Como é gostoso sonhar, brincar, imaginar e viver no mundo do faz de conta. As crianças quando são apresentadas ao universo lúdico, se jogam por inteiro nas histórias, mágicas, personagens e se realizam em todos os sentidos nesse mundo. Porém, naturalmente na vida adulta não se tem espaço para isso – e, na maioria das vezes, também falta tempo. Por isso, para muitas pessoas o lúdico acaba ficando de lado, se tornando apenas uma memória de infância.
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Mas é preciso repensar a importância do lúdico na vida madura: estudos e pesquisas mostram que o lúdico tem um papel essencial nos casamentos e relacionamentos amorosos, e até mesmo os adultos precisam resgatar as brincadeiras, bom humor e as surpresas. Na vida a dois, isso pode trazer muitos benefícios.
Relacionamentos longevos
O Social and Personality Psychology Compass publicou um artigo sobre o tema, em que destaca que a brincadeira incentiva a experiência de emoções positivas e pode estar relacionada a potenciais processos biológicos – como a ativação de hormônios e certos circuitos cerebrais. Além disso, também influencia a forma como as pessoas se comunicam e interagem umas com as outras, por exemplo, ajudando a lidar com o estresse e resolvendo a tensão interpessoal. Tudo isso pode afetar a satisfação e a confiança do relacionamento, atingindo, em última análise, a longevidade dos relacionamentos.
"Nossa revisão de literatura e estudos de nosso laboratório mostram que ser brincalhão contribui para a vida amorosa da maioria das pessoas", disse a principal autora do artigo, Kay Brauer, MSc, da Martin Luther University Halle-Wittenberg, na Alemanha. “Comportamentos lúdicos, como surpreender o parceiro, recontar e reencenar experiências conjuntas ou formar novas experiências a dois, muitas vezes contribuem para a felicidade dos relacionamentos”.
Para Grazielle Tagliamento, doutora em psicologia e professora do curso de psicologia da Universidade Positivo, tudo aquilo que destoa da rotina pode beneficiar o relacionamento, uma vez que, quando o casal começa a se acomodar e as ações e momentos ficam previsíveis, a relação pode ser prejudicada.
“Esse tema me lembra sempre a história de Mil e Uma Noites: a Sherazade sobreviveu, pois a cada noite contava uma história diferente. E os relacionamentos necessitam de realizações que saiam do usual, porque se o casal ficar sempre na rotina, fazendo as mesmas coisas, é provável que a relação comece a deixar de ser interessante. Por isso, o inovar e o lúdico trazem novas formas de conquistar a pessoa a cada dia”, explica, Grazielle.
Reciprocidade e equilíbrio
O psicólogo, mestre em educação e professor da Estácio Curitiba, Henrique Costa Brojato, alerta que é necessário tomar cuidado para que o lúdico não vire uma obrigação. “O lúdico precisa ser recíproco e ter um equilíbrio também. E, claro, favorecer ao casal, e não apenas algo que um goste e o outro não. Vale lembrar que não pode ser forçado e não deve ser a base da relação. Pois, se o relacionamento depender apenas disso, muito provavelmente não será duradouro”, analisa.
Brojato orienta que o diálogo no cotidiano é a chave para um relacionamento saudável utilizando as ferramentas do lúdico. “O casal precisa ter uma comunicação. Ambos precisam se conhecer e se reconhecer. Não se pode jogar para o outro a responsabilidade de nossas frustrações. O relacionamento não pode ser uma imposição, mas sim, um desejo. Quando conhecemos o outro e sabemos utilizar o lúdico, vira muito mais prazeroso”, sinaliza.
Grazielle Tagliamento também reforça que para ter um relacionamento duradouro é preciso autoconhecimento e diálogo, para se compreender, entender o parceiro e suas vontades. “A relação a dois é uma via de mão dupla, por isso, a comunicação é a base para qualquer casal. Quem busca uma relação saudável precisa entender que viver a dois é conquistar a mesma pessoa todos os dias. Hoje, muitas pessoas não querem conversar, não conseguem administrar o tempo e suas vontades próprias, e sair da rotina. O individualismo em um relacionamento precisa ser deixado de lado, lembrando sempre de colocar o olhar para o outro”, conta.