Paciência, apoio de familiares e autocuidado são essenciais para amenizar o cansaço e o sentimento de culpa durante o processo.
Paciência, apoio de familiares e autocuidado são essenciais para amenizar o cansaço e o sentimento de culpa durante o processo.| Foto: Bigstock

Acostumada a ver o marido Reinaldo Abud, de 56 anos, sempre saudável e confiante, a advogada Taisa de Freitas Abud levou um choque ao saber o resultado dos exames realizados pelo companheiro. “Ele começou a sentir alguns desconfortos, os sintomas pioraram, e acabou descobrindo um câncer no intestino”, relata a moradora de São Paulo, que acompanhou o desgaste físico e emocional do marido durante três anos de tratamento e sofreu com ele. “Era como se eu estivesse vivendo uma vida que não era a minha”.

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Segundo ela, o marido sempre foi o alicerce da casa e da família, mas ficou revoltado ao receber o diagnóstico de câncer, mudando completamente. “Ele se sentia triste, diminuído, com autoestima zero”, lamenta a esposa, ao relatar que Reinaldo enfrentou duas cirurgias e foi obrigado a trocar sua rotina no escritório de advocacia por idas e vindas frequentes ao hospital. “Eram sessões de quimioterapia, consultas, exames. Tentávamos de tudo para ajudá-lo a se animar, às vezes, em vão”.

De acordo com a psicóloga Denise Esper, essa mudança no temperamento do paciente ocorre devido ao momento de fragilidade e incerteza que ele está vivendo. “Ás vezes, o indivíduo altera seu comportamento de forma tão intensa, devido à angústia vivida, que nem o reconhecemos mais, parecendo outra pessoa”, afirma a especialista. Por isso, o cônjuge precisa ter paciência para encorajar seu companheiro a enfrentar a doença, mas sem usar um tom de conselho que possa irritá-lo, e sempre se colocando à disposição para ouvir o que tem a dizer. “Lembrando que alguns só vão falar sobre a doença, enquanto outros preferem negar”.

No caso de Taisa, seu marido desabafava, reclamava e era acolhido com carinho quando demonstrava tristeza. “Eu o deixava livre para colocar para fora tudo que o estivesse sufocando”, lembra a paulista, que contou com a ajuda da filha de 27 anos e com o apoio de diversos familiares e amigos para dar contar do trabalho, da casa e ainda acompanhar o marido durante o tratamento. “Não sei o que seria de mim se eles não estivessem comigo”.

Rede de apoio eficaz

Contar com esse suporte, segundo a psicóloga, é essencial para manter a saúde física e emocional nesse processo. No entanto, a estruturação da rede de apoio dependerá da realidade em cada família. “Alguns não conseguem ver a pessoa naquele estado e recorrem a cuidadores, outros precisam da ajuda de um enfermeiro ou podem contar com o auxílio dos filhos”, exemplifica a especialista, ao garantir que todos devem fazer o que estiver ao seu alcance para contribuir.

Dessa forma, a esposa ou marido do doente terá condições de olhar para a própria saúde durante o processo, algo necessário para conseguir cuidar de outra pessoa. “É preciso ter momentos para praticar atividade física, fazer meditação, manter contato com amigos e receber apoio psicológico, se sentir necessidade”, pontua a terapeuta, ressaltando que isso aliviará o sentimento de culpa, comum entre cônjuges que tentam acompanhar todas as consultas e exames, mas não conseguem.

E, para lidar com isso, é preciso perceber as próprias limitações e entender que o resultado do tratamento não dependerá disso. “No nosso caso, por exemplo, fizemos tudo o que podíamos para ajudar meu marido, tudo mesmo, ainda que eu sempre achasse pouco”, afirma Taisa, ao contar que o marido faleceu em dezembro de 2017. Então, “se você está passando por isso, faça o que seu coração mandar e tenha paciência e muito amor para ouvir seu cônjuge, pois nunca sabemos quanto tempo isso vai durar”, resume a advogada.

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