”, que, de alguma forma, beneficiará a todos, seja em curto, médio ou longo prazo.

Cuidando do casamento

Além de serem corresponsáveis pela gestão de prioridades do lar e dos filhos, cada cônjuge deve ser o companheiro de jornada do outro, por isso “os casais precisam investir, de forma afetiva, diariamente no relacionamento”, destaca Carmen.

Para Lelia, o primeiro âmbito da família é o compromisso conjugal dos esposos, afinal “existe um homem e mulher antes da maternidade e paternidade”. Por isso, criar momentos para o casal é fundamental para fortalecer o amor conjugal, assim como para contribuir na educação dos filhos.

Até porque, um dos sucessos da educação e segurança afetiva das crianças é o amor entre o pai e a mãe como marido e mulher, recorda Lelia. “Nem sempre os filhos querem atenção para eles. Muitos preferem olhar os pais em um relacionamento amoroso e respeitoso, com um vínculo forte, sem medo que se desintegre, do que ter toda atenção voltada para si mesmo”.

Portanto, as especialistas indicam que os casais busquem hábitos que contribuam para a conservação e manutenção do casamento, da intimidade e conjugalidade, a fim de que cada um não se exceda nas funções paterna e materna. Confira:

  • Comecem o dia cumprimentando-se de maneira especial;
  • Tenham gestos carinhosos, com pequenas gentilezas;
  • Tratem-se com educação, respeitando as diferenças e aceitando as limitações;
  • Encorajem-se mutuamente, façam planos e dividam suas dúvidas (afinal dois pensam melhor do que um sozinho);
  • Criem o hábito de trocar elogios e dizer para o outro o quanto o admira e valoriza;
  • Criem planos para o futuro;
  • Tenham um jantar ou almoço fora de casa, pelo menos quinzenalmente;
  • Dediquem um final de semana no ano, no mínimo, para estarem sozinhos.
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