O papa Francisco resolveu enfrentar uma difícil situação que se desenrola desde 2012 na Diocese de Ahiara, na Nigéria. Nomeado pelo então papa Bento XVI, o bispo Peter Ebere Okpaleke está há quase cinco anos impedido de assumir o pastoreio da diocese pelo clero e por parte do laicado local. Eles alegam que a nomeação de um bispo que vem de fora da diocese é inaceitável – Okpaleke é da etnia Ibo, enquanto a maioria da população local é da etnia Mbaise.
Na ocasião da nomeação de Okpaleke, mais de quatrocentos padres e leigos realizaram um protesto em Ahiara, trancando as portas da catedral e exigindo que o papa nomeasse um clérigo local para o posto. Vários membros do povo Mbaise sentem que sua etnia é rejeitada, porque são o maior celeiro de vocações presbiterais da Nigéria, mas isso não se reflete na escolha dos bispos do país.
O padre Augustine Ekechukwu, presidente da Associação dos Padres Católicos do Povo Mbaise, diz que a nomeação de Okpaleke é uma “conspiração injusta e maliciosa”. Já o padre David Iheanacho diz que a posse do bispo é inaceitável, devido ao processo que culminou com a sua nomeação. Festus Nguma, ex-presidente do Conselho Diocesano, diz que o laicado da diocese apoia os padres.
Para tentar resolver a situação, Francisco recebeu na última sexta-feira (08/06) uma delegação representando a diocese. O grupo era composto pelo próprio Okpaleke, pelo cardeal John Olorunfemi Onaiyekan, arcebispo de Abuja e administrador apostólico de Ahiara, pelos arcebispos Anthony John Valentine Obinna, de Owerri, e Ignatius Ayau Kaigama, de Jos, por um líder ancião local e por três padres e uma freira.
Durante a audiência, o papa foi claro: o clero deve aceitar a nomeação realizada pelo papa Bento. As orientações de Francisco foram publicadas inicialmente pelo arcebispo Kaigama, que é presidente da conferência episcopal do país, em seu blog, e em seguida pela Sala de Imprensa da Santa Sé.
“A Igreja [em Ahiara], de fato – e me desculpo pela palavra – está como que viúva por ter impedido o bispo de aí estar. Veio-me muitas vezes à mente a parábola dos vinhateiros assassinos, de que fala o Evangelho (cf. Mt 21, 33-44), que querem se apropriar da herança. Nessa situação, a Diocese de Ahiara está como que sem esposo, perdeu a sua fecundidade e não pode dar fruto”, disse o papa.
“Quem se opôs à tomada de posse do bispo Okpaleke quer destruir a Igreja. Isso não é permitido. Talvez não se perceba, mas a Igreja está sofrendo e nela o Povo de Deus. O papa não pode estar indiferente”, continuou Francisco. “Conheço muito bem os acontecimentos que há anos se arrastam na diocese e agradeço a postura de grande paciência do bispo – de santa paciência”.
“Ouvi e refleti muito – também sobre a ideia de suprimir a diocese. Mas depois pensei que a Igreja é mãe e não pode deixar tantos filhos, como vocês. Tenho muita dor por esses sacerdotes que estão sendo manipulados, talvez mesmo desde fora da diocese e do exterior. Acho que não se trata de um caso de tribalismo, mas de apropriação da vinha do Senhor”, afirmou.
“A Igreja é mãe e quem a ofende comete um pecado mortal – é grave. Por isso decidi não suprimir a diocese. Porém, desejo dar algumas orientações a todos. Antes de tudo, fique claro que o papa está profundamente triste. Por isso, peço que cada sacerdote ou clérigo incardinado na Diocese de Ahiara, seja ali residente, seja os que trabalham em outro lugar – mesmo no exterior –, escreva uma carta endereçada a mim na qual peça perdão. Todos devem escrever, um por um, pessoalmente. Todos devemos ter esta dor comum”, pediu o papa.
“Na carta, 1) deve-se manifestar claramente total obediência ao papa; 2) quem escreve deve estar disposto a aceitar o bispo que o papa envia e o bispo nomeado; 3) a carta deve ser enviada dentro de 30 dias, a partir de hoje até dia 9 de julho. Quem não fizer isso, será automaticamente suspenso a divinis e retirado de seu ofício”, alertou Francisco.
“Isso parece muito duro, mas por que o papa faz isso? Porque o Povo de Deus está escandalizado. Jesus recorda que quem escandaliza deve arcar com as consequências. Talvez alguém tenha sido manipulado sem plena consciência da ferida infligida à comunhão eclesial”, concluiu o papa.
Agora, grupos contrários a Okpaleke estão fazendo uma campanha na diocese dizendo que o comunicado de Francisco é uma notícia falsa. Resta esperar mais algumas semanas para ver como se resolve essa dolorosa situação de divisão na diocese.