Problemas encontrados na intimidade do casal, como falta de desejo sexual, dor na penetração e dificuldade de chegar ao prazer prejudicam a relação e nem sempre possuem diagnóstico de disfunção sexual. "Mas basta que a situação cause qualquer tipo de sofrimento ligado à sexualidade da pessoa para que exija atenção", explica o psicólogo e sexólogo Marcos Roberto Alves de Carvalho.
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Segundo ele, esse sofrimento pode ser tão intenso que, muitas vezes, ultrapassa a vida íntima e prejudica até mesmo relacionamentos com amigos, familiares e colegas de trabalho. Afinal, "as mesmas pessoas que enfrentam dificuldades sexuais também devem corresponder às exigências e cobranças exteriores", destaca o especialista, ao afirmar que a situação precisa ser encarada e resolvida em conjunto pelo casal.
Para Carvalho, que é doutorando em sexologia clínica, esse auxílio mútuo é necessário porque o sexo costuma corresponder a 10% do relacionamento que possui intimidade conjugal, mas, quando problemas impedem essa relação, acaba se tornando 90% do vínculo. Então, "uma pessoa com disfunção erétil, por exemplo, pode viver uma crise no casamento pela parceira acreditar que não é mais desejada", aponta. "E, ao sentir-se rejeitada, pode ser que não consiga manter o relacionamento".
Além disso, a psicóloga especialista em sexualidade humana Jully Annye Gallo Lacerda explica que a dificuldade sexual pode agravar problemas de comunicação já existentes e gerar esquivo da relação íntima por um dos cônjuges como forma de evitar que o problema se repita. Assim, "se não há iniciativa e compreensão para superação de tais problemas, relacionamentos que poderiam ter um futuro promissor podem nem começar e casamentos de longos anos podem se romper".
O casal deve conversar sobre intimidade
E um fator comum entre casais que enfrentam problemas relacionados à intimidade é o sentimento de vergonha que acaba gerando dificuldade para falar do assunto. Por isso, independentemente da existência de um problema, Jully Annye incentiva os casais a criarem o hábito de dialogar sobre isso. Afinal, “assertividade sexual é saber conversar com o parceiro tanto sobre as dificuldades, como sobre suas preferências e situações sexuais positivas”, diz.
Uma sugestão, segundo o psicólogo Marcos Roberto, é começar com perguntas gerais a respeito de como o cônjuge tem visto o relacionamento. Então, a partir da resposta, será possível adicionar questões mais íntimas, como "existe alguma coisa na nossa vida sexual que te traz desconforto ou que poderia ser melhorada?", sugere Carvalho.
Vale ressaltar que, durante essa conversa, é preciso manter uma postura colaborativa, ouvindo a pessoa em dificuldade e entendendo que uma disfunção é um problema psicológico como qualquer outro, assim como depressão ou transtorno de ansiedade, e que necessita de tratamento. “Ninguém escolhe passar por isso", afirma o terapeuta, ao orientar que não se façam cobranças e que se mantenha a calma.
Apoio durante o tratamento
Também é importante incentivar o cônjuge a buscar ajuda, mas sem pressioná-lo, pois o tratamento depende da motivação pessoal. "Ou seja, não é possível obrigá-lo a isso, e muito menos tratar-se por ele", aponta a psicóloga Jully Annye. “O essencial é compreender que cada pessoa funciona de forma diferente e que a resolução não é instantânea, pois o tratamento é variável e demandará mudanças a nível individual e também do casal”, acrescenta.
Em alguns casos, o especialista pode até indicar que o tratamento seja realizado com o cônjuge, que será essencial para motivar o parceiro e ajudá-lo na realização de técnicas propostas pelo especialista. No entanto, o sexólogo explica que isso só ocorrerá se marido e mulher estiverem de acordo. “Tem que ser algo voluntário, em prol do tratamento e do relacionamento", afirma. "Então, é importante dar tempo para a pessoa pensar, e respeitar a decisão tomada”.
Caso as sessões sejam individuais, o cônjuge deve deixar o companheiro à vontade para responder, ou não, as perguntas referentes ao tratamento, pois dificuldades nessa área costumam ferir muito. Além disso, o parceiro deve evitar demonstrações de raiva após a dificuldade sexual, pois isso colabora para a manutenção da disfunção.
Porém, se essas demosntrações de insatisfação se tornarem frequentes e o cônjuge não souber lidar com o problema do parceiro, Jully Annye e Carvalho orientam que ele também busque ajuda profissional para lidar melhor com a questão e não prejudicar o tratamento.